Internacional

China fortalece resiliência comercial com diversificação de importações agrícolas

Estratégia de diversificação reduz dependência dos EUA e prepara país para tensões comerciais


Publicado em: 01/11/2024 às 10:55hs

China fortalece resiliência comercial com diversificação de importações agrícolas

Desde 2018, a China vem reestruturando suas importações agrícolas com o objetivo de diminuir a dependência dos Estados Unidos. Esta mudança estratégica coloca o país em uma posição mais segura para adotar tarifas retaliatórias sem comprometer a segurança alimentar, caso surjam novos atritos comerciais com Washington após as próximas eleições presidenciais norte-americanas.

Diante da possibilidade de uma guerra comercial, a China — maior importadora mundial de produtos agrícolas como soja e milho — busca alternativas. Em meio à corrida eleitoral, o candidato republicano Donald Trump propõe uma tarifa de 60% sobre produtos chineses para favorecer a indústria nacional, enquanto a candidata democrata Kamala Harris também sinaliza uma postura firme nas negociações comerciais com o país asiático.

Redução da Dependência dos EUA

Desde o governo Trump, a China tem reduzido a dependência de produtos agrícolas norte-americanos como parte de uma estratégia de segurança nacional e autossuficiência alimentar. Em 2018, Pequim impôs tarifas de 25% sobre importações de soja, carne bovina, carne suína, trigo, milho e sorgo dos EUA, uma resposta aos impostos aplicados por Trump sobre US$ 300 bilhões em produtos chineses.

Essa medida reformulou o fluxo do comércio agrícola mundial. Embora em 2020 um pacto tenha sido assinado para aumentar as compras chinesas de produtos agrícolas norte-americanos, a China optou por ampliar suas aquisições de grãos do Brasil, Argentina, Ucrânia e Austrália, além de fortalecer a produção interna. Segundo o analista Even Pay, da Trivium China, Pequim sente-se mais segura com a menor influência dos EUA sobre sua segurança alimentar, caso um grande conflito comercial ocorra.

Em 2023, o Brasil ultrapassou os EUA como principal fornecedor de milho para a China, consolidando a posição dos países sul-americanos na cadeia de suprimentos chinesa. Enquanto isso, empresas chinesas reduziram o uso de farelo de soja em rações animais, e o governo aprovou variedades geneticamente modificadas de soja e milho para aumentar a produção interna.

Movimentação de Estoque Antecipada

Prevendo possíveis tensões comerciais, importadores chineses aumentaram suas compras de soja e milho dos EUA. As importações de soja cresceram 8% nos primeiros nove meses do ano, enquanto a compra de cevada e sorgo aumentou significativamente. Segundo um trader baseado em Cingapura, essa medida garantiu que a China estivesse bem abastecida, dando ao país tempo para redirecionar suas aquisições em caso de conflito.

Os preços da soja nos EUA estão em alta devido à demanda chinesa, com exportadores correndo para escoar a produção antes da eleição. Em caso de escalada, Pequim poderia retaliar com tarifas agrícolas, buscando equilibrar o impacto econômico e político, observa o economista agrícola Wendong Zhang, da Universidade de Cornell.

Vulnerabilidade para Agricultores Norte-Americanos

Enquanto Trump e Harris competem nas eleições, pesquisas mostram os dois empatados. Trump lidera em estados agrícolas, apesar dos impactos da última guerra comercial sobre os produtores, que resultou em indenizações de cerca de US$ 23 bilhões. Atualmente, metade da soja dos EUA é exportada para a China, com um volume de US$ 15,2 bilhões.

Contudo, os agricultores norte-americanos enfrentam preocupações com o baixo preço da soja e do milho, influenciado pela oferta global. "Se impusermos mais tarifas, a situação se agravará", diz o produtor Mark Tuttle, de Illinois, alertando para o aumento da produção sul-americana de soja.

Essa reestruturação comercial evidencia o esforço da China em reduzir a vulnerabilidade frente às tensões comerciais com os EUA, consolidando o país como um mercado diversificado e resiliente diante das incertezas globais.

Fonte: Portal do Agronegócio

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