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EUA planejam investigar influência da China no agronegócio brasileiro

Projeto de lei de inteligência americana propõe relatório sobre investimentos chineses no setor agrícola do Brasil; menção ao país é inédita em propostas desse tipo


Publicado em: 04/08/2025 às 11:45hs

EUA planejam investigar influência da China no agronegócio brasileiro
Brasil entra no radar da inteligência dos EUA

O Congresso dos Estados Unidos incluiu o Brasil, pela primeira vez, em um projeto de lei voltado ao orçamento de ações de inteligência. A proposta, chamada Intelligence Authorization Act, prevê a produção de um relatório detalhado sobre o interesse da China no agronegócio brasileiro. A medida integra o projeto orçamentário para o ano fiscal de 2026, que se inicia em 1º de outubro de 2025.

Foco nos investimentos agrícolas chineses no Brasil

O projeto, com 280 páginas, foi aprovado pela Comissão de Inteligência do Senado norte-americano em 15 de julho. A legislação propõe que a diretora nacional de inteligência, Tulsi Gabbard, elabore, em até 90 dias após a sanção presidencial, um relatório sobre os investimentos da China no setor agrícola brasileiro. O trabalho deverá ser feito em conjunto com o secretário de Estado, Marco Rubio, e a secretária de Agricultura, Brooke Rollins.

Análise inclui atuação direta de Xi Jinping

Entre os pontos a serem analisados estão o nível de envolvimento do presidente Xi Jinping — ou ações realizadas sob sua ordem — com autoridades brasileiras, com ênfase no setor agropecuário. O relatório também avaliará o número de empresas chinesas ou de capital chinês que atuam no agronegócio brasileiro, incluindo parcerias com empresas locais.

Impactos estratégicos e geopolíticos no setor agrícola

O documento deverá detalhar os impactos que esses investimentos chineses podem ter sobre a cadeia global de suprimentos, o mercado internacional e a segurança alimentar. Dados sobre infraestrutura, produção de energia e terras agrícolas no Brasil também farão parte da análise, que poderá conter anexos confidenciais.

Tramitação e contexto político

O relator do projeto é o senador republicano Tom Cotton, conhecido crítico da China e autor do livro "Seven Things You Can’t Say About China". A proposta segue agora para votação no plenário do Senado e, depois, para a Câmara dos Representantes, antes de ser enviada ao presidente Donald Trump para sanção. A expectativa é que o trâmite não ultrapasse dois meses, já que a lei precisa estar em vigor até o início do novo ano fiscal.

Reações e tensões diplomáticas

Até o fechamento desta edição, não houve manifestações da assessoria de Tom Cotton, da embaixada chinesa no Brasil ou do Itamaraty. A investigação sobre o agronegócio brasileiro surge no mesmo período em que os EUA anunciaram tarifas de 50% sobre produtos do Brasil — inclusive agrícolas — em resposta a fatores políticos e comerciais.

Tarifas de Trump e pressões internas

Donald Trump associou as novas tarifas ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à atuação das redes sociais brasileiras, acusando o país de censura. A medida provocou reação de 11 senadores democratas, que enviaram uma carta no dia 25 de julho classificando a taxação como “abuso de poder”.

Ineditismo da menção ao Brasil

O Brasil é citado dez vezes no projeto de lei, algo inédito em propostas desse tipo, de acordo com levantamento do jornal Valor Econômico. Em comparação, a China aparece 77 vezes, a Rússia 28, o Irã 19, a Coreia do Norte 6, Cuba 6 e a Venezuela apenas uma. Potências como Japão, Reino Unido, Alemanha, França, Canadá e Austrália não são mencionadas.

Aparição do Brasil sob novo governo

A inclusão do Brasil pode estar relacionada à nova gestão de Trump, que assumiu em 20 de janeiro de 2025. O relatório mais recente do Comitê de Inteligência do Senado (cobrindo 2023 a 2025) não mencionava o país ou o agronegócio nacional, indicando que a decisão de investigar o tema é recente.

Histórico de espionagem

Embora nunca tenha sido citado em projetos de lei desse tipo, o Brasil já foi alvo de ações de espionagem, como revelado pelo Wikileaks em 2013. Na ocasião, a então presidente Dilma Rousseff e a Petrobras foram alvos de monitoramento por agências americanas.

A proposta de investigar os vínculos da China com o agronegócio brasileiro reforça o cenário de tensões geopolíticas e comerciais, colocando o Brasil no centro das preocupações estratégicas entre as duas maiores economias do planeta.

Fonte: Portal do Agronegócio

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