Publicado em: 16/07/2014 às 09:50hs
Em mais um sinal da dificuldade dos países dos Brics de construir posições de consenso, os ministros da Fazenda de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul não conseguiram chegar a um acordo sobre a sede e o primeiro presidente do banco do Brics, que será criado para financiar projetos de infraestrutura. A decisão terá que ser levada para os líderes dos cinco países, que se reúnem nesta terça-feira (15/07) em Fortaleza.
Detalhe - Até a semana passada, a definição tanto da sede quanto do primeiro presidente era tratada pela diplomacia brasileira como um detalhe a ser acertado sem maior dificuldade. A China quer que o banco fique em Xangai, mas o governo indiano também disputa a sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês).
Presidência - O Brasil quer a presidência e não entrou na disputa pela sede para fortalecer sua posição negociadora. Mas, na reta final, poderá ter de ceder para viabilizar um acordo.
Pontos indefinidos- O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Mauro Borges, confirmou, em entrevista após se reunir com os outros ministros de Comércio dos Brics, que esses pontos estavam indefinidos. Fontes do governo brasileiro dizem que o acordo de criação do banco ainda deve ser assinado pelos líderes amanhã, embora não tratem o assunto como certeza.
Capital - O banco terá capital de US$ 50 bilhões e, além de financiar infraestrutura, será uma resposta política à demora na reforma de instituições internacionais como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e Banco Mundial, onde os emergentes querem mais espaço.
Identidade comum- Uma das críticas mais comuns à atuação dos Brics é que o grupo reúne países sem identidade comum e que não atuam em coordenação por abrigar interesses distintos, até divergentes. Uma eventual dificuldade de acordo em torno do funcionamento do banco reforçaria essa tese.
Coesão - Num esforço de mostrar coesão, os ministros de Comércio tentaram reduzir as dúvidas sobre a ratificação do acordo feito pela Organização Mundial do Comércio (OMC) no ano passado, em Bali.
Dúvida - A nota oficial divulgada nesta segunda-feira (14/07) fala de apoio ao cronograma e objetivos acordados em Bali. A dúvida sobre o futuro da rodada de liberalização comercial aumentou depois que a ministra de Comércio da Índia, em entrevista ao jornal britânico "Financial Times" nesta semana, confirmou que o país poderia bloquear o acordo por ele não trazer exceções à agricultura familiar, importante na economia indiana. A resistência da Índia já havia sido antecipada pelo Valor na semana passada.
Ratificação - Borges disse que o Brasil ratificará os acordos da OMC, cujo primeiro prazo vence agora no fim de julho. E mostrou otimismo de que o mesmo seja feito pelos demais países dos Brics, embora ressalte que o encontro não teve a intenção de buscar uma posição conjunta. "Evidentemente que os países dos Brics têm preocupação com o conjunto da rodada. Compreendemos o alerta da Índia, mas a perspectiva não foi de ultimato. O que queremos é implementação plena."
Ritmo lento - Os ministros de Comércio criticaram o ritmo lento de recuperação da economia mundial que "continua prejudicando os investimentos e fluxos comerciais". Borges disse que os governos consideram que as incertezas na política econômica dos países desenvolvidos podem "aumentar a volatilidade dos mercados financeiros". Os ministros reafirmaram que, apesar do ambiente econômico, os Brics contribuem de forma decisiva para a recuperação mundial e decidiram continuar o trabalho de aprofundar o comércio mútuo.
Declaração final - A declaração final dos líderes dos Brics, que será divulgada nesta quarta-feira (16/07), não deve tratar de assuntos políticos espinhosos, como a crise entre Rússia e Ucrânia. A intenção é que os temas econômicos dominem a agenda. O governo brasileiro quer ainda falar de crescimento com inclusão e soluções sustentáveis, temas tratados na campanha de reeleição de Dilma Rousseff.
Fonte: Agência Brasil
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