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EUA: Fed inicia nova etapa e pode preparar ajustes

Uma nova fase para a condução da política monetária pelo Federal Reserve deve começar com a reunião do Fomc (comitê de política monetária do BC americano) desta semana


Publicado em: 18/03/2014 às 09:50hs

EUA: Fed inicia nova etapa e pode preparar ajustes

Além de ser a primeira conduzida por Janet Yellen, que estreará também na conferência trimestral de imprensa, pode trazer ajustes importantes para a estratégia de saída da política acomodatícia e não convencional que dura cinco anos.

Alvo - Com a redução do nível das compras de ativos (Treasuries e MBS) em curso, a perspectiva de normalização dos juros passa (e passará cada vez mais) a ser o alvo do mercado. Evidentemente, uma elevação das taxas ocorrerá quando a economia estiver em velocidade adequada de crescimento.

Questão - A questão que se impõe é como o Fed calibrará os sinais que envia aos agentes quanto ao seu diagnóstico do estado da economia, ancorando as expectativas.

Eficácia - O "forward guidance" (orientação futura) adotado pelo banco central americano perdeu a eficácia, uma vez que a taxa de desemprego se aproxima do "parâmetro" de 6,5% (hoje está em 6,7%). Ademais, a inflação continua bem abaixo da meta de 2%. Esse instrumento inovador foi projetado para ter uma sobrevida maior, mas eventos como a queda na taxa de participação (ou força de trabalho) decorrente de fatores estruturais e não estruturais derrubaram o desemprego rapidamente sem que a economia estivesse inequivocadamente aquecida. Não dá mais para manter essa estratégia, portanto.

Opções - O que o Fed pode fazer? Há um cardápio de opções aventadas por analistas que observam o BC, mas um ponto chama muito a atenção de um mês para cá.

Inglaterra - O Banco da Inglaterra, que adotou parâmetros similares ao Fed (juros inalterados enquanto o desemprego estiver acima de 7% e a inflação abaixo de 2,5%), teve de abandonar o barco por razões parecidas (queda mais rápida que o esperado do nível de desemprego) e anunciou um olhar mais amplo, qualitativo, da "folga da economia". Em outras palavras, um conjunto de variáveis vai medir o chamado "hiato do produto" (algo nada trivial de se mensurar) - uma estimativa da diferença entre a produção real e a produção potencial.

Abaixo do potencial- Segundo o BC britânico, a economia britânica estaria 1,5 ponto percentual abaixo do potencial e o tempo estimado para que este hiato feche é de dois a três anos. As estimativas do banco central serão regularmente divulgadas no relatório de inflação.

BCE - Também o Banco Central Europeu (BCE) apontou para essa direção, na reunião de março. O "guidance" do BCE não é quantitativo, apenas há o compromisso temporal: as taxas serão mantidas por um horizonte considerável de tempo. Mas Mario Draghi, presidente da instituição, citou a folga (ou hiato) na economia como forma de reforçar a ancoragem dos juros em níveis baixíssimos, de forma a continuar estimulando a atividade. Segundo cálculos do Fundo Monetário Internacional (Draghi não deu estimativa para esse número), o hiato na zona do euro é de 2,5 pontos percentuais.

Postura semelhante- O Fed pode adotar postura semelhante? Segundo opinião de Steven Barrow, chefe de estratégia do G-10 no Standard Bank, "o Fed é tradicionalmente favorável a políticas atreladas a regras macroeconômicas que incorporam o hiato do produto, como a regra de Taylor". Mas ele não acha provável que queira "seguir outros bancos centrais, como BCE e BoE, apenas por uma questão de coordenar a orientação da taxa", mesmo que "em alguns aspectos fosse útil para o mercado". As apostas estão abertas.