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IPCA-15 desacelera para 0,58% em maio

Após quatro altas mensais seguidas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial do país, desacelerou, ao passar de 0,78% em abril para 0,58% em maio


Publicado em: 23/05/2014 às 18:40hs

IPCA-15 desacelera para 0,58% em maio

O resultado, divulgado nesta quarta-feira (21/05) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), animou o governo, mas não teve o mesmo efeito entre os economistas, que continuam vislumbrando dinâmica negativa para os preços neste ano. Apesar da perda de fôlego na passagem de abril para maio, a inflação acumulada em 12 meses ainda ganha ritmo, ao subir de 6,19% para 6,31% no período.

Comportamento mensal- Ao comentar os dados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se ateve ao comportamento mensal do IPCA-15. A desaceleração no último mês, segundo ele, "significa que a inflação está caindo firmemente e vai continuar caindo nos próximos meses". Com diversos alimentos entrando em deflação, após fortes elevações registradas nos últimos meses em decorrência da seca, o grupo alimentação contribuiu significativamente para o arrefecimento na pressão inflacionária. Em maio, a alta foi de 0,88%, menos da metade do avanço de 1,84% contabilizado em abril.

Transporte - Ajuda importante também veio de transportes, que após subirem 0,54% em abril, caíram 0,33% em maio. A deflação foi puxada por passagens aéreas, que baixaram 21,26% neste mês, além de combustíveis, com quedas de 1,13% no etanol e 0,03% na gasolina. "Em maio e junho, [a inflação] vai continuar caindo. O etanol já está entrando no mercado, uma safra boa, também vai baixar o combustível. O cenário é positivo em termos de inflação", reforçou Mantega. "Vários preços caíram. Portanto, estamos no caminho certo."

Continuidade - Os analistas concordam com a perspectiva de continuidade na perda de ritmo da inflação mensal até meados do ano, mas esse fator, dizem, está longe de ser sinônimo de melhora no quadro geral.

Ressalvas - Para Patrícia Pereira, gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos, a menor variação no IPCA-15 deve ser vista com ressalvas. "Essa desaceleração está baseada em itens muito voláteis. Se houver uma surpresa no câmbio ou qualquer outro choque, facilmente o IPCA romperá o teto da meta [em 12 meses]", diz ela, que projeta elevação de 0,50% no IPCA de maio. Sem considerar esses riscos, Patrícia já prevê alta de 6,40% no IPCA em 2014. "Se os serviços subirem por causa da Copa, será complicado, porque esses preços dificilmente cederiam após o mundial. No caso do câmbio, embora haja uma percepção do mercado de que o dólar está abaixo da cotação esperada, não se trabalha com valores mais altos por conta da inflação alta", observa.

Núcleos - Ela ainda chama a atenção para os núcleos de inflação, medidas que buscam tirar do indicador os itens que provocam instabilidade, de forma que se possa verificar com maior clareza a tendência dos preços. Apesar da desaceleração do IPCA-15 entre abril e maio, a média dos três principais núcleos do indicador (dupla ponderação, exclusão e médias aparadas) seguiu em direção contrária, avançando de 0,53% para 0,60% no período. "Isso é um mau sinal para os próximos meses", avalia a gestora da Mongeral, acrescentando que o índice de difusão, que mede quantos dos itens pesquisados no IPCA-15 subiram, também aponta para uma inflação pressionada.

Alimentos - Mesmo com vários alimentos em deflação, o indicador mostrou que 67,4% dos itens analisados pelo IBGE tiveram alta em maio - patamar que supera a média dos últimos cinco anos, de 62,8%, pelos cálculos do economista da Rosenberg & Associados, Leonardo França Costa. Para ele, a inflação acumulada em 12 meses chegará a 6,7% em julho, mantendo-se acima do teto da meta até o fim do ano. "Uma desaceleração na inflação acumulada em 12 meses é esperada apenas no quarto trimestre, com o IPCA fechando o ano em 6,3%", prevê Costa, que estima alta de 0,51% no IPCA de maio.

Preços administrados- Os preços administrados, que subiram 1,01% no IPCA-15 deste mês - quase o triplo da alta de 0,35% de abril - continuarão acelerando até o fim de maio, segundo o economista da Rosenberg. O aumento foi puxado por energia e medicamentos, que subiram 3,76% e 2,10%, respectivamente, e juntos elevaram em 0,17 ponto percentual o IPCA-15 de maio.

Tarifas de ônibus- Costa ressalta que o reajuste nas tarifas de ônibus no Rio Grande do Sul também ajudou a pressionar os administrados e, até o fim de maio, outros aumentos em transportes farão com que o grupo suba ainda mais. "Já temos reajuste de ônibus em Belo Horizonte e de metrô e trem no Rio", diz.

Pico - Costa acredita que o pico de alta em administrados neste ano ocorrerá no IPCA de maio, desacelerando nos meses seguintes. Mas o cenário, adverte, não é confortável. Os reajustes aplicados pelas distribuidoras às tarifas de energia, segundo ele, devem continuar em dois dígitos. Até o momento, o reajuste médio foi de 15% e não inclui importantes capitais. "Em São Paulo, devemos ter um reajuste um pouco menor, em torno de 10% neste ano, mas no Rio a conta pode vir maior", comenta.

Energia e medicamentos- A inflação só continuará perdendo ritmo em maio, destaca Patrícia, porque os preços dos alimentos prometem manter trajetória declinante. Segundo ela, tanto energia como medicamentos devem subir mais no IPCA que no IPCA-15. Em relatório enviado a clientes, a LCA Consultores projeta alta de 0,50% para o grupo alimentação no IPCA de maio - menor, portanto, que a elevação de 0,88% registrada pelo IPCA-15 desse mês.