Brasil

Crescimento do PIB alivia impacto da Selic na dívida pública

Projeções otimistas e desafios fiscais marcam cenário econômico brasileiro


Publicado em: 20/09/2024 às 12:10hs

Crescimento do PIB alivia impacto da Selic na dívida pública

A recente elevação da projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024, anunciada pelo Ministério da Fazenda, de 2,5% para 3,2%, promete anular, no curto prazo, o efeito do aumento da taxa Selic sobre a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG). Economistas consultados pelo Broadcast estimam que a DBGG deverá situar-se em torno de 79% do PIB até o final deste ano. Contudo, para 2025, novas variáveis poderão intensificar a pressão sobre o endividamento, em um contexto de adversidades externas e deterioração da política fiscal interna.

A projeção da DBGG é influenciada por três fatores principais: o crescimento do PIB, a taxa Selic e o resultado primário. Calcula-se que cada aumento de 1 ponto percentual no PIB nominal resulte em uma redução de 0,4 pontos percentuais na relação dívida/PIB. Quando considerado o efeito total, incluindo o aumento nas receitas do resultado primário, essa redução pode chegar a -0,05 pontos percentuais. Em contrapartida, uma variação de 1 ponto percentual na Selic, mantida por um ano, implica um aumento de 0,4 pontos percentuais na relação DBGG/PIB.

De acordo com Ítalo Franca, economista do Santander Brasil, a maior parte do aumento da dívida contratada para este ano já foi concretizada, totalizando uma elevação de 4,1 pontos percentuais. “Um efeito [alta no PIB] acaba compensando o outro [alta da Selic]. Assim, um ciclo de alta de 100 pontos base para cada ponto na Selic terá um efeito contrabalançado pelo PIB maior”, explicou Franca. O mercado aguarda a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que deve anunciar hoje o início de um ciclo de aumento da taxa de juros, com elevação de 0,25 pontos percentuais, para 10,75% ao ano.

Para o longo prazo, a expectativa de uma Selic elevada, aliada ao enfraquecimento da economia, preocupa os agentes do mercado. Franca prevê um aumento de 4 pontos percentuais na dívida em 2025, dependendo do cumprimento das metas de resultado primário pelo governo. “A projeção do PIB surpreendeu positivamente este ano, mas para o próximo, com a possibilidade de aumento da Selic, provavelmente observaremos uma desaceleração”, avaliou.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, estima que a dívida pode atingir 82% do PIB em 2025, considerando um crescimento econômico abaixo do esperado, uma Selic média elevada e um déficit primário que já começa em R$ 75 bilhões. “Entre o final de 2022 e o próximo ano, haverá um acréscimo de 10 pontos percentuais na dívida, o que não se assemelha a um ajuste fiscal”, alertou.

Vale ressalta que, a partir de 2027, será necessário discutir metas que vão além do superávit, considerando também uma meta de dívida e uma nova regra para o resultado primário. “Chegamos a um ponto em que as regras fiscais precisarão ser ampliadas para evitar os vazamentos observados nas contas primárias. Isso exigirá um compromisso maior com o controle de gastos, uma vez que o limite para aumento da carga tributária já foi atingido”, afirmou.

Gabriel Barros, economista-chefe da ARX Investimentos e ex-diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), expressou preocupação não apenas com a economia nacional, mas principalmente com o cenário internacional. “Estou pessimista em relação ao contexto externo. A desaceleração da economia americana já está em curso e deve se intensificar nos próximos meses, resultando em uma desaceleração mais acentuada do que o esperado”, comentou.

Além do desempenho da economia dos Estados Unidos, Barros destacou a fragilidade da economia chinesa, que impacta diretamente as exportações de commodities do Brasil. Para 2025, ele acredita que a dívida continuará a crescer significativamente devido a esses desafios, além da dificuldade do governo em aumentar a arrecadação necessária para ajustes fiscais.

“No próximo ano, esse cenário estará evidente. O orçamento do governo está otimista, prevendo crescimento superior a 2,5%, o que considero excessivo; deve ser bem inferior a isso. O governo provavelmente terá menos receita do que projeta, tanto pela desaceleração global quanto pela diminuição do crescimento interno”, analisou.

Barros concluiu afirmando que, caso o governo não tome medidas para controlar os gastos e não consiga aumentar impostos diante da desaceleração, será necessário revisar a meta fiscal, o que poderá comprometer a estabilidade da política econômica no Brasil. “É uma decisão que o governo deverá tomar no final deste ano ou no início do próximo. Quanto antes essa escolha for feita, melhor”, enfatizou o economista.

Fonte: Portal do Agronegócio

◄ Leia outras notícias