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PROJEÇÃO: Com ajustes, inflação vai atingir meta só em 2017

Alta e cada vez mais resistente, a inflação brasileira parece desafiar um preceito econômico


Publicado em: 25/09/2014 às 17:40hs

PROJEÇÃO: Com ajustes, inflação vai atingir meta só em 2017

Alta e cada vez mais resistente, a inflação brasileira parece desafiar um preceito econômico. Em tempos de baixa atividade econômica, a tendência é que o reajuste de preços recue. O primeiro semestre, porém, mostrou que, mesmo com a economia em recessão técnica e com juros mantidos altos, a inflação deve demorar a ceder.

Meta - Segundo ata do dia 11 sobre a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o atingimento da meta de 4,5% ao ano ocorrerá em 2016. Mas os economistas vão além: a inflação chegará a esse patamar em meados de 2017 e apenas se as políticas econômica e fiscal forem revistas e alinhadas. Hoje, a inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 6,51%, segundo o IPCA de agosto.

Divergências - Especialistas divergem sobre o peso dado a cada fator que contribui para a inflação persistente, mas concordam que descompassos nas políticas de governo estão no centro da questão. Outros aspectos influenciam: o fato de a política fiscal apresentar resultados ruins e o salto no nível dos salários, que aumenta o poder de compra da população sem representar produtividade na mesma medida. Esse último fator favorece que preços do setor de serviços continuem sendo reajustados acima da inflação.

Estímulo - As ações de estímulo ao crédito, que ocorrem simultaneamente a medidas para desacelerar o reajuste de preços, explicam por que a desaceleração contribuiu para baixar apenas “um pouco” a inflação, diz o economista Samuel Pessôa, do Instituto Millenium. O efeito não foi maior pois, na outra ponta, o governo alimenta o consumo, enquanto mostra dificuldade para enfrentar um problema estrutural: baixa oferta. O economista avalia que, nesse cenário, os incentivos fiscais para setores industriais – que, em tese, deveriam aumentar a capacidade produtiva – surtem efeito contrário ao alavancar o déficit público.

Direção oposta - O economista-chefe do?Banco Safra, Carlos Kawall, avalia que a injeção de dinheiro em bancos públicos para aumentar a oferta de crédito é obstáculo na guerra contra a inflação. “As medidas estão indo na direção contrária da [meta da] alta de juros, são conflitantes”, diz ele, que foi secretário do Tesouro no primeiro governo Lula.

Desaceleração do consumo- Para ele, desacelerar o consumo em 2015 será obrigatório. É o ano em que preços administrados (tabelados) que vinham sendo represados pelo governo devem continuar a subir – como os combustíveis e a energia elétrica. E o freio baixaria preços no setor de serviços, o carro-chefe da inflação desde 2010.

Pouca ênfase na política fiscal contribui para perpetuar quadro - O poder de manobra do governo para controlar a inflação tem caído, juntamente com a performance das contas públicas. O desempenho mais recente das contas, de julho, já mostra influência nas novas expectativas de atingimento da meta de inflação. Em julho, a dívida líquida do setor alcançou quase R$ 1,8 trilhão (35,1% do PIB), um aumento de 0,1 ponto percentual do PIB em relação ao mês anterior.

Superávit - Para 2014, a meta total de superávit (poupança) para as contas do setor público, o que inclui todos os governos, é de 1,9% do PIB, ou cerca de R$ 100 bilhões. Para o governo federal, é de 1,55% do PIB (R$ 83,7 bilhões). No total, está em R$ 24,7 bilhões no acumulado do ano. Em 2013, no mesmo período, era de R$ 54,4 bilhões. A Fazenda já reconheceu, no fim de agosto, que a meta do ano será difícil de alcançar sem “mudanças de rota”, nas palavras do ministro Guido Mantega.

Jogou a toalha - Para Alex Agostini, economista da agência de risco Austin Ratin, o fato de o governo aparentemente ter “jogado a toalha” em relação ao superávit contribui para o paradoxo econômico que o país vive. “Creio que a dissociação entre política monetária e fiscal é o que tem mais pesado para o quadro de atividade econômica fraca e inflação em alta”, diz. Os economistas Samuel Pessôa e Carlos Kawall defendem que a meta deveria ser menos ousada, desde que fosse perseguida.

Salário - Lucas Dezordi, da Universidade Positivo, destaca outro fator: o nível de salário, que se mostra incompatível com a produtividade. Ele avalia que o governo toma providências para isso – o projeto de lei orçamentária para 2015 prevê reajuste mais próximo da inflação para o salário mínimo –, mas categorias do funcionalismo vão na direção oposta. “Temos de discutir se o mínimo pode ter reajuste de 7,5% e os juízes podem subir o próprio salário em mais de 20%. Daí quebra o país”.

 

Fonte: Gazeta do Povo

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