Publicado em: 05/08/2013 às 19:30hs
Para parte dos economistas, no entanto, essa mudança não é necessariamente sinônimo de crise e pode representar oportunidades para setores exportadores, como a indústria.
Preparação - O Valor perguntou aos colaboradores do seu serviço de coleta de projeções, o Valor Data, como o país deve se preparar para enfrentar a perspectiva de redução da liquidez global, com a diminuição de estímulos monetários já sinalizada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), e a menor velocidade de expansão da economia chinesa.
Liquidez externa - Fernando Genta, economista-chefe da MCM Consultores, estima que a abundante liquidez externa contribuiu, em média, com um ponto percentual do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro entre 2003 e 2011. Para ele, o país não aproveitou o período de bonança em toda sua potencialidade, mas ainda há espaço para virar o jogo. O governo, afirma, precisa reconquistar a confiança dos agentes econômicos na política fiscal, cuja credibilidade foi perdida nos últimos anos, e trabalhar para reduzir o custo Brasil.
Mudanças estruturais - Para Paulo Pereira Miguel, economista-chefe da Quest Investimentos, o Brasil enfrentará mudanças estruturais nos próximos anos, mas não se pode considerar o novo cenário como sinônimo de crise, até porque a recuperação da economia americana "é uma boa notícia para todos no médio prazo, a despeito da incerteza sobre o ritmo de aperto das condições monetárias."
Consumo - No caso da China, diz Miguel, o consumo tende a ganhar espaço, "o que oferece novas oportunidades, inclusive para o Brasil, que precisa aproveitar o novo cenário, com câmbio mais desvalorizado, para reconfigurar a indústria e alavancar a capacidade exportadora". A ideia é que o país pode dar a volta por cima a partir de 2015 com maior responsabilidade fiscal e retomada da agenda de reformas estruturais. "Mas até lá as incertezas serão altas e é preciso reconhecer e trabalhar com o risco de cenários mais adversos."
Base mais forte - O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, destaca que o crescimento chinês se dará sobre uma base muito mais forte daqui para frente, o que sustentará a demanda por produtos brasileiros em patamar elevado. Borges também diz que um cenário de menor liquidez global pode trazer vantagens por causa da desvalorização do real, abrindo espaço para uma "reindustrialização" da economia. De qualquer modo, para que esse processo seja bem-sucedido, o economista da LCA acredita que serão necessárias medidas que reduzam o custo Brasil.
Fluxo de capitais - A menor liquidez global também não deve minar a capacidade de atração de fluxos de capitais do país, na opinião de Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Para ele, o Brasil será sempre "candidatíssimo" a atrair capital estrangeiro. "Acho que melhorando minimamente a confiança com medidas que só foquem na produtividade, no melhor ambiente de 'equity' e na sustentação e transparência fiscal de longo prazo, não faltarão jamais fluxos de financiamento por investimento no país."
Apetite - Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, pondera que o apetite pelo risco dos países emergentes nesse cenário tende a se reduzir, e o Brasil, para se destacar, precisará se sair melhor em termos relativos. Nesse caminho, diz Thaís, é essencial reconquistar a credibilidade. "Evitar o rebaixamento pelas agências de classificação de risco seria a cereja do bolo."
Infraestrutura - Para Daniel Moreli Rocha, economista do Indusval & Partners, a saída para enfrentar o cenário global de menor liquidez está em "uma de nossas grandes fraquezas, a infraestrutura". Já Roberto Padovani, da Votorantim Corretora, afirma que o Brasil deve manter a disciplina na gestão macroeconômica.
Providências - José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, considera "substancial" o risco de o país devolver a parte dos avanços conquistados entre 2005 e 2010, mas duas providências ainda podem entrar na agenda: a diversificação das parcerias comerciais e a implementação de ganhos de produtividade.
Mais crítico - Em tom um pouco mais crítico, Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, avalia que o Brasil já deveria estar se preparando para essa nova fase da conjuntura global. Como a "lição de casa" não foi feita, um dos resultados possíveis é um período de baixo crescimento.
Mudança positiva - Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, discorda da visão de que a desvalorização do câmbio pode trazer benefícios ao país. Só haveria alguma mudança positiva para a economia, em sua opinião, se o governo voltasse "ao padrão crível" de reformas e ao tripé macroeconômico.
Fonte: ASSESSORIA DE IMPRENSA DA OCEPAR/SESCOOP-PR
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