Brasil

INFLAÇÃO: IPCA de julho será o menor do ano, preveem analistas

A sazonalidade favorável dos alimentos in natura e o recuo das passagens aéreas devem garantir perda de fôlego relevante da inflação ao consumidor em julho, mesmo com o impacto do reajuste de 18% das tarifas de energia elétrica em São Paulo


Publicado em: 08/08/2014 às 10:20hs

INFLAÇÃO: IPCA de julho será o menor do ano, preveem analistas

Para economistas, a parte de alimentação e bebidas pode voltar a subir em agosto, mas sem mostrar altas expressivas, cenário benigno que, junto à fraqueza da atividade, elevou as chances de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrar o ano abaixo do teto da meta perseguida pelo BC, de 6,5%.

Desaceleração - Após ter aumentado 0,40% em junho, a média de 19 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que o IPCA desacelerou para 0,10% no mês passado, número que, se confirmado, será a menor taxa mensal do indicador oficial de inflação em 2014. As estimativas para o dado, a ser divulgado amanhã pelo IBGE, vão de avanço de 0,05% a 0,14%. Como, no ano passado, a inflação de julho foi mais baixa - 0,03% - o IPCA acumulado em 12 meses deve passar de 6,52% em junho para 6,6% na medição atual. A expectativa é que o índice volte a ficar abaixo de 6,5% somente no fim do ano.

Alimentos e bebidas - Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, estima que o IPCA cedeu para 0,10% neste mês, com recuo de 0,10% no grupo alimentação e bebidas. Essa deflação é quase idêntica à registrada em junho (0,11%). Segundo Adriana, a desaceleração prevista de 0,82% para 0,50% no segmento de alimentação fora de casa deve compensar a redução, de 0,60% para 0,42%, na retração dos alimentos no domicílio. "Hortaliças, verduras e frutas estão apresentando quedas menores", diz.

Recuo de preços - Por outro lado, Adriana observa que os preços de parte dos tubérculos, raízes e legumes ainda está recuando ao produtor, o que permite prever deflação para os alimentos ao consumidor até a medição de agosto do IPCA-15. No fim desse mês, ela espera que o grupo volte ao terreno positivo, mas sem pressionar a inflação. "O grupo alimentação e bebidas não será pressão nos próximos dois meses", afirma a economista.

Corte - Natalia Cotarelli, do banco BI&P, cortou a projeção para a alta do IPCA em 2014, de 6,50% para 6,32%, em função da tendência mais comportada que os alimentos mostraram em julho. Ela calcula que os preços de alimentação e bebidas ficaram 0,15% menores no mês passado, influenciados principalmente pelos produtos in natura, mas também por aves e carnes.

Passagens aéreas - Além dos alimentos, Natalia aponta que a deflação de 26,7% das passagens aéreas, capturada pelo IPCA-15 de julho, foi outra surpresa recente que diminuiu as perspectivas para o resultado do fim do mês. Como, pela metodologia do IBGE, essa taxa é repetida no IPCA fechado, a analista prevê que o grupo transportes deixou alta de 0,47% em junho para redução de 0,80% no mês passado, mesmo com retração mais branda nos preços de combustíveis.

Vestuário - Em relatório, a LCA Consultores aponta que os artigos de vestuário serão outro fator de alívio ao IPCA de julho, ao cederem 0,17%, após terem subido 0,49%, devido às liquidações no fim do inverno. A consultoria estima que o índice oficial de inflação desacelerou para 0,11% na medição atual, puxado pelos alimentos e pela perda de ímpeto das diárias de hotéis. Com o aquecimento da demanda provocado pela Copa, esses preços chegaram a saltar 25,3% em junho.

Serviços - Adriana, da Tendências, projeta que a inflação de serviços diminuiu de 1,1% para 0,2% na passagem mensal, principalmente em função da queda de passagens aéreas e do arrefecimento na parte de alimentação fora de casa e de itens de recreação. O desaquecimento do mercado de trabalho e a atividade mais fraca devem contribuir para que os preços do setor encerrem 2014 com alta de 8,15%, um ponto percentual abaixo do nível atual. Mesmo assim, Adriana avalia que os próximos meses não devem repetir taxas mensais tão baixas como em julho.

Habitação - Na contramão dos grupos com maior peso no IPCA, os analistas projetam que os preços de habitação subiram no mês passado, tendo em vista a correção de 18% nas contas de luz da Eletropaulo, em 4 de julho. Para Adriana, as tarifas de energia elétrica residencial adicionaram 0,1 ponto ao indicador de inflação do mês, ao aumentarem 3,85%. Devido a esse impacto, ela calcula que o grupo habitação avançou de 0,55% para 1,05%.

Acima do esperado - A economista afirma que os reajustes de energia têm ficado acima do esperado, mas, por outro lado, o desconto da Sabesp para consumidores que diminuem o gasto de água - que deve ser incorporado no cálculo do IPCA em todos os meses - e a redução das tarifas de telefonia fixa são fatores que podem compensar parte do impacto de alta das contas de luz. Por isso, e também devido ao ambiente de crescimento fraco, a Tendências avalia que não é necessário revisar para cima a estimativa de avanço de 6,3% para a inflação em 2014.