Publicado em: 06/06/2014 às 11:10hs
O medo de uma queda ainda mais intensa do PIB ficou claro ontem, com a divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da última semana, que decidiu pela manutenção da Selic em 11% ao ano. O documento diz que o ritmo de expansão da atividade econômica "tende a ser menos intenso este ano". Dados revisados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram crescimento de 2,5% em 2013.
A ata do Copom sinaliza que, mesmo diante de uma carestia persistentemente elevada, que beira estourar, até dezembro, o teto da meta de inflação, de 6,5%, é o fraco desempenho do PIB, com alta estimada pelo mercado em pouco mais de 1% este ano, que mais preocupa o governo neste momento.
Para o estrategista-chefe para o Brasil do banco japonês Mizuho, Luciano Rostagno, não há dúvidas de que a débil atividade doméstica foi a principal razão por trás da decisão do BC, na semana passada, de interromper a alta de juros. "Em primeiro lugar, o Banco Central reconhece que a atividade está mais fraca do que no ano passado. Então, apesar de esperar que a economia continue se movendo em direção a uma combinação saudável entre menos consumo e mais investimentos, ele parece indicar que essa mudança está acontecendo mais lentamente do que o previsto", assinalou.
Até abril, o BC cravava que o crescimento econômico tenderia a se manter "relativamente estável este ano". A previsão era considerada excessivamente otimista pelo mercado, que, já naquele mês, apostava numa alta de apenas 1,6% do PIB em 2014. Na semana passada, após a divulgação pelo IBGE do crescimento de 0,2% no primeiro trimestre, essas estimativas caíram ainda mais. Maior banco privado do país, o Itaú, por exemplo, revisou sua projeção de 1,4% para 1%.
Tarifas
O Banco Central manteve em 5% a projeção de reajuste dos preços administrados em 2014. A estimativa leva em conta as variações ocorridas, até abril, na gasolina (1,8%) e no gás de bujão (0,5%). Também considera a possibilidade de redução de 4,2% nas tarifas de telefonia fixa e de aumento de 11,5% nas de eletricidade. Para 2015, os preços administrados deverão subir 5%, a mesma projeção feita na ata do Copom de abril.
Sem levar em conta o risco de um tarifaço no próximo ano, o BC disse ter observado uma redução nas projeções de inflação no cenário de referência, comparativamente à consulta feita em abril. "Já no cenário de mercado, a projeção de inflação para 2015 se manteve relativamente estável, acima da meta", lembrou a ata. Para o BC, os efeitos das sucessivas altas na taxa básica de juros sobre a inflação, "em parte, ainda estão por se materializar". Em um ano, a Selic, saiu da mínima histórica, 7,25% ao ano, para o patamar atual de 11%. Foi o mais longo ciclo de altas (nove reuniões e 14 meses) e um dos mais pesados ajustes (3,75 pontos percentuais) promovidos pelo BC na última década.
Em outras palavras: a alta recorde do juro, que ajudou a derrubar o PIB no primeiro trimestre, ainda deve surtir efeito nos preços ao longo do ano. Mas não a ponto de trazer o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o alvo de 4,5%. "Depois de três anos de inflação alta, o custo de vida ainda deverá manter-se acima da meta", constatou o diretor do Grupo de Pesquisas Econômicas para a América Latina do banco norte-americano Goldman Sachs, Alberto Ramos.
O economista é enfático: mesmo com um crescimento econômico menor em 2014, não há como negar que os riscos de a inflação se acelerar continuam elevados. "Por isso, acreditamos que o Copom interrompeu o ciclo de aperto nos juros prematuramente, pois a inflação projetada, tanto para este ano, quanto para 2015, ainda está acima da meta", cravou.
O mercado estima que o IPCA de 2014 chegará a 6,47%, praticamente o teto da meta, de 6,5%. Em 2015, os analistas ouvidos pelo BC na pesquisa Focus projetam uma carestia de 6,01%. Mesmo assim, disse o economista-chefe do BES Investment Bank, Jankiel Santos, o BC deverá manter os juros em 11% pelo menos até o fim do ano.
Fonte: Correio Braziliense
◄ Leia outras notícias