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Economia dos EUA deve ter peso menor na recuperação global

Há não muito tempo, antes do estouro da crise financeira e da recessão mundial, os economistas se referiam aos americanos como os consumidores de última instância.


Publicado em: 05/12/2013 às 13:10hs

Economia dos EUA deve ter peso menor na recuperação global

 Quando os EUA cresciam com vigor, seus cidadãos eram compradores, alimentando a demanda por bens de consumo que a China e outras nações produziam. Eles mantinham a economia mundial em funcionamento.

Funcionamento - Mas a coisa pode não estar mais funcionando desse jeito. A recuperação dos EUA está fornecendo menos suporte ao crescimento global do que no passado. A demanda e a produção internas são hoje condutores mais importantes da maior economia do mundo do que eram há uma década.

Déficit - O menor déficit em conta corrente dos EUA em uma década corrobora essa tendência, e a descoberta de novas fontes internas de petróleo e gás reforça isso. A exploração e a produção estão contribuindo para o crescimento e o país está gastando menos com a importação de energia. Combustíveis e matérias-primas mais baratos também estão estimulando o setor manufatureiro, tornando os EUA mais um concorrente das nações emergentes e menos um consumidor confiável de seus produtos.

Zero - "O crescimento global está lentamente se tornando um jogo de soma zero", diz Manoj Pradhan, economista do Morgan Stanley em Londres para mercados emergentes e ex-funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI). "O crescimento dos EUA não está voltando ao modelo pré-crise, que estimulava todo mundo."

Alta - Uma alta de 1 ponto percentual no crescimento dos EUA geralmente estimulava a expansão em outras partes do mundo em 0,4 ponto porcentual, segundo afirma Gustavo Reis, economista internacional sênior do Bank of America Merrill Lynch. Agora, calcula ele, o benefício para os outros países está em 0,3 ponto porcentual, agregando US$ 48 bilhões para o restante da economia mundial, em vez de US$ 64 bilhões. "Uma economia americana mais forte é uma parte importante de nossa expectativa para um crescimento global mais saudável, mas o benefício para o resto do mundo provavelmente será menor que no passado recente", afirma Reis.

Previsões - Os EUA deverão crescer 2,6% em 2014 e 3% em 2015, segundo a mediana das previsões de economistas consultados pela Bloomberg, em comparação a uma expansão estimada para 2013 de 1,7%. Se isso não inflamar o crescimento em outras partes do mundo, os investidores provavelmente vão preferir o dólar e as ações de nações ricas, em detrimento das moedas e ativos dos mercados emergentes.

Dados comerciais - Dados comerciais ajudam a explicar a mudança que está restringindo o efeito da recuperação americana sobre o crescimento global. As importações de produtos e serviços não relacionados ao petróleo pelos EUA subiram para cerca de 12% do PIB em 2000, de cerca de 7% em 1994, e atingiram o pico de 14% em 2007, segundo Steven Englander, diretor de estratégia cambial do Citigroup para os países do G-10. As importações permanecem estacionadas enquanto parcela do PIB desde então, um sinal de que qualquer reação localizada terá pouca influência internacionalmente.

Déficit em conta corrente - O déficit em conta corrente dos EUA, que reflete o excesso de importações sobre as exportações, diminuiu. Ele ficou em 2,5% do PIB no segundo trimestre, em comparação a quase 6% no terceiro trimestre de 2006.

A última vez em que ele esteve tão baixo como agora foi em 1999, quando os EUA estavam no meio de uma tendência de 

Empresas manufatureiras - O consumo que beneficiou as empresas manufatureiras estrangeiras há uma década é hoje um componente menos importante do crescimento dos EUA, segundo Reis, do Bank of America. O consumo vai aumentar 2,2% em 2014, ante um ganho de 1,8% previsto para 2013, mas ele prevê que o condutor será um crescimento de 18% nos investimentos imobiliários. Tais gastos ficam principalmente em casa, com pouca transmissão para fora do país.

Parcela menor - Outro motivo pelo qual a expansão dos EUA não deverá estimular tanto o crescimento global é simplesmente o fato de o país representar hoje uma parcela menor da economia global. Os americanos responderam por 22% do PIB mundial em 2013, percentagem que em 2000 foi de 31%, segundo dados do FMI. A participação da China triplicou no mesmo período, para 12% da atividade global.

Balança comercial - Os EUA poderão melhorar sua balança comercial em mais de US$ 164 bilhões ao ano até 2020, por causa da menor necessidade de importação de energia e da crescente vantagem competitiva para os setores locais que dependem muito da energia, afirma a empresa de pesquisas IHS de Lexington, Massachusetts. Isso corresponde a cerca de um terço do atual déficit em conta corrente.

Emergentes - A boa notícia para a economia americana não é uma notícia completamente ruim para os mercados emergentes, segundo afirma Christof Ruehl, economista-chefe da BP, a segunda maior companhia de petróleo da Europa. Ele acredita que as tendências em relação aos setores de energia e industrial proporcionarão uma melhora significativa para a conta corrente dos EUA e corrigirão alguns dos desequilíbrios globais, algo que os economistas consideram de vital importância. "Isso terá um efeito enorme sobre o balanço de pagamentos em favor dos EUA e contribuirá para o rebalanceamento da economia mundial", afirma Ruehl.

Empurrão - Os EUA deram um empurrão no crescimento da economia mundial em todas as recuperações de crises dos últimos 40 anos, segundo Stephen L. Jen e Fatih Yilmaz da SLJ Macro Partners, uma administradora de fundos de hedge de Londres. Em 1999, por exemplo, os EUA responderam por 48% do crescimento da economia mundial após a crise da Ásia, segundo dado compilado pela Bloomberg.

 

Fonte: Bloomberg

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