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As Américas podem ajudar a África a ser a cesta de alimentos do mundo, diz o cientista Rattan Lal na Cúpula que reúne ministros dos dois continentes

Desde dezembro de 2020, Lal e o IICA já alcançaram valiosos resultados em diversos países da América Latina e do Caribe com a iniciativa “Solos Vivos das Américas”, que articula esforços públicos e privados no combate à degradação dos solos, um fenômeno que ameaça a produção de alimentos e a segurança alimentar.


Publicado em: 03/08/2022 às 16:20hs

As Américas podem ajudar a África a ser a cesta de alimentos do mundo, diz o cientista Rattan Lal na Cúpula que reúne ministros dos dois continentes

A África tem a capacidade e os recursos para se transformar na cesta de alimentos ao mundo, e o continente americano pode ajudá-la a fazer isso, disse o laureado cientista Rattan Lal na primeira “Cúpula África-Américas sobre Sistemas Agroalimentares”, que reúne ministros, vice-ministros e altos funcionários de Agricultura, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia de 40 países na Costa Rica.

Lal, considerado a maior autoridade mundial em ciências do solo, fez um relato detalhado dos principais obstáculos enfrentados pela produção agropecuária na África e disse que, apesar dos problemas, as savanas africanas podem ser transformadas em uma grande fonte de alimentos, como aconteceu com as brasileiras, se o conhecimento científico passar à ação.

O cientista, coganhador do Nobel da Paz, Prêmio Mundial da Alimentação e Embaixador da Boa Vontade do IICA, compartilhou o painel “Mudança do clima e resiliência” na Cúpula com os ministros de Agricultura da Nigéria, Mohammed Mahmood Abubakar; de São Vicente e Granadinas, Saboto Caesar; da Somália, Said Husseinm lid; de Uganda, Rwamirama Bright Kanyontore; e a Vice-Ministra da Costa Rica, Rocío Valerio Rodríguez.

“Uma revolução verde na África deve ser baseada na ciência e no solo. As pessoas são reflexo do solo no qual vivem. Quando o solo está degradado, as pessoas padecem. Ao mesmo tempo, se as pessoas não têm uma boa qualidade de vida, o solo deteriora. Isso é um círculo vicioso que nunca termina”, afirmou o cientista, Diretor do Centro de Gestão e Sequestro de Carbono (C-MASC), na Universidade do Estado de Ohio.

Desde dezembro de 2020, Lal e o IICA já alcançaram valiosos resultados em diversos países da América Latina e do Caribe com a iniciativa “Solos Vivos das Américas”, que articula esforços públicos e privados no combate à degradação dos solos, um fenômeno que ameaça a produção de alimentos e a segurança alimentar.

O especialista considerou que o trabalho realizado por sua equipe com o IICA pode ser de grande utilidade para o continente africano: “Seria um privilégio, juntamente com o IICA, poder ajudar. A África e a América do Sul estiveram juntas há milhões de anos e se separaram por movimentos geológicos, mas hoje podemos criar uma ponte e trabalhar juntos para implementar um plano que aumente sua produção de alimentos e, ao mesmo tempo, contribua para a mitigação da mudança do clima”.

Dentre os problemas enfrentados pela agricultura na África, Lal disse que o principal é a seca. Também mencionou a degradação do solo, a crescente urbanização e a mudança do clima.

Lal advertiu que os pequenos agricultores devem ser pagos pelo serviço que prestam a todo o planeta, ao implementar boas práticas em suas terras que favoreçam a retenção de carbono no solo e, assim, ajudam na luta global contra a mudança do clima.

“Todos dizem que os produtores devem ser recompensados, mas ninguém os recompensa. Eles precisam de recursos para cuidar do solo”, declarou. E acrescentou que o setor privado pode desempenhar um papel muito importante em oferecer tecnologias ao produtor para que ele implemente práticas conservacionistas e regenerativas.

Quanto à urbanização, Lal disse que a população das maiores cidades da África está crescendo de 10 a 12 vezes em 30 ou 40 anos.

“Em 2100 — afirmou — a maior cidade do mundo será Lagos, na Nigéria, com 85 milhões de habitantes. Devemos ponderar que uma cidade com 30 milhões requer 200 toneladas de comida por dia, de modo que os planejadores urbanos devem considerar que 20% da agricultura deverá ser feita nos limites da cidade, com mais hidroponia e terraceamento”.

“Se a África tiver vontade política, poderá fazer isso, e com o IICA, podemos ajudar. Mas deve haver um cronograma para que se possa chegar a algum lugar. A África deve ser parte da solução”, concluiu Lal.

Imediatamente, Mohammed Mahmood Abubakar, Ministro da Agricultura da Nigéria, indicou que seu país está promovendo tecnologias para a inovação na atividade agropecuária. “Buscamos alcançar uma agricultura climaticamente inteligente, melhorar a produtividade, desenvolver cadeias de valor de cultivos fundamentais e aumentar a resiliência”, afirmou.

Rocío Valerio Rodríguez, Vice-Ministra da Agricultura e Pecuária da Costa Rica, afirmou que a América e a África são “dois continentes com grandes similaridades, as quais devemos usar a nosso favor. Essa Cúpula acontece em uma época de pós-pandemia e de um conflito militar que rompeu o equilíbrio dos mercados mundiais e os fluxos comerciais. A insegurança alimentar persegue cada vez mais pessoas”.

Said Husseinm lid, Ministro da Agricultura e Irrigação de Somália, considerou que “a escassez de alimentos é um desastre criado pelo homem, especialmente na África. África é um continente muito rico e pode alimentar população, mas enfrentamos diferentes problemas por razões políticas e econômicas. A África pode ter uma boa relação com o continente americano, trazendo muitos benefícios”.  

O Ministro da Uganda, Bright Kanyontore, por sua vez, reconheceu que “as oportunidades de cooperação com impacto no ambiente estão aumentando, reduzindo o uso de pesticidas e favorecendo as boas práticas agropecuárias, com eficiência na produção. A Uganda tem buscado cooperação, o que nos possibilitou ser mais resilientes. Em conclusão, as organizações continentais, como a AGRA, contribuem para explorar as oportunidades de investimento em áreas de ciência, tecnologia e inovação”.