Publicado em: 19/07/2024 às 11:15hs
A taxa de câmbio é um dos indicadores mais sensíveis da econômica de um país emergente. Embora fatores externos moldem a trajetória da valorização, ou desvalorização da moeda de um país, são os pilares domésticos que geralmente definem sua atratividade para o mercado. Em relatório, a Hedgepoint Global Markets analisa estes pilares, que sob o controle direto das políticas governamentais, quando bem empregados, ajudam elevar a confiança dos investidores no país.
“Diante das crescentes incertezas em relação à política monetária e questionamentos sobre o compromisso fiscal do governo, o Real brasileiro (BRL) se tornou uma das moedas mais desvalorizadas do mundo em 2024. Desde o início do ano, o BRL acumula desvalorização de aproximadamente 11,58%”, observa Victor Arduin, analista de Macroeconomia e Energia da Hedgepoint.
“No entanto, recentes sinalizações da política econômica e a expectativa de corte de juros nos EUA podem amenizar parcialmente esse cenário, desde que o país mantenha firme o compromisso de estabilizar a trajetória ascendente da dívida pública. Abordaremos em mais detalhes os fundamentos para apreciação do câmbio neste relatório”, diz.
“O déficit nominal do país supera 6% do PIB, patamar elevado para um país emergente e que contribui para o aumento do endividamento público. Alguns números, por exemplo, alardam a delicada situação fiscal brasileira que nos últimos doze meses acumulou um déficit de R$280,2 bilhões, equivalente a 2,53% do PIB”, pontua.
Trazer equilíbrio para as contas públicas tem sido um dos maiores desafio para o país nos últimos anos. Até aqui a estratégia do governo tem sido buscar aumento de receitas, através do aumento da carga tributária, mas tem gerado atrito com o congresso e com setores da economia.
“Para tornar o cenário ainda mais complexo, grande parte das despesas federais, como saúde, educação e emendas parlamentares, está vinculada ao crescimento da receita. Isso significa que, quando há um aumento na arrecadação, também há um aumento nos gastos”, explica.
Apesar das reformas implementadas para aumentar a arrecadação e do bom desempenho da balança comercial no ano passado, que geraram receitas adicionais para o governo, a trajetória ascendente da dívida pública brasileira continua preocupante, alcançando 76,8% do PIB em maio de 2024.
“O primeiro semestre de 2024 foi marcado por uma deterioração do cenário externo para os países emergentes, especialmente exportadores de commodities. A persistente inflação nos EUA não permitiu o Federal Reserve (Fed) iniciar a flexibilização da política monetária, resultando em suporte para os rendimentos dos títulos americanos”, destaca o analista.
“Com o dólar fortalecido, as commodities, geralmente negociadas na moeda americana, ficam mais caras para quem possui outras moedas, o que impacta o consumo por parte delas. Contudo, esse cenário poderá começar a ser revertido nos próximos meses, à medida que dados a respeito do mercado de trabalho e da atividade econômica dos EUA mostram que a inflação está desacelerando, resultando em uma melhora nos principais índices de inflação, como o núcleo do PCE, que em 12 meses passou de 2,8% para 2,6%”, aponta.
“Com a aproximação do corte de juros nos EUA e caso o Brasil demonstre um claro compromisso com o controle das contas públicas, em especial reformas que reduzam os gastos do Estado, a maior economia da América do Sul poderá vivenciar um período de apreciação da sua moeda”, acredita.
Nos últimos dias, a sinalização do governo de buscar revisões em despesas obrigatórias para alcançar o cumprimento do arcabouço fiscal ajudou a aliviar a grande pressão sobre o BRL, que atingiu R$ 5,70 em 02/07.
Pensando nos cenários possíveis para o câmbio brasileiro, e considerando corte de juros nos EUA em 2024, temos alguns cenários à frente, mas os principais deles são:
Cenário apreciativo: o novo presidente do BACEN reforça a credibilidade frente ao mercado, sinalizando que perseguirá, mesmo com juros mais restritivos, o centro da meta de inflação, enquanto o governo consegue implementar um conjunto de medidas que estabilizem o crescimento do endividamento público.
Cenário depreciativo: a política monetária brasileira se afasta do centro da meta, mesmo que dentro do intervalo de tolerância, e o governo encontra dificuldades em conseguir revisar despesas, levando em conta que parte das revisões dependerá da coordenação com o legislativo.
“No primeiro cenário, haverá espaço para o Real se apreciar, chegando em torno de USD/BRL 5,15 antes do final do ano. Por outro lado, no segundo cenário, a moeda brasileira deverá se desvalorizar para níveis similares aos que vimos nas semanas passadas, em torno de USD/BRL 5,65”, conclui.
Em resumo, elevado déficit fiscal do Brasil tem sido um dos principais problemas na economia nos últimos anos, resultado no aumento do endividamento público e incertezas sobre o cumprimento do arcabouço fiscal.
Embora a situação fiscal apresente consideráveis desafios, também abre portas para oportunidades. Ao implementar reformas que estabilizem as despesas públicas, o governo brasileiro poderá atrair mais investimentos estrangeiros, aliviando a pressão sobre o Real e impulsionando o crescimento econômico.
Não apenas questões domésticas afetaram o desempenho do BRL no primeiro semestre, mas também a piora do ambiente externo foi significativa. No entanto, nos próximos meses, caso ocorra um corte de juros nos EUA, haverá espaço para apreciação do Real.
Nossas projeções indicam que há espaço para apreciação da moeda brasileira, mas uma valorização significativa dependerá principalmente do sucesso do Estado brasileiro em alcançar o equilíbrio fiscal.
Fonte: Hedgepoint Global Markets
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