Publicado em: 14/01/2014 às 16:45hs
A colheita da commodity agrícola mais produzida e exportada pelo Brasil começa embalada por preços acima dos previstos no plantio. A soja, que nesta época do ano passado valia menos de R$ 60 por saca (60 quilos) em praças como Cascavel (Oeste do Paraná), hoje é negociada a mais de R$ 65 por saca na mesma região. A valorização é inesperada, pois ocorre no momento em que a América do Sul confirma a entrada de uma safra histórica da oleaginosa no mercado.
Para este ano, a previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) é de que serão retiradas dos campos recordes 286,8 milhões de toneladas do produto em todo o mundo. Por enquanto, esse volume ainda não foi precificado. Os valores praticados no Brasil são de entressafra, sustentados pelo câmbio e particularmente pela demanda chinesa, confirmada nas compras de soja dos Estados Unidos.
Assim que a produção na América do Sul for assimilada pelo mercado, os preços tendem a recuar, apostam especialistas. “Hoje, os Estados Unidos estão sozinhos no mercado. Mas daqui a 30 dias, a safra brasileira entra em grande volume e a demanda, que ainda está concentrada na América do Norte e hoje segura os preços, se desvia pra cá”, observa o analista de mercado Flávio França Júnior.
O que poderia fazer o mercado subir seria uma quebra na produção da América do Sul, acrescenta o analista da INTL FCStone Étore Baroni. Mas não é essa a indicação que as lavouras da região dão ao mercado neste momento. “Existe mais motivo para a soja cair do que subir”, resume.
A expectativa de queda nos preços internacionais nos próximos meses é consenso no mercado. No caso do Brasil, especificamente, existe ainda outro viés de baixa: os problemas logísticos, que ampliam custos e reduzem cotações. “A dúvida está mais uma vez na capacidade de escoamento do Brasil. O mercado não se sente ‘confortável’ em trocar o foco das compras dos EUA para a América do Sul. Acredito que esta situação deve manter preços em Chicago relativamente firmes, mas o ‘desconto’ ficaria no prêmio para exportação nos portos”, diz o vice-presidente de Futuros da The Jefferies Bache de Nova York, Stefan Tomkiw.
Para França Júnior, a exportação de grãos deve ser menos caótica do que em 2013, porque os produtores foram conservadores em relação à venda antecipada da colheita. “Começamos a colheita com um terço da safra vendida. No ano passado, era metade. Não devemos ter a mesma concentração nos embarques nos portos”, estima. Ele acredita que as medidas adotadas nos principais portos brasileiros, entre eles Paranaguá, também devem gerar algum ganho de agilidade nos carregamentos.
E o milho?
Diferente da soja, o milho pode já ter passado pelo seu pior momento de preços, conforme os analistas, e a tendência a partir de agora é de estabilidade ou até valorização do produto no mercado internacional. Depois de cair dos US$ 7 por bushel para US$ 4 por bushel na Bolsa de Chicago, por conta da recomposição dos estoques mundiais, o produto tende a perder terreno na próxima temporada nos Estados Unidos, maiores produtores do planeta. “Enquanto não tivermos uma retomada no consumo para ‘enxugar’ o excesso do último ano, o mercado não terá forças para consolidar preços em eventuais rallys de alta. Acredito que o mercado vai trabalhar de lado [estável]”, diz Tomkiw.
Quebras pontuais assustam Brasil e Paraguai
Numa safra de soja com expectativa de recorde, as primeiras áreas colhidas apresentam quebra climática e assustam os produtores. No Brasil e no Paraguai, que abrem a colheita sul-americana, há lavouras com perdas de até 60%.
As lavouras mais castigadas pela estiagem de dezembro – sem água entre os dias 7 e 28 – estão rendendo 1,5 mil quilos na costa Oeste do Paraná, próximo ao Lago de Itaipu, afirma Jovir Vicentini Esser, técnico da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) na região. “A quebra é de 60% em relação à produtividade prevista”, aponta em boletim técnico.
Por outro lado, Esser relata que as médias do Oeste paranaense como um todo, onde a colheita deve atingir um terço das lavouras rapidamente, está entre 2,9 mil e 3,4 mil quilos por hectare. Essa variação representa um resultado bom. As projeções públicas e privadas indicam que esse teto tende a ser a média final do estado.
O quadro é semelhante no Leste do Paraguai, que concentra a produção de grãos do país vizinho. “Na soja do cedo, os rendimentos não são os esperados por causa das altas temperaturas e da falta de chuva de dezembro. A esperança é que os índices melhorem nas próximas semanas, em parcelas que ainda estão verdes”, afirma o produtor Márcio Giordani Mattei, de Santa Rosa (Paraguai).
As médias projetadas em dezembro ainda estão sendo mantidas. “As culturas de soja e milho estão em ótimo desenvolvimento. Se mantida a atual situação climática, espera-se que o potencial produtivo seja atingido”, afirma o técnico Salatiel Turra, de Dois Vizinhos, Sudoeste do Paraná.
Inicial
A quebra refere-se a uma parcela pequena das lavouras. A colheita ainda restringe-se a menos de 5% da área total plantada no Paraná (5 milhões de hectares) e em Mato Grosso (8,4 milhões de hectares), estados que plantam mais cedo e são responsáveis por 45% do cultivo brasileiro.
As previsões climáticas indicam volume de chuva suficiente para o desenvolvimento das plantas em regiões que têm safra mais tardia, como Balsas (MA) e Luís Eduardo Magalhães (BA). Segundo os meteorologistas, no entanto, há risco de distribuição irregular.
Fonte: Gazeta do Povo
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