Publicado em: 13/05/2025 às 10:42hs
O Banco Central (BC) reconheceu que a política de juros altos adotada para controlar a inflação já está gerando efeitos sobre a economia brasileira, com sinais claros de desaceleração do crescimento e reflexos negativos sobre a geração de empregos. As considerações constam na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (13), na qual a taxa Selic foi mantida no maior nível em quase 20 anos.
Segundo o Copom, o ciclo de elevação da taxa Selic iniciado nos últimos meses já tem contribuído e "seguirá contribuindo para a moderação do crescimento" da economia. Na reunião da semana passada, o comitê elevou a taxa básica de juros para 14,75% ao ano, o maior patamar desde 2006. Foi a sexta alta consecutiva da Selic.
O BC alertou que o impacto da política monetária no mercado de trabalho, que já começa a ser sentido, tende a se aprofundar. Em março, o país registrou a criação de 71,6 mil vagas com carteira assinada, número 71% inferior ao registrado no mesmo período do ano anterior.
A instituição reafirma que essa desaceleração econômica é parte da estratégia de controle da inflação, e considera esse movimento um "elemento necessário para a convergência da inflação à meta".
Diferentemente das reuniões anteriores, o BC não sinalizou novos aumentos da Selic. A ata menciona que o comitê continuará vigilante, e que a calibragem do aperto monetário será guiada pela necessidade de trazer a inflação para a meta estabelecida.
Segundo levantamento do próprio Banco Central, divulgado na segunda-feira (12), analistas do mercado financeiro já não esperam novas altas da Selic este ano. A projeção é de manutenção da taxa em 14,75% ao ano até o fim de 2025.
Para o crescimento econômico, o mercado projeta uma expansão de 2% em 2025, após uma alta de 3,4% em 2024.
A taxa Selic é o principal instrumento utilizado pelo BC para conter as pressões inflacionárias, que afetam especialmente as camadas mais pobres da população.
As decisões sobre os juros são baseadas no sistema de metas de inflação. Quando as projeções superam a meta, o BC tende a manter ou elevar os juros. Se estão abaixo, pode haver corte.
Desde 2025, o sistema de meta contínua de inflação considera a meta de 3% cumprida se a inflação ficar entre 1,5% e 4,5%.
As ações do BC olham sempre para o futuro: os efeitos de mudanças na Selic levam entre seis e 18 meses para impactar plenamente a economia. Hoje, o foco já está nas projeções para o segundo semestre de 2026.
O BC prevê que a inflação oficial (IPCA) será de 4,8% em 2025 e de 3,6% em 2026. Já o mercado projeta inflação de 5,51% em 2025 — o que configuraria o estouro da meta —, e de 4,5% em 2026, 4% em 2027 e 3,8% em 2028, todas acima do centro da meta de 3%.
A autoridade monetária reconheceu recentemente que a meta de inflação pode voltar a ser descumprida em junho, se houver seis meses consecutivos acima do teto de 4,5%.
Na ata, o Copom avaliou que o cenário inflacionário segue “desafiador”. As expectativas de inflação continuam acima da meta em todos os prazos, o que agrava o quadro.
O comitê também destacou que a inflação de serviços permanece acima do nível compatível com a meta.
No cenário internacional, o BC vê um contexto “adverso e particularmente incerto”, com choques tarifários e de incerteza de difícil mensuração. Após semanas de tensão, EUA e China anunciaram uma trégua nas tarifas, válida por 90 dias.
O Copom comentou sobre a nova modalidade de crédito consignado com garantia do FGTS, lançada em março. Para o comitê, o programa pode estimular o crescimento de forma limitada, por meio do aumento da renda disponível com a substituição de dívidas.
Contudo, o BC admitiu que ainda há incertezas sobre o impacto total do programa, que está em fase inicial, e prometeu acompanhar os dados com atenção.
Por fim, o BC destacou que o estímulo à demanda nos últimos anos teve origem, principalmente, na política fiscal — ou seja, no aumento dos gastos públicos. O Copom reforçou que uma política fiscal responsável, que reduza o prêmio de risco e atue de forma contracíclica, pode contribuir para o controle da inflação.
Fonte: Portal do Agronegócio
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