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ECONOMIA: Fatia do Brasil no fluxo global cai e acende luz amarela

Alguns analistas concordam que o fluxo de investimento externo direto continua firme mesmo em meio ao mau humor com relação à economia brasileira, mas ponderam que a decomposição dos números mostra que há com o que se preocupar


Publicado em: 09/06/2014 às 20:00hs

ECONOMIA: Fatia do Brasil no fluxo global cai e acende luz amarela

Segundo Luis Afonso Fernandes Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), é preciso "qualificar melhor" essa estabilidade dos números.

Sinais de alerta - Na comparação internacional, ressalta Lima, os sinais são de alerta. Em 2012 o Brasil ficou com 5% do IED global, percentual que caiu para 4,3% em 2013. Neste ano, considerando a mesma taxa de crescimento do IED global do ano passado e estimativa da Sobeet de US$ 55 bilhões de fluxos para o Brasil, o percentual deve cair para 3,6%. Mesmo considerando-se as expectativas de mercado, que projetam um volume de IED de US$ 60 bilhões, essa fatia também recua, para 3,8% do IED global. "Enquanto isso, outros países, como o México, aos poucos vão ganhando participação. Na verdade, estamos indo bem em termos", diz Lima.

Índice de Confiança - Dados da A.T. Kearney corroboram o quadro ao indicar que o Brasil caiu da terceira para a quinta posição no Índice de Confiança de Investimento Estrangeiro Direto de 2014, espécie de termômetro global. A consultoria, contudo, lembra que o país se manteve entre os cinco destinos preferidos de investimentos produtivos pelo quarto ano consecutivo.

Divisão dos fluxos - Outro ponto crucial para entender por que a decomposição dos números acende uma luz amarela é a divisão dos fluxos de IED entre empréstimos intercompanhia - no geral, operações de tesouraria feitas para aproveitar arbitragem de taxas de juros - e participação no capital, recursos usados na criação, ampliação ou aquisição de negócios. Embora tenha havido melhora nessa composição no período janeiro-abril, analistas avaliam que em um prazo maior o cenário é menos animador. "Há queda constante da participação do capital compensada pelo elevação dos empréstimos intercompanhia. Uma hipótese é que o diferencial de juros esteja atraindo esse tipo de capital", diz José Carlos de Faria, economista-chefe do Deutsche.

Participação - Em abril, do fluxo de IED, 68% corresponderam à participação de capital e 32% a empréstimos intercompanhia. A questão, diz Lima, da Sobeet, é que os percentuais diferem bastante das médias registradas desde 1995, de 87% para participação de capital e apenas 13% para intercompanhia.

Inversão de posição - Olhando a composição do IED por setor, chama a atenção a inversão de posições entre indústria e serviços. O aspecto negativo disso, diz Lima, é que esse fluxo busca cada vez mais aproveitar o aumento de renda, por meio de serviços como telecomunicações e comércio, os quais, no longo prazo, não ajudam a financiar o déficit em conta corrente porque geram cada vez menos exportações. "Em décadas passadas, o Brasil era visto como plataforma de exportações para a América Latina. Hoje isso deixou de ser uma opção e as empresas que vêm para cá olham a demanda interna como oportunidade que elas não têm lá fora. O foco mudou, gerando benefícios decrescentes para a balança comercial."

Saldo - Afora todas essas preocupações, Lima lembra ainda que a parcela do IED que financia o saldo em conta corrente é decrescente. Em 2013, os US$ 64,046 bilhões de investimentos diretos não foram suficientes para cobrir o rombo de US$ 81,075 bilhões nas trocas com o exterior - algo que não acontecia desde 2001. Hoje 0,74% do PIB deixou de ser financiado pelo IED.

Possibilidade - Levando-se em conta a projeção do Focus de déficit de US$ 80 bilhões em conta corrente mais ingressos de US$ 55 bilhões em IED, é possível encerrar 2014 com o equivalente a 1,14% do PIB não financiado pelos investimentos externos diretos - a maior necessidade de financiamento externo para o ano desde 1997, diz Lima.