Publicado em: 20/03/2014 às 11:00hs
O governo americano prevê que os preços dos alimentos no varejo subirão até 3,5% este ano, o maior aumento anual em três anos, à medida que a seca em partes dos EUA e em outras regiões produtoras do mundo eleva os preços de muitos produtos agrícolas. Ontem, o Bureau of Labor Statistics (BSL), responsável pelas estatísticas trabalhistas nos EUA, informou que os preços dos alimentos subiram 0,4% em fevereiro ante o mês anterior, maior alta desde setembro de 2011, provocado por uma alta dos preços da carne, frango, peixe, ovos e laticínios.
Globalmente, a inflação dos alimentos tem sido menor, mas economistas já estão observando sinais de escassez de produtos básicos como arroz e trigo, o que poderia provocar aumento de preços.
A seca no Brasil, maior produtor mundial de café, açúcar e laranja, foi responsável pelo aumento dos preços do café no mercado global, e a falta de chuva no Sudeste Asiático também tem elevado os preços de óleos de cozinha como o de palma.
Nos EUA, a maior parte do aumento do custo dos alimentos vem da carne e dos laticínios, devido, em parte, a uma redução do rebanho de gado do país após anos de seca em Estados como Texas e Califórnia e ao aumento da demanda por leite em países asiáticos em rápido crescimento. Mas os preços de frutas, legumes, açúcar e bebidas também subiram, segundo o governo americano.
Nos mercados de contratos futuros, os preços do café já subiram mais de 70% neste ano, enquanto a carne suína subiu 42%, em meio a preocupações com doenças, e o cacau aumentou 12% em resposta a um aumento da demanda, sobretudo em mercados emergentes.
Embora preocupe, a inflação dos alimentos nos EUA ainda não se aproxima de outras altas recentes. Em 2008, os preços dos alimentos saltaram 5,5%, a maior alta em 18 anos. Em 2011, subiram 3,7%. O aumento atual poderá perder força caso os agricultores americanos plantem grandes áreas de milho e soja na próxima safra, como se espera, e o clima for favorável durante o cultivo, em meados do ano. Isso conteria os preços da carne e do frango, além dos custos de ingredientes para cereais matinais e de pães e derivados.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estimou no mês passado que os preços dos alimentos no varejo subirão de 2,5% a 3,5% este ano, ante a alta de 1,4% de 2013, apesar de quedas acentuadas ao longo do ano passado nos preços dos grãos, incluindo o milho, causadas por uma safra generosa nos EUA. Em outros anos - especialmente em 2008 -, a escalada dos preços de grãos foram um fator-chave para a alta dos custos dos alimentos.
Nos EUA, os alimentos subiram, em média, 2,8%, nos últimos dez anos, superando a alta dos bens de consumo em geral no mesmo período, de 2,4%, de acordo com o governo. Os preços de bens de consumo em geral devem subir 1,9% este ano, segundo economistas consultados pelo "The Wall Street Journal".
Mesmo assim, os aumentos de preços representam um desafio para as empresas de alimentos, restaurantes e varejistas, que devem decidir quanto dos custos podem passar adiante sem afastar os clientes num momento de competição intensa e margens de lucro mais apertadas.
A Fatburger North America Inc., dona de 150 restaurantes globalmente, provavelmente vai subir os preços de seus hambúrgueres em 5% no próximo mês, diz Andy Wiederhorn, diretor-presidente da empresa. "Os preços ficarão altos por um ano e depois os baixamos em meados do próximo ano, quando a oferta alcançar a demanda".
O efeito da seca histórica de 2012 nos EUA é uma das razões da atual alta de preços. A seca levou os preços da ração animal a níveis recordes e fez produtores reduzirem seus rebanhos, de acordo com analistas.
Cerca de 95% do Estado da Califórnia, maior produtor agrícola dos EUA, enfrenta uma seca, segundo a U.S. Drought Monitor. Os preços de legumes frescos, que saltaram 4,7% no ano passado, devem subir até 3% este ano. As frutas, que tiveram alta de 2% no ano passado, devem subir 3,5% em 2014, segundo o USDA.
Este ano, a seca no Brasil contribuiu para um aumento drástico nos preços de café arábica, espécie mais produzida no mundo. Os futuros do arábica, que estavam numa baixa de sete anos em 2013, atingiram no dia 13 o maior valor em dois anos.
Em cada um dos últimos dois anos, os preços mundiais de alimentos, em média, caíram em relação ao ano anterior, à medida que agricultores aumentavam a produção de trigo, açúcar e outras commodities, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que publica um índice mensal de preços de alimentos. Mas esse índice subiu 5,2 pontos no mês passado em relação a janeiro, para 208,1 - o salto mais acentuado desde meados de 2012.
O aumento dos preços de alimentos é particularmente sensível em mercados emergentes, onde os gastos com alimentação representam uma parcela maior dos orçamentos mensais que em países mais ricos.
Em 2008, alta nos preços dos alimentos causou revoltas do Haiti à África subsaariana, passando pelo sul da Ásia. Três anos depois, a inflação dos alimentos contribuiu para os protestos da Primavera Árabe no norte da África e no Oriente Médio, que acabaram derrubando governos na Tunísia e no Egito. O aumento dos preços globais, no mês passado, surpreendeu alguns economistas e fez renascer o fantasma de disparos mais graves que poderiam atingir os países mais pobres do mundo.
"Para ser honesto, até um mês atrás, o nosso sentimento [...] era que a maioria dos mercados estava bem abastecida", diz John Baffes, economista sênior do Banco Mundial. "Agora, a pergunta é: Será que essas condições climáticas vão piorar? Se piorarem, de fato poderemos ver mais aumentos de preços de alimentos".
Fonte: The Wall Street Journal
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