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Brasil compensa perdas com tarifaço nos EUA redirecionando exportações para outros mercados

Café e carne bovina lideram recuperação de receita, enquanto China e México se destacam como destinos estratégicos


Publicado em: 15/10/2025 às 18:00hs

Brasil compensa perdas com tarifaço nos EUA redirecionando exportações para outros mercados
Redirecionamento de exportações minimiza impacto do tarifaço

Após a imposição de tarifas pelo governo americano, o Brasil conseguiu compensar boa parte da perda de receita nas exportações para os Estados Unidos redirecionando embarques para outros países. Entre os 20 produtos mais exportados aos EUA, nove apresentaram queda nas vendas para os americanos, mas aumentaram ou mantiveram embarques mais estáveis para outros mercados em comparação com agosto e setembro de 2024.

No agregado, o Brasil perdeu US$ 375,5 milhões de receita com esses nove produtos nos EUA, mas obteve US$ 1,25 bilhão a mais em exportações para o restante do mundo. A compensação foi impulsionada principalmente pelo café não torrado e carne bovina desossada e congelada, beneficiados também pela alta de preços.

Café e carne bovina lideram recuperação

Segundo dados da Secex, o café brasileiro foi redirecionado principalmente para a Europa (Alemanha e Holanda) e o Japão, enquanto as carnes bovinas tiveram maior destino para China e Filipinas.

O México, próximo aos Estados Unidos, também se destacou como destino estratégico:

  • Carne bovina congelada: alta de 292,6%
  • Café não torrado: crescimento de 90%

“Os exportadores estão buscando expandir mercados alternativos aos EUA. A China está absorvendo parte dessas exportações, especialmente carnes, enquanto o México também se torna um destino estratégico”, afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Impactos variados do tarifaço

A economista Lia Valls, da UERJ e FGV Ibre, explica que o tarifaço afetou produtos de forma desigual:

  • Em seis produtos, as exportações aos EUA cresceram, mas abaixo da expansão para outros mercados.
  • Em cinco produtos, as vendas para os EUA aumentaram, enquanto em outros países houve crescimento menor ou queda.

Como resultado, a participação dos EUA nas exportações brasileiras desses 20 produtos caiu de 28% para 21,4%, e a fatia no total das exportações brasileiras recuou de 11,6% para 9%.

Produtos sem compensação total

Alguns itens não tiveram receita totalmente compensada. Entre eles:

  • Semimanufaturados de ferro ou aço: perda de US$ 86,7 milhões nos EUA; aumento de US$ 31,5 milhões para outros mercados
  • Preparações alimentícias, conservas de bovinos e transformadores elétricos: compensação parcial

“A mudança mais profunda com o tarifaço é que os Estados Unidos deixaram de ser um parceiro confiável”, alerta Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.

Agronegócio é destaque na compensação

Os setores de café e carne bovina foram determinantes para a recuperação de receita:

  • Carne bovina congelada: queda de 58% nos EUA (perda de US$ 90,9 milhões), compensada por alta de 70% no resto do mundo (US$ 1,16 bilhão)
  • Café não torrado: recuo de 11,3% nos EUA (US$ 27,5 milhões), compensado por aumento de 9,1% para outros mercados (US$ 155,3 milhões)

A China se tornou o principal destino da carne bovina: participação subiu de 58,8% para 67,2%, com alta de 81,8% nos embarques. O México também apresentou crescimento expressivo, embora sobre uma base menor.

“A dependência em relação aos EUA para café e carne é relativamente baixa, permitindo redirecionamento sem grandes perdas. Além disso, preços favoráveis ajudam a compensar impactos”, explica Cagnin.

Estratégia de diversificação é essencial

Apesar da recuperação parcial, a concentração de exportações em poucos mercados, especialmente a China, representa risco para o agronegócio brasileiro. Produtos que tiveram queda tanto nos EUA quanto em outros destinos, como partes para motores a diesel, madeiras compensadas e açúcares, reforçam a necessidade de diversificação para União Europeia e América do Sul.

Alguns produtos, no entanto, aumentaram embarques aos EUA mesmo com tarifa, como:

  • Pneus de borracha para ônibus e caminhões: +417,3%
  • Bulldozers e angledozers: +66,2% e +707%, respectivamente

Valls e Castro apontam que parte do aumento se deve a cadeias de produção e comércio intracompanhia, além de códigos específicos de isenção do tarifaço, que abriram brechas legais para exportação.

Fonte: Portal do Agronegócio

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