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EUA: Fed deve reduzir estímulo apenas em março

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) encerra nesta quarta-feira (18/12) a sua reunião de política monetária, que será, também, a última em que haverá coletiva de imprensa com a presença do seu atual presidente, Ben Bernanke


Publicado em: 18/12/2013 às 20:40hs

EUA: Fed deve reduzir estímulo apenas em março

As opções do BC americano são várias para este encontro, mas parte significativa do mercado segue acreditando que a retirada gradual de estímulos monetários, com a redução da compra de ativos pelo Fed, virá em 2014, com mais probabilidade no mês de março. Mudanças nos parâmetros de desemprego e inflação podem também ser anunciadas, ou até uma redução das taxas de juros pagas sobre as reservas bancárias em excesso. Os olhos estarão voltados ainda para a atualização das projeções econômicas do Fed.

Pesquisa - O Valor pesquisou 19 instituições financeiras estrangeiras sobre as decisões que podem ou não ser tomadas hoje. São elas: BNP Paribas, Commerzbank, J.P. Morgan, BlackRock, Nordea, Deutsche Bank, Jefferies, ARX (BNY Mellon), Capital Economics, Strategas, Standard Chartered, Mizuho, Barclays, HSBC, BofA, UBS, Credit Suisse, Goldman e Nomura.

Março - Para nove casas, ou 47%, o Fed reduzirá o programa de compra de ativos de US$ 85 bilhões ao mês apenas em março. Oito instituições se dividem na expectativa de que a retirada dos estímulos comece em dezembro ou em janeiro (quatro em cada mês, ou 21%). Para outras duas casas, é iminente: pode vir a qualquer momento.

Redução imediata - O percentual de entrevistados que vê uma ação do Fed nesta semana é bastante parecido com pesquisas feitas por veículos internacionais, como The Wall Street Journal, em que apenas 11 de 43 economistas entrevistados (25%) disseram esperar que o BC americano reduza suas compras já.

Questionamento - O Valor perguntou aos economistas quanto o bom resultado do mercado de trabalho em novembro, do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre e o cenário fiscal pesaram em suas expectativas. Para a maioria, estes não foram motivos de mudança de tendência, embora reforcem a proximidade da saída do Fed da política acomodatícia. Significa que quem esperava um movimento em março mantém seus argumentos. O mesmo vale para dezembro e janeiro. Esse cenário faz sentido quando comparado à pesquisa Valor feita em outubro. Naquela ocasião, 23% das casas apontavam dezembro como o momento mais provável para uma ação.

Mercado de trabalho - Sobre o mercado de trabalho, é quase unânime a visão de que uma melhora consistente está em curso, especialmente quando se olha o nível de 7% da taxa de desemprego (era 7,8% há um ano). Mas as idas e vindas de Bernanke em sua avaliação do estado atual do mercado levantam dúvidas sobre o nível de conforto com este número, especialmente porque boa parte da redução do desemprego se deu em razão da queda da força de trabalho, o dito "desalento".

 PIB - Sobre o PIB, o efeito "estoques", que acrescentou 1,7 ponto percentual à taxa de crescimento de 3,6%, tirou o brilho do resultado, já que haverá devolução deste efeito no trimestre seguinte.

Questão fiscal - A questão fiscal, por seu turno, não era considerada um fator de risco da mesma magnitude do ocorrido em setembro e outubro. Isso porque há uma visão geral de que as eleições legislativas previstas para novembro nos EUA contêm os embates extremados no Congresso, ainda que a questão do teto da dívida possa causar ruídos.

Preocupação - Como fonte geral de preocupação está o nível baixíssimo da inflação, em torno de 1% pelo indicador de despesas de consumo pessoal PCE, medida preferida do Fed.

Expectativa - Laura Rosner, do BNP de Nova York, mantém a expectativa de retirada dos estímulos em março. "As chances de vir em dezembro são baixas, em torno de 10%, mas aumentamos a probabilidade de janeiro de 15% para 20% por conta dos dados mais fortes", diz. "Bernanke indicou que a decisão de iniciar a retirada de estímulos depende de três fatores: crescimento, mercado de trabalho e inflação. A economia passou pelo teste do emprego, mas está lutando para passar nas outras duas partes da prova", afirma ela.

Janeiro - Para Michel Feroli, economista-chefe do J.P. Morgan em Nova York, que espera a redução do programa em janeiro, há pouca evidência de uma expansão exagerada da economia, os níveis de investimentos ainda são baixos e as pressões de custos são praticamente inexistentes. Feroli, assim como o analista-chefe do Nordea, Johnny Jakobsen, aposta em redução pequena das compras em janeiro, em torno de US$ 10 bilhões, em Treasuries (títulos do Tesouro dos EUA).

Ação nesta semana - Carl Riccadona, do Deutsche Bank, mantém sua expectativa de ação do Fed nesta semana, que foi reforçada pelos dados do PIB e do mercado de trabalho. Para ele, as questões fiscais "tendem a ser não-eventos" neste ano.

Reação do mercado - E como os mercados reagirão à redução dos estímulos? Para Rick Rieder, diretor de renda fixa da BlackRock, o mercado de bônus passa por profundas transformações e isso pode ser chamado de "mudança de regime". "Participantes do mercado de bônus estão mudando a ideia de que o Fed manterá baixas as taxas de juros de longo prazo, por meio do programa de compra de ativos, por um período considerável para a ideia de que haverá, de fato, um fim para a política acomodatícia", diz. Para o executivo, "a expectativa é de alta volatilidade no mercado de bônus".

Medida - Para conter uma reação exacerbada do mercado e "disciplinar" as expectativas quanto ao primeiro movimento de alta de juros, boa parte das casas vê como possível que o parâmetro de desemprego seja reduzido do atual nível de 6,5% e que um piso seja estabelecido para a inflação (algo como 1,5% ou 1,75%), abaixo do qual nada seria feito em termos de política monetária. O baixo nível da inflação atual pode, realmente, ser o fator que mais pesaria agora em uma postergação da retirada dos estímulos, segundo os analistas.