Brasil

Pequenas do turismo querem fatia da Copa

A expectativa dos pequenos e médios empresários com atividades ligadas ao turismo é que a Copa do Mundo do ano que vem ajude a amadurecer os mercados de segmento


Publicado em: 11/12/2013 às 09:30hs

Pequenas do turismo querem fatia da Copa

A expectativa dos pequenos e médios empresários com atividades ligadas ao turismo é que a Copa do Mundo do ano que vem ajude a amadurecer os mercados de segmento, multiplicando o número de turistas estrangeiros. Divulgação, parcerias com operadoras e qualificação profissional são o foco dos empresários no preparo para o ano que vem.

"Nada virá por inércia: é preciso que os provedores desse tipo de serviço saibam aproveitar a oportunidade para captar essa demanda e trabalhem ativamente para isso", disse ao DCI o ministro do Turismo, Gastão Vieira. Para ele, em tempos de grandes eventos, como a Copa, muitas pessoas têm vontade de sair das grandes cidades, para fugir do movimento, gerando oportunidades para espaços no interior.

Os pequenos empresários, por outro lado, ainda enfrentam dificuldades para comercializar seus produtos e atrair mão de obra qualificada, principalmente em cidades de menor porte. "O foco do turismo brasileiro é muito voltado a outros segmentos: sol e praia", afirma Fabiana Ribeiro, da Associação Brasileira de Turismo Rural (Abraturr). Segundo ela, o desenvolvimento de roteiros rurais, por exemplo, é recente no Brasil e, por mais que já haja estruturas qualificadas para receber turistas, dificuldades nas vendas prejudicam os negócios.

Para Fabiana, as agências de viagem dão prioridade à comercialização de produtos de turismo em massa, porque a maior capacidade de atendimento facilita as vendas. Como os empreendimentos menores têm capacidade para atender apenas grupos pequenos, a abrangência desses produtos acaba limitada.

No caso da Fazenda Carnielli, produtora de café das montanhas capixabas, no Espírito Santo, cerca de 80% dos turistas vêm de um entorno de 300 quilômetros, diz o empresário Leandro Carnielli. E a fatia dos visitantes internacionais ainda é pequena. Do total de mil turistas que a propriedade recebe por semana, em média 50 deles são estrangeiros.

Com a Copa do Mundo no meio do ano que vem, empresários como ele esperam que mais pacotes de turismo em cidades menores sejam comercializados nas agências de viagem, trazendo o público estrangeiro. É o caso do Hotel Fazenda São João, localizado em São Pedro, município que fica próximo a Piracicaba (SP). O hotel, que costuma receber famílias e grupos fechados de empresas, terá uma série de atividades por conta da Copa. O proprietário Sérgio Passos afirma que o empreendimento terá, aliás, uma campanha de pacotes de Carnaval com abadás alusivos ao mundial, além de várias atividades de lazer e recreação esportivas. Para atrair mais turistas, o hotel tem firmado parcerias e busca apoio da prefeitura para divulgar o destino. "Temos de aproveitar as belezas da cidade de São Pedro, do turismo contemplativo, com vistas maravilhosas, parques e cachoeiras", comentou Passos.

Outra que administra uma propriedade no interior e está atenta às parcerias para popularizar o seu negócio é a empresária Maria Lúcia Leão. Dona de uma área com um engenho de cana-de-açúcar em Itambé, a 90 quilômetros de Recife (PE), ela afirma que a fatia do público internacional é, hoje, de 10% do total, mas certamente irá crescer em 2014. Segundo ela, mesmo com parcerias com operadoras internacionais há dificuldade em divulgar o roteiro. Além disso, atrair mão de obra qualificada é tarefa difícil, pois a propriedade fica em lugar de difícil acesso.

Tanto Maria Lúcia quanto Carnielli participaram de uma rodada de negócios promovida pelo Instituto de Desenvolvimento do Turismo Rural (Idestur), onde 35 representantes de roteiros de todo o País ofereceram seus produtos a dez operadoras de turismo. A estimativa é de que o encontro tenha promovido R$ 7 milhões em negócios, 5,6% a mais do que os R$ 6,63 milhões apurados em 2012. "Sentimos que o turismo está amadurecendo. Os brasileiros estão viajando mais e precisamos aproveitar esta oportunidade, assim como os grandes eventos internacionais do ano que vem", afirmou a presidente do Idestur, Andréia Roque.

Na mesma linha de raciocínio, 23 roteiros de turismo rural localizados nos entornos das cidades-sede da Copa estão recebendo apoio do Ministério do Turismo (MTur), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Segundo Cristiano Borges, técnico responsável pelo turismo rural do MTur, o objetivo do programa, iniciado em 2010, é qualificar os roteiros para receber os turistas da Copa do Mundo. "Estamos inserindo a agricultura familiar no turismo".

A gestora do segmento de turismo rural do Sebrae, Andréa Faria diz que o apoio serve para tornar os empreendimentos viáveis nos aspectos econômico, social e ambiental. "Apenas nas montanhas capixabas são cerca de 165 empreendimentos." Para o secretário nacional de Políticas de Turismo, Vinícius Lummertz, "o projeto é um instrumento para gerar trabalho e renda para agricultores familiares, reforçando o processo de gestão, a promoção e a comercialização dos produtos". Lummertz avalia que o turismo no interior vem se consolidando no Brasil nos últimos anos, pelo desejo do homem urbano voltar a se relacionar com o campo. "E essa demanda começou a ser atendida pelo agricultor que precisava de uma fonte alternativa de renda." A carência de informações sobre o segmento, entretanto, é uma das dificuldades, afirma Cristiano Borges, do MTur. Nas estimativas da Abraturr, há pelo menos 1.500 empreendimentos rurais que atuam no turismo de que se tem conhecimento.

Alternativas

Com incertezas em relação à cotação do dólar no ano que vem, o turismo no interior pode ser mais uma alternativa para às agências de viagem. Na avaliação de Dandara Soares, coordenadora comercial da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), caso a moeda norte-americana fique mais cara, as rotas internacionais podem dar lugar a destinos nacionais, como os roteiros do campo. "O dólar não está ruim, mas é preciso começar a avaliar alternativas", declarou.