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Crise em Washington deve estender estímulo à economia

Mas estão trazendo clareza para pelo menos uma área: é mais provável que o Federal Reserve, o Banco Central americano, continue pisando no acelerador de estímulo monetário por mais tempo para compensar alguns dos danos do impasse


Publicado em: 14/10/2013 às 14:00hs

Crise em Washington deve estender estímulo à economia

Duas semanas após o início da paralisação parcial, algumas consequências já ficaram claras.

O crescimento econômico do país será pelo menos um pouco mais lento do que o previsto antes. As empresas e os consumidores estão menos confiantes sobre o curso da economia no curto prazo. E os indicadores econômicos oficiais mais observados, dados divulgados pelo governo que foram suspensos por causa da paralisação, provavelmente não fornecerão leituras confiáveis durante meses.

Isso é um golpe significativo, embora ainda administrável, à sitiada recuperação dos EUA.

Uma batalha final mais dura e ainda sem solução para a elevação do teto da dívida, ou uma paralisação do governo prolongada, poderia causar danos piores.

Os últimos acontecimentos em Washington fazem parecer que as autoridades do Fed tiveram poder de clarividência em sua decisão no mês passado de manter inalterado o programa de compra de títulos de dívida, apesar das expectativas generalizadas de que o Banco Central começasse a reduzir as compras, atualmente em US$ 85 bilhões por mês.

Muitas autoridades do Fed tenderam a ser demasiadamente otimistas nos últimos anos, à espera de uma recuperação econômica mais forte do que o país acabou registrando.

Desta vez, elas não se deixaram enganar. As autoridades do Fed citaram "os riscos consideráveis em torno da política fiscal" como uma razão para deixar inalterado seu programa de afrouxamento quantitativo, segundo a ata da reunião de setembro do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), divulgada na semana passada.

A incerteza sobre a economia tem levado analistas do setor privado a revisar suas próprias expectativas de uma mudança na política do Fed.

Na última pesquisa do The Wall Street Journal com economistas, nenhum dos 46 entrevistados esperava que o banco começasse a reduzir suas compras de títulos de dívida em outubro. Na pesquisa do mês anterior, dois terços esperavam pelo menos alguma redução em setembro ou outubro.

Na última pesquisa, realizada este mês, depois que a paralisação parcial do governo começou, 37 dos 46 economistas entrevistados disseram que agora esperam que um recuo do Fed no programa de compra de títulos de dívida comece em dezembro ou janeiro.

Mas muitos economistas reconheceram que isso é apenas um palpite num cenário em que a paralisação do governo e a batalha sobre o limite de endividamento estão sem solução. "Nem mesmo o FOMC sabe quando a redução gradual começará", disse o economista-chefe do Credit Suisse, Neal Soss, que prevê agora uma redução em janeiro.

A realidade do calendário torna plausível a possibilidade de um recuo pelo Fed ainda mais tarde, talvez em quatro ou cinco meses.

Quando o governo finalmente reabrir, não está claro se ele será capaz de produzir dados econômicos que cubram o mês de outubro. Mesmo se isso acontecer, a volatilidade econômica provocada pela paralisação provavelmente vai afetar a qualidade dos relatórios que abrangem outubro, novembro e dezembro, já que esse período terá que incluir eventos econômicos negativos que refletem especificamente o fechamento parcial do governo.

Na reunião do fim de janeiro, o Fed poderia ter de decidir se vai reduzir seu programa de estímulo poucos dias antes que um novo líder do Banco Central seja empossado, em 1° de fevereiro.

O presidente Barack Obama nomeou na semana passada a vice-presidente do Fed, Janet Yellen, como sucessora do atual presidente, Ben Bernanke.

"Março me parece ser a primeira data de grande probabilidade" de o Fed começar a reduzir suas compras de títulos de dívida, previu o economista-chefe da Pierpont Securities, Stephen Stanley. "Todas as peripécias que estamos vendo no lado político podem muito bem adiar [a decisão] ainda mais", disse.

Se a recuperação estará forte o suficiente para que o Fed sinta que pode recuar daqui cinco ou seis meses é outra questão. A economia parece ter se segurando em setembro, antes das luzes se apagarem em 1º de outubro nos departamentos de Trabalho e do Comércio, que compilam muitas das estatísticas econômicas do governo mais monitoradas.

O setor privado tem enviado alguns sinais de alerta.

Um indicador diário do Gallup da confiança do consumidor caiu ontem para o nível mais baixo desde a paralisação. E executivos de empresas têm dito que se sentem menos propensos a contratar e investir enquanto os políticos debatem se uma moratória dos EUA seria algo meramente ruim ou um desastre para a economia americana.

Fonte: The Wall Street Journal

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