Publicado em: 23/09/2014 às 09:50hs
Na última década, o Uruguai manteve o crescimento do seu Produto Interno Bruto a uma média anual de 5,2% e as taxas de inflação em um dígito. Daqui a um mês, os eleitores desse pequeno país, com 3,2 milhões de habitantes, vão às urnas escolher seu novo presidente. Apesar do cenário positivo, o aumento da inflação e as perspectivas de crescimento menor este ano têm sido alvos de críticas dos opositores do candidato apoiado pelo presidente José Mujica.
Investidores externos - A estabilidade econômica atraiu investidores externos. Segundo a Price Waterhouse, o volume de investimento estrangeiro no país alcançou US$ 2,8 bilhões no ano passado, o que equivale a cerca de 5% do seu PIB.
Mercado interno - Com pequeno mercado interno a oferecer, o Uruguai se vende ao mundo como porta de entrada para o mercado latino-americano, sem ter os problemas dos seus dois grandes vizinhos - gargalos portuários no Brasil e restrições às importações impostas pela Argentina. O sistema de zonas francas do país atrai exportadores interessados em outros continentes, como é o caso da finlandesa UPM, que instalou duas fábricas de celulose à beira do rio Gualeguaychú e que abastece a China.
Exportações - As exportações também cresceram nos últimos anos, para um total de US$ 10 bilhões em 2013, e o quadro macroeconômico positivo permitiu a diversificação de destinos e de produtos. A famosa carne uruguaia não é o principal item da pauta de vendas externas, liderado, com folga pelo setor de serviços, com fatia de 45%.
Diferença - A principal diferença em relação ao comércio exterior do passado é que o Uruguai descolou-se dos dois vizinhos. O Brasil, que chegou a representar 33% das exportações do país em meados da década de 90, participa hoje com 19%. No caso da Argentina, a fatia caiu de 15% no ano da crise econômica de 2001 para 5% hoje. "Faz três anos que a região não traz muito combustível ao crescimento do Uruguai", diz o ministro da Economia, Mario Bergara, ao destacar que a China assumiu a liderança e que outras regiões, como Rússia e Israel, também ganharam importância.
Mercosul - O país também não tem muito a comemorar em relação ao Mercosul. "O Mercosul não se desenvolveu de acordo com o que os países menores desejavam, como oferecer maior abertura interna e operar mais como uma zona de livre comércio, além de servir como plataforma para gerar bons acordos em nível global", diz. Mas, destaca, "não está sobre a mesa" a possibilidade de o Uruguai deixar o bloco.
Ministério da Economia - Bergara deixou a presidência do Banco Central para assumir o Ministério da Economia no último ano do mandato de Mujica. Foi nomeado em dezembro, no lugar do economista Fernando Lorenzzo, que renunciou em meio a suspeitas de envolvimento em fraude no processo de falência da companhia aérea Pluna.
Economista e professor - Aos 45 anos, Bergara é economista e professor. Foi vice-ministro da Economia entre 2005 e 2008, quando a Frente Ampla, a coalizão de Mujica, assumiu o poder. Na época, o presidente da República era Tabaré Vázquez, que agora concorre na eleição de outubro e é o favorito.
Intenções de voto - Vázquez lidera as intenções de voto, com 40% segundo a última pesquisa. Seu principal adversário, Luis Alberto Lacalle Pou, do Partido Nacional, tem 18%. Pou avançou nas pesquisas, o que eliminou a possibilidade de o candidato governista vencer no primeiro turno. A popularidade de Mujica recuou três pontos este mês. Um total de 49% da população aprova a sua gestão, e 26% a desaprovam.
Problemas trabalhistas - Segundo o relatório LatinFocus Consensus Forecast, da consultoria internacional FocusEconomics, o Uruguai enfrentará problemas trabalhistas, com necessidade de abrir negociações de reposição salarial caso a inflação ultrapasse os dois dígitos. A consultoria prevê que o PIB do país este ano crescerá 2,9%, abaixo das médias da última década.
Entrevista - O bem-humorado ministro recebeu o Valor no fim de expediente em seu gabinete, que fica a cinco quadras da Praça Independência, um dos principais pontos do centro histórico de Montevidéu. A praça divide a chamada cidade velha da cidade nova e abriga o edifício Libertad, sede da Presidência da República. Ao final do mandato de cinco anos, Mujica não pôde candidatar-se porque o país não permite reeleição.
Fonte: Bloomberg
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