Publicado em: 11/12/2025 às 10:35hs
Agricultores dos Estados Unidos receberam com alívio, mas também com preocupação, o pacote de ajuda de US$ 12 bilhões anunciado pelo então presidente Donald Trump. Apesar de considerarem o apoio necessário para enfrentar a crise no campo, produtores e especialistas afirmam que o valor está muito aquém das perdas causadas pelos baixos preços das safras e pelas exportações reduzidas em função da guerra comercial travada pelo governo norte-americano.
“Esse apoio servirá como uma tábua de salvação para quem tenta chegar ao próximo ano, mas não é uma solução de longo prazo”, avaliou Mike Stranz, vice-presidente da National Farmers Union.
De acordo com economistas e associações agrícolas, os produtores vêm enfrentando custos elevados de mão de obra, fertilizantes e sementes, além da desvalorização de produtos como soja, milho, trigo e amendoim.
As estimativas para 2025 indicam perdas entre US$ 35 bilhões e US$ 44 bilhões nas principais commodities agrícolas, segundo Shawn Arita, diretor associado do Agricultural Risk Policy Center da Universidade Estadual da Dakota do Norte.
O governo justificou que o pacote de ajuda tem caráter emergencial e funcionará como “ponte financeira” até que as novas medidas de estímulo previstas no projeto de lei de impostos e gastos, conhecido como One Big Beautiful Bill, comecem a vigorar.
“O objetivo é garantir que os agricultores tenham mercados fortes e sustentáveis, em vez de depender de cheques do governo”, afirmou a secretária de Agricultura Brooke Rollins.
De acordo com uma pesquisa conduzida pela American Bankers Association e pela Farmer Mac, menos da metade dos produtores rurais norte-americanos deverá registrar lucros em 2026. As principais preocupações do setor incluem baixa liquidez, aumento da dívida e inflação persistente.
Mesmo antes do novo pacote, o governo Trump já previa um recorde de US$ 40 bilhões em pagamentos federais ao setor neste ano, impulsionados por programas emergenciais e incentivos econômicos.
O novo projeto de lei de Trump prevê um aumento de 10% a 21% nos preços de referência de commodities como milho e soja — valores que acionam os programas de rede de segurança agrícola. Segundo Richard Fordyce, subsecretário do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), essa medida ajudará os produtores “a se manterem à tona até outubro de 2026”.
Contudo, especialistas afirmam que os ajustes não resolverão o problema estrutural do setor. “Os aumentos são bem-vindos, mas insuficientes diante do endividamento crescente”, destacou o economista Wesley Davis.
Uma pesquisa da Purdue University/CME Group revelou que mais da metade dos agricultores utilizará os recursos federais para quitar dívidas, e não para investir em maquinário ou capital de giro.
Os produtores de soja foram os que mais sentiram os efeitos da guerra comercial, após a China suspender as importações do grão norte-americano por seis meses. Segundo o agricultor Caleb Ragland, presidente da American Soybean Association, a ajuda federal cobrirá apenas um quarto das perdas do setor.
“Somos gratos pelo apoio, mas esse dinheiro apenas retarda o sangramento”, afirmou Ragland.
Outros segmentos agrícolas, como o de frutas e vegetais, também relatam insuficiência no pacote. Apenas US$ 1 bilhão foi destinado a esses produtores, o que, segundo Kam Quarles, presidente do National Potato Council, “não cobre nem de perto o tamanho das perdas”.
As perdas apenas com a batata russet somam meio bilhão de dólares, ressaltou Quarles.
Durante seu primeiro mandato, Trump já havia destinado cerca de US$ 23 bilhões em ajuda comercial ao setor agrícola. Um relatório do Government Accountability Office de 2021 mostrou que alguns estados receberam valores acima do necessário devido à forma de cálculo dos pagamentos.
Desta vez, segundo o USDA, a nova rodada de repasses será calculada com base em área plantada, custos de produção e outros fatores, sem diferenciação regional.
Fonte: Portal do Agronegócio
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