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Brasil acende alerta sobre dependência da China no agronegócio

Crescimento das exportações para o mercado chinês levanta preocupações sobre riscos comerciais e necessidade de diversificação de destinos no setor agrícola brasileiro


Publicado em: 26/05/2025 às 19:40hs

Brasil acende alerta sobre dependência da China no agronegócio
Parceria comercial em alta, mas com riscos

A crescente relevância da China como principal destino das exportações agropecuárias brasileiras tem levantado preocupações sobre os riscos de concentração de mercado. Em 2024, o país asiático se consolidou como o maior comprador de produtos do agronegócio brasileiro, incluindo soja, carne bovina e algodão, além de ser um dos principais fornecedores de insumos essenciais, como fertilizantes e defensivos agrícolas.

Peso da China nas exportações do agro brasileiro

De acordo com a Biond Agro, com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), 73,4% das exportações brasileiras de soja em grão tiveram como destino a China, gerando uma receita de mais de US$ 31,5 bilhões. No total, o complexo soja movimentou mais de US$ 60 bilhões, reafirmando sua posição como o principal item da pauta exportadora nacional.

A soja, sozinha, representou cerca de 15% de todas as exportações brasileiras em 2024, superando até mesmo commodities tradicionais como minério de ferro e petróleo. Além do grão, os chineses também figuram entre os maiores compradores dos derivados da soja.

Milho: segundo colocado nas exportações

O milho ocupou a segunda posição entre os produtos agropecuários mais exportados em 2024. O Brasil embarcou cerca de 40 milhões de toneladas, resultando em uma receita superior a US$ 10 bilhões. Embora a China tenha respondido por apenas 6% dessas exportações, o equivalente a US$ 465,5 milhões, a perspectiva é de crescimento, estimulada pelas tensões comerciais entre Estados Unidos e China, que podem ampliar a presença brasileira no mercado chinês.

Carne bovina: parceria sólida com o mercado chinês

O setor de proteínas animais também registrou forte desempenho. O Brasil exportou mais de 2,2 milhões de toneladas de carne bovina, com receita de US$ 10 bilhões, sendo que 59% desse total foram destinados à China. O país asiático também comprou 19% da carne suína e 10% da carne de frango produzidas no Brasil.

Algodão: Brasil ultrapassa os Estados Unidos

O algodão brasileiro conquistou destaque em 2024, superando os Estados Unidos como principal exportador global. A China adquiriu um terço do algodão não cardado nem penteado comercializado pelo Brasil, movimentando cerca de US$ 1,7 bilhão. Mais de 90% dessa produção exportada é certificada e rastreável, agregando valor ao produto nacional.

Dependência de insumos preocupa setor

A relação de parceria também se estende ao fornecimento de insumos agrícolas, onde a dependência do Brasil em relação à China é significativa. Em 2024, o país asiático foi o segundo maior fornecedor de fertilizantes, com exportações de US$ 2,1 bilhões.

O cenário é ainda mais crítico no caso dos defensivos agrícolas. Segundo a Biond Agro, 100% do glufosinato, picloram e clorotalonil utilizados no Brasil são importados da China. Além disso, 85% do glifosato e 78% do acefato consumidos no país também vêm do mercado chinês.

Especialistas alertam para necessidade de diversificação

Embora a parceria com a China tenha gerado benefícios significativos para o agronegócio brasileiro, especialistas apontam os riscos dessa alta concentração comercial. Mudanças geopolíticas, barreiras sanitárias ou decisões comerciais unilaterais podem impactar diretamente a receita do setor.

“A China é, sem dúvida, o principal parceiro comercial do agro brasileiro, mas essa concentração cria uma fragilidade estrutural. Precisamos equilibrar essa balança com novos mercados e políticas de autonomia em insumos”, alerta Felipe Jordy, gerente de inteligência e estratégia da Biond Agro.

Jordy conclui: “Parceria sólida não significa dependência absoluta. O futuro do agro brasileiro exige autonomia estratégica e resiliência internacional.”

Fonte: Portal do Agronegócio

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