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EDITORIAL: Torcer pela China

Mais do que nunca o Bra­sil depende do vigor eco­nômico da China, princi­pal destino de suas exporta­ções, e do sucesso do progra­ma de reformas implantado pe­las autoridades de Pequim


Publicado em: 10/06/2014 às 11:20hs

EDITORIAL: Torcer pela China

Em relação aos dois pontos as notí­cias são boas, por enquanto, se­gundo avaliam o Fundo Mone­tário Internacional (FMI) e ou­tras instituições multilaterais. A importância da China para o comércio do Brasil aumentou e consolidou-se desde a virada do século. Em 2000, as expor­tações para o mercado chinês proporcionaram receita de US$ 1,08 bilhão, ou 1,97% da re­ceita comercial. No ano passa­do o mercado chinês absorveu produtos brasileiros no valor de US$ 46,03 bilhões, equiva­lentes a 19% do total faturado pelos exportadores nacionais.

A relevância desse intercâm­bio continua aumentando. Nes­te ano, até maio, as vendas bra­sileiras ao mercado chinês ren­deram US$ 19,09 bilhões, ou 21,2% da receita comercial do período. A prosperidade chine­sa é também essencial para a Ásia e, portanto, para a economia brasileira. A região impor­tou do Brasil, nos cinco primei­ros meses deste ano, US$ 31,43 bilhões, 34,9% das vendas to­tais do País até o mês passado, US$ 90,06 bilhões.

Em contrapartida, os expor­tadores chineses conquista­ram espaços no mercado brasi­leiro, com vendas de US$ 15,76 bilhões neste ano, até maio, 16,6% do total comprado pelo País. O valor importado da Ásia, US$ 30,44 bilhões, corres­pondeu a 32,1% do total da des­pesa. A União Europeia, em se­gundo lugar na classificação de regiões e blocos, teve uma par­ticipação de 20,7%, com ven­das de US$ 19,67 bilhões.

Por enquanto, as perspecti­vas de crescimento da China e da maior parte da Ásia conti­nuam muito boas. A economia chinesa cresceu 7,7% no ano passado e deve crescer 7,5% neste ano e 7,3% no próximo, de acordo com as projeções do FMI, muito parecidas com as de outras instituições. Para a Ásia emergente o Fundo proje­ta expansão de 6,7% em 2014 e de 6,8% em 2015. Para o Japão, as estimativas são bem mais modestas, 1,4% e 1%, números próximos daqueles observados nos últimos dois anos.

O programa chinês de refor­mas vem sendo cumprido com sucesso, avalia o FMI, mas a agenda ainda inclui uma lista de problemas importantes. A pauta de mudanças ganhou importância a partir da crise inter­nacional iniciada em 2007. Se­ria preciso tornar o crescimen­to menos dependente das ex­portações, aumentar o peso do consumo, reorientar os investimentos, dando maior impor­tância a projetos de Infraestrutura, e passar a limpo as finan­ças públicas e o crédito.

Nos últimos anos, foram identificadas vulnerabilidades no mercado imobiliário, em linhas de financiamento menos controladas e nas contas dos governos subnacionais, pesada­mente endividados. Ainda em abril o vice-ministro de Finan­ças, Wang Baoan, chamou a atenção para o vencimento, em prazo muito curto, de cer­ca de 22% das dívidas acumula­das pelos governos locais.

Na área fiscal, o fortaleci­mento das finanças dos gover­nos locais é um "desafio-chave", segundo o FMI. Essa tare­fa inclui o reequilíbrio de receitas e de despesas, assim como a melhora dos padrões de ad­ministração e de supervisão do endividamento desses gover­nos. O FMI também defende uma Reforma Tributária, com maior ênfase no imposto sobre a renda pessoal e extensão do imposto sobre o valor agrega­do aos serviços. No Brasil, essa extensão ocorreu com a Cons­tituição de 1988, quando o ICM foi convertido em ICMS.

Por enquanto, a agenda chi­nesa de reformas vem sendo executada com razoável suces­so. O governo tem metas de longo prazo e parte de posição sólida nas contas externas e de um nível de poupança elevado.

Ao Brasil e a outros países muito dependentes do merca­do chinês resta torcer pelo êxi­to do programa de reformas e pela manutenção de altas taxas de crescimento na China. O su­cesso brasileiro seria mais ga­rantido se as autoridades de Brasília também se empenhas­sem nas reformas indispensá­veis - nas áreas fiscal e tributá­ria, por exemplo. Mas isso está fora do radar, por enquanto.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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