Internacional

Diretor-geral da OMC alerta para recorde de disputas comerciais

Segundo o diretor, 30 novas disputas foram iniciadas em 2018


Publicado em: 11/10/2018 às 00:00hs

...

Embaixador Roberto Azevêdo: O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC)
Por: Ana Cristina Campos – Repórter da Agência Brasil Brasília

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), embaixador Roberto Azevêdo, revelou que em 2018 foi batido o recorde de número de disputas abertas na instituição - fruto das crescentes tensões comerciais no mundo. “Cerca de 30 novas disputas foram iniciadas apenas este ano. Esse já é o maior número de novos casos em 16 anos – e estamos ainda em outubro”, afirmou Azevêdo, em entrevista por e-mail à Agência Brasil. "Claramente o sistema está sob pressão", avaliou. "Mas é justamente ele que pode acalmar os ânimos", completou.

O diretor-geral reiterou a importância da OMC no contexto atual para facilitar o diálogo entre os países e diminuir as turbulências do sistema multilateral de comércio. A escalada na rivalidade comercial entre Estados Unidos e China vem causando, há meses, insegurança no comércio global.

Para Azevêdo, a mudança de governo que virá com a eleição de um novo presidente pode ser uma boa oportunidade para se discutir como melhorar a inserção do Brasil na economia mundial e como aumentar a produtividade da economia brasileira. “O Brasil tem historicamente uma participação muito ativa na OMC. E faz sentido que isso se mantenha qualquer que seja o resultado das eleições”.

O embaixador também comentou as declarações dadas pelo presidente Donald Trump que classificou de “injustas” as relações comerciais entre Estados Unidos e Brasil. Trump afirmou que o Brasil "está entre os mais duros do mundo" no trato com as empresas estrangeiras. Azevêdo defendeu o diálogo: “Naturalmente, cabe aos dois lados conversar e buscar entendimento”.

Veja a íntegra da entrevista:

Agência Brasil: De que forma o crescente protecionismo e a disputa comercial entre Estados Unidos e China repercutem no sistema multilateral de comércio?

Roberto Azevêdo: Há um aumento das tensões comerciais no mundo hoje, o que é perigoso. Essas turbulências obviamente repercutem no nosso trabalho. A OMC serve de plataforma para facilitar o diálogo e diminuir essas tensões, algo extremamente importante porque as dificuldades atuais só podem ser resolvidas por meio do diálogo. A organização também serve como fórum para resolver disputas comerciais. Cerca de 30 novas disputas foram iniciadas apenas este ano. Esse já é o maior número de novos casos em 16 anos – e estamos ainda em outubro. Claramente o sistema está sob pressão. Mas é justamente ele que pode ajudar a acalmar os ânimos. A OMC, assim, é extremamente importante no contexto atual.

Como o ano de 2018 deve fechar em relação ao comércio global e quais são as perspectivas para 2019?

Nossa previsão é de que o comércio internacional de bens cresça, em volume, 3,9% em 2018, acompanhado por um crescimento do PIB mundial de 3,1%. Para 2019, a expectativa é de que o comércio cresça um pouco menos, 3,7%, em função de um crescimento global mais lento, de 2,9%. As tensões comerciais constituem o maior risco para essas estimativas. É importante evitar uma deterioração das relações comerciais especialmente entre as grandes economias.

Qual o posicionamento esperado pela OMC do novo governo brasileiro que será eleito em relação à participação do país no sistema multilateral de comércio?

Pessoalmente, vejo uma mudança de governo como uma boa oportunidade para se pensar em política comercial no Brasil, para se discutir como melhorar a inserção do Brasil na economia mundial e como aumentar a produtividade da economia brasileira. Sob o ponto de vista da OMC, lidamos com mudanças políticas todo o tempo, temos 164 membros. O Brasil tem historicamente uma participação muito ativa na OMC. E faz sentido que isso se mantenha qualquer que seja o resultado das eleições. Essa participação ativa do Brasil no sistema multilateral não precisa se dar em detrimento de buscas de oportunidades comerciais em outros contextos, como o regional ou bilateral. O Brasil pode ter sempre uma atitude pragmática na defesa de seus interesses comerciais - como, aliás, fazem os demais países.

Qual é sua opinião sobre declarações dadas no último dia 1º pelo presidente Donald Trump sobre as relações comerciais entre EUA e Brasil?

De forma geral, as posições americanas na área comercial são conhecidas. Não surpreende que os EUA busquem ter melhor acesso ao mercado brasileiro. Isso é natural. O Brasil também terá suas demandas e suas queixas em relação ao comércio com os EUA. Naturalmente, cabe aos dois lados conversar e buscar entendimento.

As dificuldades econômicas de países vizinhos, como Argentina e Venezuela, podem afetar o Brasil na questão comercial e no seu crescimento econômico?

Podem, claro. A Argentina, por exemplo, é um destino muito importante para as exportações brasileiras, especialmente de produtos manufaturados. Também tende a ser um destino preferencial de exportação de pequenas e médias empresas brasileiras. Dificuldades na Argentina, ou em qualquer país da região, afetam o Brasil. Da mesma forma, nos últimos anos, os problemas econômicos no Brasil também afetaram os vizinhos.

Fonte: Agência Brasil Brasília

◄ Leia outras entrevistas