Publicado em: 06/12/2018 às 18:00hs
A trégua no conflito comercial entre Estados Unidos e China é um sinal positivo, mas a estabilidade no comércio internacional depende de um resultado concreto após os 90 dias anunciados pelos dois países. Para o governo e analistas, uma solução definitiva é o melhor resultado para todos, inclusive para o Brasil - mesmo considerando a expansão da exportação brasileira à China que o conflito ajudou a proporcionar.
Elevação - A China elevou de 23,3% para 27,9% a fatia nas exportações totais brasileiras de janeiro a novembro do ano passado para igual período deste ano. O dado do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) inclui Hong Kong e Macau. As vendas à China aumentaram 31% no período, pela média diária, em ritmo maior que a alta de 9,4% da exportação total. A elevação das exportações rumo à China no decorrer de 2018 foi puxada pela soja. O grão é, de forma isolada, o produto mais embarcado pelo Brasil, com 14,4% das exportações totais de janeiro a novembro.
Superávit - Com o crescimento das exportações rumo à China, o superávit brasileiro na relação bilateral com o país avançou 33%, de US$ 20,93 bilhões para US$ 28 bilhões no acumulado até novembro de 2017 para igual período deste ano. Na mesma comparação, as importações brasileiras com origem na China subiram 29,2%, também em ritmo mais alto que a alta de 21,3% dos desembarques totais.
Sinal positivo - O secretário de Comércio Exterior, Abrão Miguel Árabe Neto, afirmou que a trégua é um sinal positivo de distensão que pode contribuir para reduzir a imprevisibilidade no comércio internacional. Para ele, porém, é preciso que o processo gere "resultados sólidos". "São sinais positivos de distensão do cenário que tem se chamado de guerra comercial. Claro que não há aqui um retorno ao estado anterior. Foi um congelamento no avanço da escalada de tensão. Mas só o congelamento é um sinal positivo", disse o secretário. "Há muitos capítulos nessas conversas bilaterais entre EUA e China e esperamos que elas produzam um cenário mais previsível, pois seria positivo para o crescimento do comércio e para a atuação do Brasil no mercado internacional."
Embates - "Esses embates no comércio internacional são, no agregado, mais prejudiciais do que positivos para o mundo como um todo e também para o Brasil", disse o secretário. No curto prazo, há ganhos, destaca o secretário, como no exemplo da soja.
Carne suína - "Também no caso da carne suína. Mas nem todo o crescimento geral está relacionado a esse fato isolado [tensão]. No agregado, esse cenário leva uma série de organismos internacionais a reduzir perspectivas de crescimento e comércio."
Análise semelhante - José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), tem análise semelhante. Para ele, a trégua é sem dúvida é uma boa notícia e representa um alívio. Mas, segundo ele, já se contabiliza de antemão uma desaceleração no mercado internacional no ano que vem como resultado desse conflito, já que é difícil prever o que virá ao fim dos 90 dias.
Embarques - Castro lembra que o conflito foi um dos fatores que permitiram ao país exportar cerca de 80 milhões de toneladas de soja no ano. Essa marca, porém, diz, não é sustentável. "Os exportadores venderam seus estoques porque houve demanda da China em razão da retaliação aos EUA e porque os preços estavam bons." Além disso, diz, houve quebra de safra da produção argentina do grão. A conjuntura econômica local também ajudou, com crescimento menor que o esperado no Brasil e crise na Argentina, com menor pressão do consumo interno nos dois países. "2018 foi um ano muito atípico e esses fatores todos provavelmente não se repetirão no ano que vem."
Vantagem pequena - Para Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, a vantagem para o Brasil com o conflito é pequena em relação aos riscos trazidos pelo conflito. Para ele, é difícil avaliar a possibilidade de solução definitiva. "Muitas das exigências dos americanos resultam em restrições de acesso à tecnologia, o que exigiria muitas concessões pelos chineses", diz ele, lembrando que foi o desenvolvimento tecnológico que propiciou ao país asiático o avanço no mercado internacional de manufaturados.
Fonte: Portal Paraná Cooperativo
◄ Leia outras notícias