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Alimentos elevam inflação

Desta vez, a culpa não foi do tomate. Os aumentos da maioria dos produtos provocaram impacto no orçamento doméstico e na conta de bares e restaurantes. Nos últimos 12 meses, eles encareceram 7,62% e superaram a média nacional -- 6,02%


Publicado em: 24/07/2013 às 19:40hs

Alimentos elevam inflação

Os gastos com comida e bebidas pesaram no bolso dos brasilienses. A inflação acumulada de junho, medida pelo IPCA e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que a despesa com alimentação no Distrito Federal, tanto na rua quanto em casa, ficou quase três vezes mais cara do que os demais itens pesquisados. A alta geral de preços foi de 2,79% nos últimos 12 meses na capital, enquanto os alimentos e as bebidas subiram 7,62%. O índice supera a média nacional, que ficou em 6,02% entre junho de 2012 e igual mês deste ano.

De acordo com os dados, quem faz as refeições em casa sentiu mais a alta de preços. A inflação dos produtos no supermercado foi de 8,55%, puxada pelos tubérculos, raízes e legumes, como a batata, a mandioca, a cebola e o tomate — símbolo recente da disparada dos preços brasileiros. Tais produtos ficaram 69,45% mais caros no último ano no DF. Com a produção afetada pelas chuvas dos primeiros meses de 2013, o quilo do tomate, por exemplo, chegou a R$ 10,58 em alguns estabelecimentos da capital. A cenoura, o repolho, a cebola, a batata, o feijão e o milho também tiveram os preços nas alturas.

A alta dos produtos obrigou o consumidor a buscar uma estratégia para lidar com a inflação e a esticar o orçamento doméstico até o fim do mês. A professora Keila Martins de Alvarenga, 48 anos, decidiu substituir marcas por outras mais em conta. Foi assim com o arroz. Ela trocou o que custava R$ 13 por um similar de R$ 9. “Está tudo mais caro. Antes, eu enchia o carrinho com pouco mais de R$ 200. Agora, não consigo mais. Também não faço mais compra de mês. Venho ao mercado a cada duas semanas e aproveito as promoções.”

No restaurante

A alimentação fora de casa ficou, em média, 6,41% mais cara (veja quadro). A comerciante Cláudia Falcão, 33 anos, almoça  nos restaurantes do Sudoeste. Segundo ela, os preços foram reajustados nos últimos seis meses, e a solução é comer, a cada dia, em um lugar diferente para aliar melhor preço e qualidade. “Gasto cerca de R$ 16 diariamente no almoço e, por mês, uns R$ 700 contando lanches e jantares. Acho que sairia mais barato se eu tivesse tempo de comer em casa.”

Os empresários fazem coro com os consumidores que reclamam do encarecimento dos produtos alimentícios. Para os donos de bares e restaurantes, a alta do preços significa queda no movimento. “Em época de inflação, a primeira coisa que as pessoas cortam é o gasto com lazer, o que inclui os bares e restaurantes. Além daquelas que almoçam na rua diariamente, há as que consideram comer em um restaurante um programa”, afirma Jaime Recena, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no DF (Abrasel-DF).

Entre o fim de 2012 e o início deste ano, os estabelecimentos de Brasília repassaram o aumento dos preços aos clientes. Em média, os cardápios encareceram 10%. Mas alguns bares e restaurantes elevaram os serviços em até 22%. A maioria dos empresários culpou as bebidas, a carne, os legumes e as verduras. “Além da inflação, os aluguéis e a carga tributária atrapalharam o faturamento. Os empresários seguraram o quanto puderam”, explica Recena. Para ele, é melhor reduzir a margem de lucro e esperar a recuperação da economia.

Essa foi a receita seguida por Jair Gasparim, 36 anos, dono de um restaurante no Sudoeste. Mesmo com a alta dos produtos, ele manteve a balança no mesmo valor há dois anos: R$ 29,90. “Eu notei a inflação, sim. Na Ceasa, as compras aumentaram cerca de 50% de janeiro para cá. O feijão e o arroz, o que mais sai no restaurante, também ficaram 25% mais caro. Mas, se eu aumentar meu preço, vou perder cliente, e é muito difícil conquistar novos. Prefiro perder um pouco no mês e ganhar no outro”, conta.

O economista Newton Marques, chefe do Núcleo de Análise dos Índices de Preços da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), explica que a alimentação tem um peso de 20,18% no IPCA local, ou seja, representa um quinto do orçamento das famílias do DF. O único item que pesa mais é o transporte (23%), que, no último ano caiu 1,57%. “Transporte, alimentação e habitação representam quase 60% do orçamento das famílias. Qualquer aumento no transporte tem maior impacto do que a alimentação”, afirma.

No entanto, Newton diz que não é preciso fazer terrorismo porque os índices dos últimos meses mostram uma tendência de queda da inflação. Entre janeiro e abril de 2013, a alta dos preços disparou (1,79%, 1,84%, 1,63% e 1,28%), mas caiu para 0,67% em maio e 0,18% em junho. “Preços sobem e caem. Para resolver o problema da alimentação, basta aumentar a oferta de produtos”, diz.

Normalidade

O tomate voltou ao preço normal nos mercados do DF. Conforme Franklin Oliveira, vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas, Gêneros Alimentícios, Frutas, Verduras, Flores e Plantas do DF (Sindigêneros-DF), as grandes redes de supermercados chegam a vender o produto por R$ 0,79, o quilo. “O preço dos hortifrutigranjeiros estão estabilizados, alguns deles estão até em queda. O feijão e a farinha de mandioca estão mais caros. Quase 80% dos produtos do DF vêm de outros estados. Por isso, estamos sujeitos ao preço do frete, e o óleo diesel subiu em maio.”

Fonte: Correio Braziliense

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