Brasil

PROJEÇÃO: Ipea prevê acomodação da economia brasileira no 2º semestre

O Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea) espera uma acomodação no crescimento econômico do país para os últimos trimestres do ano


Publicado em: 30/09/2013 às 10:00hs

PROJEÇÃO: Ipea prevê acomodação da economia brasileira no 2º semestre

Na avaliação do coordenador do grupo de Estudos de Conjuntura (Gecon) do instituto, Fernando Ribeiro, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre surpreendeu — quando avançou 1,5% —, mas, ainda, há muitas incertezas que devem limitar este crescimento principalmente no terceiro trimestre.

Incógnitas - Entre as incógnitas, está, no cenário externo, a valorização do dólar frente ao real e a recuperação da economia americana e, no interno, a volatilidade da produção industrial, a estabilidade do consumo e do mercado de trabalho, a inflação ainda alta, e o cenário de manutenção do aperto monetário. "A [economia brasileira] enfrenta dois grandes desequilíbrios: a inflação que permanece alta e o déficit em transações correntes que aumentou de forma surpreendente, [influenciado principalmente] pela importação de combustíveis. Para o segundo semestre vemos trajetória de acomodação, até porque o segundo trimestre teve crescimento acima da tendência e o normal nos trimestres seguintes é que haja acomodação", explicou Ribeiro.

Consumo - Segundo ele, o ímpeto do consumo está sendo afetado justamente pela estabilização do mercado de trabalho, desaceleração do crédito e pelo aumento da inflação. Já o saldo comercial, além do impacto causado pela importação de gasolina, teve desempenho ruim em função do baixo estímulo do setor externo. Ainda, segundo Ribeiro, 70% da queda do saldo comercial entre 2012 a 2013 deveu-se ao setor do petróleo, principalmente em função da queda nas exportações. O saldo ficou negativo em US$ 3,7 bilhões. As importações, por sua vez, aumentaram em função da recuperação da indústria no segundo trimestre, que demandou bens intermediários.

Investimentos - O cenário para investimentos, segundo o Ipea, também ainda é incerto, e depende, no curto prazo, da recuperação da confiança dos empresários, que tem caído. "Manifestações populares em junho e julho, e a variação cambial geraram um período de bastante incerteza, [que aliado à] expectativa de alta da taxa de juros acabam reforçando a ideia de que o crescimento no segundo semestre tende a ser mais lento", explicou Ribeiro. No longo prazo, entretanto, as medidas já adotadas pelo governo de desoneração de alguns tributos para a produção industrial, e as concessões que o governo está organizando na área de infraestrutura, devem gerar impactos positivos para o aumento do investimento e do crescimento econômico.

Eleições - "O governo está jogando as fichas para 2014, certamente, principalmente por conta das concessões. Os impactos positivos das medidas do governo não vêm de uma hora para outra. A existência dessas concessões preparam um futuro melhor, [que deve ser sentido] já alguns trimestres à frente, [associado a] maior dinamismo do setor externo e recuperação do consumo", avaliou o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Claudio Hamilton.

Favorável - Por isso, apesar da acomodação esperada para o crescimento, o cenário para o segundo semestre ainda é favorável. "A política econômica se defronta com desafios: o primeiro é sustentar o crescimento da economia, ainda que abaixo do esperado, ao mesmo tempo em que é importante reduzir a inflação", explicou Ribeiro.

Disparada de preços - Para ele, segundo comunicados recentes emitidos pelo Banco Central, a preocupação hoje é maior em conter a disparada dos preços, do que privilegiar o crescimento econômico. Ainda pressionam a inflação possíveis reajustes salariais, a incerteza do câmbio, e a defasagem dos combustíveis. Devem ter impacto para conter a subida dos preços, entretanto, o aumento nos juros e o crescimento moderado do consumo. "A consequência é que o espaço fiscal para medidas expansionistas para acelerar crescimento é bastante limitado. O investimento em infraestrutura pode, em um futuro breve, gerar aumento importante de investimento e acelerar economia com capital privado", apostou Ribeiro.

Índice - O Ipea evitou fazer projeções, mas considerou que "não será surpreendente" se o PIB deste ano fechar com crescimento de 2,2% a 3%.