Publicado em: 21/10/2024 às 11:15hs
A América Latina acompanha com expectativa as eleições norte-americanas, marcadas para 5 de novembro, quando os eleitores decidirão entre a continuidade da vice-presidente Kamala Harris ou o retorno das políticas do ex-presidente Donald Trump, que trouxeram volatilidade às principais economias da região.
As áreas de comércio e tarifas, assim como a política monetária dos EUA e seu impacto sobre as taxas de juros globais, são vistos como os principais vetores de mudanças para a América Latina. A guerra comercial entre Washington e Pequim pode prejudicar o México, mas beneficiar o Brasil, especialmente em um contexto de retaliação.
Uma eventual vitória de Trump pode provocar efeitos profundos na região, afetando moedas e bancos centrais, embora países mais dependentes de commodities ou comércio com a China possam ser menos impactados. Embora o governo Biden tenha mantido as tarifas impostas por Trump sobre produtos chineses, Harris tem uma postura mais conciliadora em relação à China, enquanto Trump planeja aumentar as tarifas para até 60%.
Além disso, a China desempenhará um papel central nas renegociações do Acordo EUA-México-Canadá (USMCA), previsto para 2026. Produtos de fábricas de empresas chinesas instaladas no México podem deixar de ser considerados mexicanos, com as regras de origem do setor automotivo ganhando destaque nas negociações. Trump, recentemente, chegou a propor uma tarifa de até 200% sobre veículos importados do México.
Segundo Carlos de Sousa, estrategista de mercados emergentes da Vontobel, "uma guerra comercial com a China provavelmente se intensificaria sob Trump, e o México seria o país latino-americano mais afetado". Ele também destacou que o aumento da fiscalização sobre as regras comerciais do México poderia aumentar a volatilidade nos preços dos ativos mexicanos.
O banco de investimentos Lazard alertou que uma tarifa universal de 10%, proposta por Trump, poderia ser usada como ferramenta para evitar que países desviassem as tarifas ao se estabelecerem em nações parceiras dos EUA. Além disso, políticas relacionadas à migração, como a taxação de remessas, poderiam ter impacto significativo nas economias da América Central, que dependem fortemente desses recursos.
Por outro lado, países sul-americanos, como o Chile, que exporta cobre e lítio, estariam em uma posição mais favorável para escapar de um regime comercial mais rígido dos EUA, devido à natureza insubstituível de suas exportações.
Caso Harris vença as eleições, o risco tarifário tende a diminuir, o que pode beneficiar mercados emergentes, incluindo os latino-americanos. A expectativa é que um governo Harris, possivelmente dividido, proporcione melhores condições de crescimento e investimento, com menor volatilidade econômica.
Se Trump voltar ao poder, o déficit orçamentário dos EUA poderá crescer, elevando a inflação e as taxas de juros, o que teria reflexos nas economias da América Latina. Segundo De Sousa, da Vontobel, "uma política monetária mais rígida nos EUA tende a pressionar os preços dos ativos em mercados emergentes, como na América Latina."
Por fim, líderes regionais, como o presidente argentino Javier Milei, que compartilha afinidades políticas com Trump, podem se beneficiar de um apoio maior dos EUA, especialmente em questões financeiras, como a renovação de programas de empréstimos com o Fundo Monetário Internacional.
A América Latina, portanto, se prepara para um cenário incerto, em que o resultado das eleições dos EUA poderá redefinir o comércio, as tarifas e o ambiente econômico da região.
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