Publicado em: 15/10/2025 às 18:00hs
Após a imposição de tarifas pelo governo americano, o Brasil conseguiu compensar boa parte da perda de receita nas exportações para os Estados Unidos redirecionando embarques para outros países. Entre os 20 produtos mais exportados aos EUA, nove apresentaram queda nas vendas para os americanos, mas aumentaram ou mantiveram embarques mais estáveis para outros mercados em comparação com agosto e setembro de 2024.
No agregado, o Brasil perdeu US$ 375,5 milhões de receita com esses nove produtos nos EUA, mas obteve US$ 1,25 bilhão a mais em exportações para o restante do mundo. A compensação foi impulsionada principalmente pelo café não torrado e carne bovina desossada e congelada, beneficiados também pela alta de preços.
Segundo dados da Secex, o café brasileiro foi redirecionado principalmente para a Europa (Alemanha e Holanda) e o Japão, enquanto as carnes bovinas tiveram maior destino para China e Filipinas.
O México, próximo aos Estados Unidos, também se destacou como destino estratégico:
“Os exportadores estão buscando expandir mercados alternativos aos EUA. A China está absorvendo parte dessas exportações, especialmente carnes, enquanto o México também se torna um destino estratégico”, afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
A economista Lia Valls, da UERJ e FGV Ibre, explica que o tarifaço afetou produtos de forma desigual:
Como resultado, a participação dos EUA nas exportações brasileiras desses 20 produtos caiu de 28% para 21,4%, e a fatia no total das exportações brasileiras recuou de 11,6% para 9%.
Alguns itens não tiveram receita totalmente compensada. Entre eles:
“A mudança mais profunda com o tarifaço é que os Estados Unidos deixaram de ser um parceiro confiável”, alerta Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.
Os setores de café e carne bovina foram determinantes para a recuperação de receita:
A China se tornou o principal destino da carne bovina: participação subiu de 58,8% para 67,2%, com alta de 81,8% nos embarques. O México também apresentou crescimento expressivo, embora sobre uma base menor.
“A dependência em relação aos EUA para café e carne é relativamente baixa, permitindo redirecionamento sem grandes perdas. Além disso, preços favoráveis ajudam a compensar impactos”, explica Cagnin.
Apesar da recuperação parcial, a concentração de exportações em poucos mercados, especialmente a China, representa risco para o agronegócio brasileiro. Produtos que tiveram queda tanto nos EUA quanto em outros destinos, como partes para motores a diesel, madeiras compensadas e açúcares, reforçam a necessidade de diversificação para União Europeia e América do Sul.
Alguns produtos, no entanto, aumentaram embarques aos EUA mesmo com tarifa, como:
Valls e Castro apontam que parte do aumento se deve a cadeias de produção e comércio intracompanhia, além de códigos específicos de isenção do tarifaço, que abriram brechas legais para exportação.
Fonte: Portal do Agronegócio
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