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Investidores reduzem aposta em dólar a R$ 2,45

O discurso com um tom mais dovish (favorável ao afrouxamento monetário) da indicada à presidência do Federal Reserve (Fed, Banco Central americano), Janet Yellen, no Senado americano, na semana passada, afastou a possibilidade de o dólar voltar a testar a marca de R$ 2,45 alcançada em agosto, maior nível em quase cinco anos


Publicado em: 18/11/2013 às 12:10hs

Investidores reduzem aposta em dólar a R$ 2,45

Isso porque o tom de Yellen reduziu a expectativa de um início da retirada dos estímulos monetários já neste ano, desarmando posições de quem previa o tapering no mês que vem. Apesar de analistas concordarem que há algum espaço para um respiro do real, a piora da percepção sobre os fundamentos do Brasil vai seguir botando alguma pressão na moeda local e pode impedir que o real acompanhe a melhora generalizada das divisas emergentes.

Yellen, que substituirá Ben Bernanke como líder do Fed em fevereiro de 2014, defendeu as medidas agressivas adotadas pelo Banco Central americano para estimular o crescimento econômico e classificou os esforços para impulsionar a geração de empregos como imperativos .

A possibilidade de o Fed iniciar a diminuição das injeções mensais de liquidez ainda neste ano havia ganhado força desde o fim de outubro, quando, ao decidir o rumo da política monetária americana, o Fed soou ao mercado menos dovish que o esperado e não deu grande destaque ao impacto da paralisação do governo federal em outubro para a economia. Essa visão foi reforçada por dados bem acima do esperado do Produto Interno Bruto (PIB) e do mercado de trabalho americanos.

Na visão do estrategista para a América Latina do Standard Chartered Bank, Italo Lombardi, a taxa de câmbio deve continuar volátil, reagindo a cada divulgação de dados econômicos dos Estados Unidos. No entanto, não deve voltar a atingir o nível verificado em agosto, de R$ 2,45, fechando o ano abaixo de R$ 2,30. Esse risco, contudo, é maior em 2014, quando o banco espera que o Fed comece a retirar os estímulos monetários a partir de junho.

Nesse cenário, as moedas de países com fundamentos econômicos mais fracos como Brasil, México, Turquia, Índia e África do Sul seriam as mais impactadas, de acordo com a estrategista de câmbio para América Latina do Royal Bank of Scotland (RBS), Flavia Cattan-Naslausky. Mas, apesar dos riscos, Flavia não prevê que o real possa voltar às mínimas. O BC não vai deixar o dólar passar dos R$ 2,45, dado o impacto que isso teria para a inflação , argumenta.

O RBS espera que o Fed inicie a retirada dos estímulos em março e, nesse, cenário, a estrategista do banco vê a necessidade de o BC estender o programa de intervenção diária no mercado de câmbio para o ano que vem.

Desde agosto, países como o Brasil, Índia e Turquia anunciaram medidas para tentar conter a desvalorização de suas moedas. Para Lombardi, do Standard Chartered, o programa de intervenção do Banco Central, anunciado em 22 de agosto - e que prevê a venda de até US$ 60 bilhões até o fim do ano por meio de leilões de swap cambial e venda de dólares com compromisso de recompra -, não é tão agressivo e foi uma medida para trazer mais clareza para o mercado e mostrar que o BC estava agindo para conter uma desvalorização mais forte do câmbio. Não vemos, no entanto, medidas efetivas do governo no corte de gastos públicos , destaca.

A estrategista do RBS acrescenta que, no caso do Brasil, ainda há fatores internos que podem continuar trazendo pressão de baixa para o real, como o mau humor dos investidores em relação à situação fiscal, que intensificou nas últimas semanas o temor de um rebaixamento da nota de classificação de risco do país. Sem um choque positivo em termos de política econômica, não vejo espaço para uma mudança de perspectiva para o país.

O estrategista de câmbio para mercados emergentes do UBS, Gustavo Arteta, concorda que a situação fiscal do Brasil inspira cautela, mas não acredita que os números já sejam suficientes para garantir um rebaixamento do rating no ano que vem. Com base nessa avaliação e na elevação da Selic em curso pelo BC, Arteta estima que o real pode experimentar algum alívio até o fim do ano e fechar em R$ 2,15, perto das mínimas alcançadas em outubro. O BC deve elevar a Selic a dois dígitos, e esse aperto monetário vai atrair fluxos que vão dar suporte ao real , afirma. O profissional prevê que o dólar termine 2014 em R$ 2,30 e suba a R$ 2,40 no fim de 2015.

Arteta acredita que, para o Banco Central, o nível entre R$ 2,15 e R$ 2,25, por ora, seria mais confortável, mas, por outro lado, o governo está mais inclinado para algo em torno de R$ 2,40, devido ao impacto sobre a competitividade do setor produtivo.

A atuação do BC é outro aspecto que leva investidores a prever uma desvalorização mais suave do real no próximo ano. O mercado já trabalha com a rolagem integral dos US$ 10,11 bilhões em swaps cambiais tradicionais que vencem na virada do mês. Na quinta-feira antes do feriado, o BC concluiu a rolagem de mais US$ 1 bilhão em contratos de swap cambial tradicional com vencimento para 2 de dezembro. O volume é o mesmo das duas ofertas anteriores referentes ao lote de swaps que vence no próximo mês e elevou a US$ 3 bilhões o montante já substituído.

O BC vai agir na medida em que sentir necessidade. Certamente, o quadro que temos agora não é o mesmo de agosto, quando ele anunciou o programa de leilões. Então não vejo motivos para uma intensificação das ofertas, embora a rolagem total já seja dada como certa , diz o chefe de análise da XP Investimentos, Caio Sassaki.

Fonte: Canal do Produtor

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