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Brasil volta a cair em ranking de competitividade

O Brasil tem um dos Estados mais ineficientes, a segunda pior burocracia e apenas cresceu nos últimos anos à base do crédito e do boom de com-modities. Agora, a falta de competitividade pode se tornar um "severo" problema para o crescimento da economia e só uma ampla reforma poderá tirar o País da crise


Publicado em: 03/09/2014 às 19:50hs

Brasil volta a cair em ranking de competitividade

O alerta é do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). A organização já anun-ciouque,para seueventoem Da-vos, na Suíça, em janeiro de 2015, quer a presença do vencedor da eleição presidencial para explicar o que será feito para tirar o País da recessão. O Fórum ocorre três semanas depois da posse no Brasil, em janeiro, e seria o primeiro palco internacional de um novo presidente ou de um segundo mandato de Dil-ma Rousseff.

A queda da competitividade da economia brasileira no cenário mundial, segundo o Fórum, reflete o atraso na condução de reformas importantes. O Brasil caiu da 56a em 2013 para a 57.a colocação no Ranking Global de Competitividade 2014, que conta com uma compilação de 144 países. Entre os Brics (Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul), a economia brasileira está à frente apenas da indiana, 71.® colocada. A Suíça mais uma vez liderou o ranking. Em seguida vêm Cingapura, EUA, Finlândia e Alemanha. O único país da América do Sul à frente do Brasil é o Chile, no 33° lugar, e as últimas posições são ocupadas por Guiné, Chade e Iêmen.

Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral (FDC), instituição responsável pela coleta e análise dos dados do Brasil no levantamento, disse que a perda de uma posição não é significativa, mas alertou para o crítico movimento de perda de nove posições em dois anos.

"O ano de 2012 foi de crescimento da economia e oportunidades em relação à economia mundial, mas o Brasil não soube tirar vantagem dessa situação", observou. Para ele, aquele era o momento de o governo tentar resolver questões que remontam aos anos 1990, como levar adiante reformas dos sistemas tributário e trabalhista e simplificar o marco regulatório.

Arruda também afirmou que o Brasil precisa se comprometer com a elevação dos investi- mentos e melhora da infraestru-tura do País. Ele lembrou que muitas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por exemplo, estão fora do cronograma inicial.

Ineficiência. De acordo com o ranking do Fórum, apenas a Venezuela tem um peso da regulamentação estatal mais nefasta que no Brasil. Para Beflat Bilbao, economista sênior da entidade, o problema é que o governo nem sequer conseguiu fazer as reformas estruturais que prometeu. "O Brasil desperdiçou o período de vacas gordas e não fez as reformas estruturais. Agora, será ainda mais difícil."

Na avaliação de Bilbao, um dos maiores problemas no Brasil é a ineficiência das instituições públicas. No ranking, o País está na 135.® colocação entre 144 governos em termos de desvios de dinheiro. Em apenas quatro países a confiança aa população nos políticos é mais baixa que no Brasil e, dos 144 governos avaliados, o País está apenas na 137.3 posição no que se refere ao desperdício de recursos.

"Não vimos avanços no que se refere à eficiência do Estado", alertou Bilbao, sobre os últimos anos. "Isso é fundamental para que o governo tenha a capacidade de reformar a economia." Além da questãoda corrupção, o que pesa na avaliação do Fórum Econômico Mundial é o papel do Estado no funciona- mento do mercado nacional. Para ele, é necessário que o Brasil se abra. "Issogeraria uma maior concorrência interna."

"O grande destaque deste ano foi a não ação", disse Arruda, da Dom Cabral. Mesmo com avanços em determinadas áreas, um país perde posições no ranking se outros obtiverem uma nota maior. Ele lembrou que o Brasil adotou medidas para simplificar os tributos sobre a folha das empresas e tentou

reduzir a burocracia para abertura de negócios, mas países como Colômbia e México avançaram muito mais nesses tópicos.

A questão trabalhista foi o maior destaque negativo do Brasil, disse Arruda, lembrando que o tema teve avaliação crítica em vários indicadores. Em eficiência do mercado de trabalho, por exemplo, o Brasil caiu 40 posições desde 2012 (da 69a para a ic*9.a, a maior variação negativa entre os 12 temas.

Melhoras em saúde e educação

Entre os temas analisados pelo Fórum Econômico Mundial, os únicos a indicarem melhora nos dois últimos anos foram saúde e educação fundamental (de 88.° para77.° lugar) e educação superior e treinamento (da 66.a para a 41a posição). Segundo Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, a educação está mais inclusiva e os empresários estão percebendo melhora na qualificação da mão de obra, mas os dados mostram que o índice ainda é muito ruim.

O tema em que o Brasil está melhor é o tamanho do mercado, na nona colocação. O País tem o sexto maior mercado doméstico eo sétimo maior Produto Intemo Bruto (PI B), embora a taxa de exportação como proporção do PIB esteja entre as mais baixas, na 14o.3 posição.

Na outra ponta, a eficiência do mercado de produtos continua a ser o pior tema para a competitividade, com o Brasil em 123.0 lugar. Esse item leva em conta, entre outros problemas, a demora para a abertura de um negócio.

Arruda destacou a importância da questão tecnológica. O Brasil está em 58° lugar no tema de prontidão tecnológica, que avalia a Infraestrutura e as empresas na fronteira tecnológica global. Esse não é um desempenho ruim, disse, mas o resultado representou um recuo de dez posições em dois anos e os detalhes mostram uma posição tecnológica atrasada no País em áreas como tecnologia de ponta e banda larga.

Para Arruda, a perspectiva para o Brasil no ranking de competitividade de 2015 é negativa, independentemente do candidato que vencer as eleições presidenciais. Isso porque, ao que tudo indica, nenhum partido conseguirá governar com amplo apoio no Congresso para fazer as reformas necessárias.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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