Publicado em: 15/09/2014 às 17:40hs
A geração de empregos formais somou 101.425 postos em agosto, conforme dados apresentados ontem pelo Ministério do Trabalho. Trata-se do pior resultado para mês em dois anos e de uma queda de 20,5% na comparação com igual período de 2013. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontam ainda que a maioria das vagas foi criada pelo comércio e pelos serviços, onde os requisitos de qualificação profissional e as remunerações são menores. Para agravar a situação, os ganhos salariais perderam fôlego. Enquanto o indicador cresceu 4,4% em 2013, nos últimos 12 meses encerrados em agosto, a expansão foi de só 0,7%.
A desaceleração da abertura de vagas também ficou clara no acumulado de 2014. De janeiro a agosto foram criados 751.456 postos, queda de 31,62% na comparação com os oito primeiros meses do ano passado. Para o ministro do Trabalho, Manoel Dias, os números são compatíveis com o momento econômico brasileiro e mundial. Ele destacou que, enquanto a Europa está em recessão e os Estados Unidos não recuperaram o nível de emprego anterior à crise mundial de 2008, o país mantém saldos positivos. E reclamou de uma suposta campanha pessimista em relação à economia.
"Vamos manter nossa meta de criar 1 milhão de empregos em 2014. O resultado de agosto é uma tendência e vamos observar isso nos próximos meses", avaliou. O ministrou negou que a divulgação do Caged foi antecipada para criar fato político favorável à presidente Dilma Rousseff, em busca da reeleição. Ele justificou dizendo que fez isso porque vai entrar de férias nas próximas semanas, para apoiar a campanha de seu correligionários do PDT. A chefe do Executivo comemorou o resultado do Caged, ressaltando que o Brasil abre vagas em paralelo a uma "crise mundial do emprego".
Dilma acrescentou que está bastante otimista com a capacidade de recuperação da economia. "Estou extremamente satisfeita com os dados e gostaria que o número (de empregos formais criados) fosse muito maior", comentou. Entre os setores acompanhados pelo Caged, a indústria de transformação registrou o quinto saldo negativo seguido. A Agricultura também fechou mais postos de trabalho que abriu, fato justificado pelo governo em razão da entressafra de algumas lavouras.
Alheio às discussões, Wellington da Silva Cardoso, 28 anos, está desempregado há seis meses. O carpinteiro tem se virado fazendo bicos como instalador de som automotivo e aplicador de películas em vidros de carros. "Sou casado, tenho dois filhos e quando não faço nada atraso a prestação da casa e as contas de água e de luz", contou. Já a publicitária Eliane Neri, 27, voltou ao mercado após um mês desocupada. "Tenho curso superior e planejo melhorar meu inglês e fazer uma pós-graduação a partir do próximo ano. Só tem dificuldade para conseguir emprego quem não tem qualificação", resumiu.
Desaceleração
Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), observou que a evolução dos ganhos salariais dos trabalhadores é o dado mais preocupante da pesquisa do MTE. Nas estimativas dele, enquanto a remuneração dos empregados cresceu 4,4% em 2013, nos últimos 12 meses encerrados em agosto esse indicador desacelerou para uma alta de só 0,7%. "Com o mercado de trabalho perdendo força e salários com baixo crescimento, o comércio cresce menos, sobretudo pela inflação em alta. Também temos o problema do crédito mais caro", explicou.
Para Carlos Alberto Ramos, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), a desaceleração do mercado de trabalho é natural porque a taxa de desemprego está baixa. Ele comentou que o crescimento econômico requer ganhos de produtividade, algo que considera complexo. "Isso só ocorrerá por meio da qualificação profissional e da educação, além da melhoria da Infraestrutura, do desenvolvimento tecnológico e de mais inovação. Mas esse é um processo lento", lamentou.
Fonte: Correio Braziliense
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