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Brasil vai se beneficiar de desvalorização

Relatório do Banco Mundial sobre a desaceleração da economia na América Latina aponta o Brasil e o México como os países em que o problema se tornou mais preocupante nos últimos anos


Publicado em: 10/10/2013 às 19:50hs

Brasil vai se beneficiar de desvalorização

Por outro lado, ambos os países podem utilizar a desvalorização de suas moedas como um efeito amortecedor das consequências de um crescimento mais fraco nos últimos anos.

A preocupação maior é com os gigantes da região, com o Brasil e o México. Os dois estão crescendo menos do que o esperado , disse Augusto de la Torre, economista-chefe do Banco Mundial, ao apresentar o documento.

Segundo ele, a depreciação da taxa de câmbio nesses países, que se acentuou, desde 22 de maio, quando o Federal Reserve, o Banco Central americano, anunciou que iria reduzir os estímulos financeiros na economia dos Estados Unidos, não é tão preocupante quanto em períodos anteriores.

As moedas depreciadas não apenas reduzem o custo das exportações, como elevam o custo das importações, fazendo com que as indústrias domésticas e de exportação se tornem mais competitivas, gerando mais empregos , diz o documento.

Torre lamentou que o anúncio do Fed ocorreu num contexto em que os países emergentes estavam experimentando uma desaceleração de seus crescimentos . Em 2010, a América Latina estava crescendo em torno de 6% e, agora, essa taxa caiu para algo entre 2% e 2,5%. Os melhores resultados foram alcançados no Peru, com 5%, e no Panamá, com 8%. A Colômbia, a Bolívia e o Chile estão crescendo entre 3% e 4%. A Venezuela e a Jamaica vão crescer, no máximo, 1%.

Na América Latina, estamos sentindo essa desaceleração como uma homogeneidade na região , constatou Torre. Mas, segundo ele, o caso do Brasil tem que ser analisado de maneira distinta dos demais países. O Brasil viveu, nos últimos anos, praticamente em pleno emprego. As pressões sobre salários e preços foram significativas. Mesmo assim, o Brasil está experimentando essa desvalorização e, com isso, a pressão sobre os salários está diminuindo.

Para o economista-chefe, o Brasil pode usar o câmbio como amortecedor dos efeitos da desaceleração da economia. O papel amortecedor do câmbio pode ser importante e não necessariamente tem que se traduzir nos preços , disse. Outra medida positiva para o país seria o aumento dos investimentos, o que, na visão de Torre, segue como desafio central .

O economista-chefe gastou boa parte do tempo da apresentação do relatório para defender a tese de que as desvalorizações da taxa de câmbio não são mais um problema central para os países da América Latina. Foram reduzidos os temores que tínhamos da desvalorização cambial . Torre listou três razões para que esses temores não sejam tão intensos quanto nas décadas de 1980 e 1990.

A primeira é que a América Latina recebia grandes quantidades de dinheiro como empréstimo. Tínhamos medo da fuga de capitais, de que o dinheiro que estava entrando saísse , lembrou.

A segunda razão é que as economias locais tendiam a ser dolarizadas. O taxista latino-americano comprava o seu carro em dólar, mas recebia em moedas locais , exemplificou. O medo da desvalorização era muito grande, pois destruiria a solvência das economias. Hoje, esse problema não é tão grande, avaliou o economista do Banco Mundial, pois os países da América Latina desdolarizaram os seus contratos financeiros e passaram a utilizar mais as moedas locais.

Por fim, havia o temor de que cada desvalorização da moeda fosse revertida em depreciação dos preços. Graças às reformas dos bancos centrais, os agentes formam os preços com base no que essas instituições anunciam. Antes, conectávamos os preços com a situação da moeda. Agora, não. E, por isso, somos mais otimistas.

Torre enfatizou que a América Latina construiu um sistema imunológico muito mais robusto do que o que havia nas décadas de 1980 e 1990 . As desvalorizações não são mais um problema, mas parte da solução, dos mecanismos pelos quais a América Latina pode conter movimentos externos , concluiu.

Fonte: Canal do Produtor

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