Publicado em: 24/07/2013 às 19:20hs
Com um desempenho fraco da balança comercial, o déficit externo chegou a US$ 43,48 bilhões. Para analistas de mercado, embora o mês de junho tenha apresentado alguma melhora, o cenário é preocupante,
Um dos problemas do resultado das contas externas é o fato de o déficit não estar sendo coberto pelos investimentos estrangeiros diretos (IED) em produção. Como os investimentos em produção são de longo pra-£0 são considerados os mais saudáveis para cobrir o rombo. Em seis meses, os investimentos estrangeiros diretos somaram US$ 30 bilhões.
O resultado externo tem sido afetado pelo fraco desempenho da balança comercial. No primeiro semestre, a balança comercial registrou déficit de US$ 3 bilhões, em comparação a um superávit de US$ 7 bilhões no mesmo período do ano passado. Os números só não vieram piores porque houve um superávit de US$ 2,3 bilhões em junho, resultado inflado pela exportação de uma plataforma de Petróleo, no valor de US$ 1,6 bilhão. Trata-se de uma operação contábil, pois a plataforma não deixou o País.
A balança comercial está decepcionando por causa da queda no preço das commodities exportadas pelo Brasil e de uma forte importação de derivados de Petróleo. No início da semana, a Associação de Comércio Exterior (AEB) projetou déficit de US$ 2 bilhões para 2013, o primeiro resultado negativo em 12 anos. É uma das previsões mais pessimistas do mercado, mas o humor está piorando. Ontem, o HSBC reduziu sua projeção de saldo comercial de US$ 4,1 bilhões para US$ 1 bilhão.
As contas externas também pioram com o aumento das remessas de lucros e dividendos das multinacionais. As remessas somaram US$ 14,1 bilhões no primeiro semestre, 41,3% a mais que no mesmo período de 2012. Os gastos com juros subiram 32,5%, para US$ 5,9 bilhões.
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, repetiu a avaliação de que as contas estão sob controle e o déficit não preocupa, pois será, em grande parte, financiado pelos investimentos estrangeiros. A expectativa do BC e que os investimentos somem u 8$ 65 bilhões em 2013.
O BC espera que a recente alta do dólar ajude a equilibrar as contas externas, em especial na balança comercial e nos gastos de brasileiros no exterior. "A desvalorização tem alguma defasagem (sobre a balança comercial)", disse Maciel. "E é provável que tenhamos moderação (nos gastos com viagens internacionais) no segundo semestre". Para ele, o efeito do dólar sobre as contas externas tende a ser "cumulativo e gradual".
Até agora, porém, os dados do BC ainda não captaram mudança de comportamento. De janeiro a junho, o déficit com viagens, já descontado o que os estrangeiros deixaram no País, teve aumento de 22%, para o valor recorde de US$ 8,8 bilhões. Em junho, os gastos no exterior foram os maiores da história para o mês - US$1,5 bilhão.
Reação - Analistas veem com preocupação os resultados das contas externas. "Não vejo problemas a curto prazo, mas a médio e longo prazos o financiamento do déficit em conta corrente se torna insustentável", disse o economista Antonio Corrêa de Lacerda, para quem o momento é propício para ajustes na economia.
A consultoria Rosenberg projeta um aumento do déficit externo acumulado em 12 meses dos atuais US$ 72,46 bilhões para US$ 80 bilhões até o fim do ano. "A conta aumentou US$ 20 bilhões em um semestre. A melhora em junho não inverte a tendência de aprofundamento do déficit em transações correntes e de leve estabilidade do IED em nível elevado, mas não suficiente para cobrir o déficit", disse Rafael Bistafa, da Rosenberg.
André Loes, economista-chefe para América Latina do HSBC, elevou a projeção de déficit em conta-corrente neste ano de US$ 75,2 bilhões para US$ 78,3 bilhões. Para André Sacconato, diretor de pesquisas da Brain (associação formada por bancos para atrair investimentos para o Brasil), o déficit deve saltar dos atuais 3% do PIB para algo entre 4% e 4,5% no fim de 2014. / Colaboraram Francisco Carlos de Assis e Renan Carreira.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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