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CBios já fazem a diferença na vantagem do etanol sobre o açúcar

Os Créditos de Descarbonização (CBios), que equivalem a 1 tonelada de carbono de emissão evitada com a substituição de combustíveis fósseis por renováveis e são vendidos por produtores de biocombustíveis no Brasil, já têm um peso relevante na remuneração que o etanol está oferecendo às usinas, na comparação com os ganhos que elas podem ter com a venda de açúcar


Publicado em: 16/05/2022 às 12:50hs

CBios já fazem a diferença na vantagem do etanol sobre o açúcar

Na B3, onde esses ativos são negociados, os preços médios dos CBios voltaram a ultrapassar na semana passada a marca de R$ 100, após quase dois meses de ligeira pressão sobre as cotações. Na quinta-feira (último dado disponível), o preço médio ficou em R$ 102,01, o maior valor desde o início das negociações.

Considerando os preços atuais dos derivados da cana, o CBio já equivale a US$ 0,0065 a libra-peso em preços de açúcar na bolsa de Nova York, de acordo com cálculos da consultoria StoneX. O preço do etanol hidratado já vinha registrando vantagem em relação ao açúcar do mercado internacional, equivalendo a algo entre US$ 0,20 e US$ 0,21 a libra-peso em preço de açúcar. Portanto, se considerados os ganhos com os CBios, a vantagem é ainda maior.

Pelas contas da StoneX, o CBio já representa cerca de 40% da vantagem que o etanol oferece sobre o açúcar para usinas de Ribeirão Preto (SP). Para Willian Hernandes, sócio da consultoria FG/A, se for considerado que o preço médio do etanol está equivalente a US$ 0,21 em açúcar, o CBio representa cerca de 25% da diferença sobre o adoçante.

Embora os CBios sejam vendidos separados dos biocombustíveis, a geração desses títulos está relacionada à venda efetiva do combustível renovável, caso a usina esteja cadastrada no programa RenovaBio. Dessa forma, quando uma usina certificada vende etanol, ela também pode gerar CBios, que estão relacionados à pegada de carbono do combustível.

Historicamente, a diferença entre a remuneração do açúcar e do etanol é o que costuma orientar as usinas brasileiras que têm capacidade de produzir ambos os produtos em sua decisão de priorizar a produção de um ou outro derivado da cana. Essa diferença é, portanto, um indicador-chave para se projetar a oferta de açúcar do Brasil no mercado internacional. As últimas estimativas de analistas e consultorias já vêm mostrando que, nesta safra 2022/23, as usinas devem priorizar um pouco mais a produção de etanol do que no ciclo passado.

Uma das razões é que o repasse da alta do petróleo para a gasolina no Brasil pode aumentar a vantagem do etanol hidratado. Outro motivo é o cenário global de açúcar, marcado por uma oferta surpreendente da Índia e pela recuperação da produção na Tailândia, fatores que podem reverter o déficit de oferta global na temporada.

Agora, a alta dos CBios pode reforçar a preferência das usinas pela produção de etanol. Hernandes, da FG/A, lembra que esse é, inclusive, o motivo da existência dos CBios: gerar um incentivo financeiro para que a produção de biocombustíveis aumente e garanta o cumprimento de metas de descarbonização previstas no RenovaBio.

Lígia Heinze, analista de açúcar e etanol da StoneX, ressalva, porém, que a migração para a produção de etanol pode encontrar um limite na safra atual, já que as usinas anteciparam bastante a fixação dos preços de venda de açúcar ao exterior --- estima-se que 80% dos embarques previstos para este ciclo estejam com preços definidos. Porém, há sempre a possibilidade de washout, o que depende do quanto a remuneração do etanol (agora considerando o valor dos CBios embutido) compensa os custos para cancelar os contratos firmados com as tradings.

Para ela, os preços do etanol podem cair um pouco nas próximas semanas, já que o Centro-Sul começou a safra com atraso e a oferta ainda deve crescer. A analista acredita que os preços dos CBios continuarão sustentados em 2022, uma vez que há previsão de déficit estrutural desses ativos para os próximos anos. "Não teremos déficit neste ano. Assim como em 2021, a oferta é confortável", disse. "Mas, quando vemos as metas para os próximos anos, a conta não fecha".

Fonte: AGÊNCIA UDOP

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