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2014/15: Outra boa safra

Para uma parcela significativa dos produtores, este é o momento de planejar o plantio da safra 2014/15, embora para os mais previdentes o processo já tenha se iniciado assim que terminou a colheita da safra de verão, por volta de março


Publicado em: 30/05/2014 às 11:40hs

2014/15: Outra boa safra

Os primeiros sinais captados por consultorias independentes e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e mesmo por associações do setor sugerem mais um ano de "vacas gordas", na expressão utilizada pelo sócio e analista da Agroconsult, Fábio Meneghin. O bom ano se concretizará com algum crescimento para a soja, um pequeno recuo do milho e, provavelmente, novos e expressivos avanços para o algodão, que vem se recuperando desde o ano passado depois de uma sequência de maus resultados.

Cenário bom - "De um modo geral, o cenário é bom para os grãos, principalmente no caso das lavouras de soja", observa o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho. Não deverá ser tão lucrativa quanto em 2012, quando a quebra da safra americana fez disparar os preços das commodities agrícolas, diz ele. Mas, ainda assim, os resultados tendem a ser bastante positivos. "As vendas de insumos e de máquinas agrícolas dificilmente baterão o recorde do ano passado, mas tudo indica que irão garantir um bom padrão tecnológico para a próxima safra", complementa.

Expectativa inicial - A expectativa inicial do presidente da Abag, compartilhada pelo coordenador geral de planejamento estratégico do Mapa, José Garcia Gasques, sugere uma produção bastante próxima de 200 milhões de toneladas, que, se confirmada, vai representar quase 9 milhões de toneladas acima da safra colhida neste ano, estimada em pouco mais de 191,2 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Estiagens - "Já poderíamos ter chegado próximo desse número, caso não tivéssemos que enfrentar estiagens no começo do ano", afirma Carvalho. Em sua opinião, o recém-lançado Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2014/2015 "possui um foco muito forte no setor de grãos", ofertando R$ 156,1 bilhões para financiar a nova safra agrícola, num aumento de 14,7% em relação ao plano anterior.

Incremento - As projeções mais recentes da assessoria de gestão estratégica (AGE) do Mapa, comandada por Gasques, informam uma previsão de quase R$ 450,5 bilhões para o valor bruto a ser gerado neste ano pela agropecuária, um incremento de 2,4% em relação a 2014, em valores atualizados. Desse total, cerca de dois terços, ou R$ 296,6 bilhões, virão da agricultura, com destaques para o algodão, laranja e soja, com avanços esperados, pela ordem, de 70%, 28% e 8%, em percentuais aproximados.

Fatia - O desempenho recente do agronegócio tem assegurado ao setor uma fatia próxima a 21% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, girando ao redor de R$ 1 trilhão, nas contas de Gasques. "Sem a expectativa de grande crescimento da economia do país, o setor deve manter a sua relevância no PIB", diz Carvalho.

Cana - Castigada pela estiagem, prossegue o presidente da Abag, a cultura da cana não promete bons resultados, ensaiando novo ciclo de perdas no valor bruto de sua produção. Além da longa estiagem que castigou os canaviais em São Paulo, maior produtor nacional, lembra Carvalho, o setor canavieiro tem sido penalizado, nos últimos anos, "pela política de preços administrados pelo governo no setor de combustíveis fósseis, o que levou muitas usinas a interromper suas atividades", pressionadas ainda pela queda na produtividade, resultado do envelhecimento dos canaviais e da redução dos investimentos em renovação após 2008, e pela elevação dos custos.

Evolução da soja - Os consultores Fábio Meneghin, da Agroconsult, e Anderson Galvão, sócio diretor da Céleres, preveem alguma evolução para a área destinada ao plantio de soja no ciclo 2014/15, com retração para a safra verão de milho, a ser compensada pela expansão do cultivo do grão na segunda safra. Nas estimativas da Agroconsult, a área de soja deve experimentar um acréscimo de 1,2 milhão de hectares, crescendo para 31,2 milhões de hectares, num avanço em torno de 4%, concentrado em boa parte no médio norte e no leste de Mato Grosso, que deverá responder por mais ou menos um terço dessa expansão, conforme Meneghin, basicamente sobre áreas de pastagens.

Nova fronteira- Uma parte do crescimento esperado deverá vir, ainda, da nova fronteira agrícola, no Maranhão, Piauí e Tocantins, e da fronteira sul do Rio Grande Sul, nas regiões de Pelotas, Bagé, São Borja e Alegrete, entre outros municípios onde tradicionalmente predomina o plantio de arroz. A oleaginosa pode ser explorada ali em lavouras de baixo custo, em rotação com a rizicultura, aproveitando a tecnologia incorporada durante a exploração do arroz, o que tem contribuído para elevar a produtividade das lavouras de soja e para reforçar a renda do produtor, afirma Meneghin.

Colheita - A expectativa do consultor é de que o país possa colher em torno de 94 milhões de toneladas de soja, em torno de 7% a mais do que na safra 2013/14, já que a Agroconsult trabalha com uma produção de 87,5 milhões de toneladas para o ciclo que se encerra agora em junho. Galvão projeta "ganhos modestos" para a soja, num avanço em torno de 1 milhão a 1,5 milhão de toneladas, o que elevaria a produção brasileira para algo perto de 90 milhões de toneladas.

Preços - Ambos esperam preços relativamente mais baixos para a próxima safra, levando em conta a possibilidade de uma "supersafra" nos Estados Unidos, estimada em 98,9 milhões de toneladas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), pouco mais de 9,4 milhões de toneladas do que na safra 2013/14. A rentabilidade das lavouras, levando-se em conta apenas os custos desembolsáveis - como gastos com fertilizantes, defensivos, sementes e outros insumos, óleo diesel e pessoal -, deverá recuar entre 12% e 13% em Mato Grosso e no Rio Grande do Sul, mantendo-se virtualmente estável no Paraná e com pequeno incremento em Goiás, conforme Meneghin. Com o dólar em torno de R$ 2,40 e uma cotação média em Chicago ao redor de US$ 12,50 por bushel, na média do país a rentabilidade dos plantios de soja tende a recuar em torno de 20%, estima Meneghin.

Liderança - O Brasil deverá manter a liderança no mercado mundial, ao exportar 45,6 milhões de toneladas no ano safra 2014/15, diante de 44,4 milhões de toneladas no ciclo anterior, um pouco acima das 45 milhões de toneladas estimadas pelo USDA.

Incertezas - Há incertezas, no entanto, argumenta Anderson Galvão, em relação ao vigor da demanda externa e, mais especificamente, da China. "A luz amarela está acesa em relação à demanda chinesa. O mercado desconfia da capacidade chinesa de seguir comprando soja com o mesmo apetite e a exportação talvez não cresça tanto como nos últimos anos", analisa Galvão.

Situação diferente- Os produtores de milho, retoma o consultor da Céleres, devem experimentar uma situação diferente, com um mercado um pouco melhor, "mas nada excepcional". Segundo Meneghin, o agricultor tende a plantar um pouco menos nos cultivos de verão, semeando perto de 6,5 milhões de hectares (apenas 100 mil a menos do que na safra anterior), mas deverá expandir a área em 19,5% na safrinha, para 10,4 milhões de hectares. No total, a área de milho poderá avançar para 16,9 milhões de hectares, agregando 1,5 milhão de hectares ao espaço cultivado na safra 2013/14.

Reflexo - Isso é esperado principalmente como reflexo do aumento da área de soja, complementa Galvão. Na sua avaliação, os produtores têm conseguido ganhos importantes com o plantio de inverno de milho na sequência da colheita soja, numa integração já incorporada ao modelo de negócio do setor, com vantagens, "porque incrementa o fluxo de caixa, reduz custos fixos e melhora a eficiência agronômica dos cultivos".

Combinação - Na combinação entre safra de verão e de inverno, a produção total de milho deverá atingir 85,8 milhões de toneladas, na estimativa preliminar da Agroconsult, acrescentando 13,9 milhões de toneladas ao volume colhido no ciclo 2013/14, com vigoroso aumento na rentabilidade. "Esse forte avanço se dará muito mais em função da recuperação da produtividade no campo do que de preços", acredita Meneghin.

Exportações - Com todo esse volume adicional, Meneghin e Galvão acreditam que será possível contar com um aumento nas exportações do grão. "As vendas externas de milho têm um papel complementar aos embarques de soja e devem deslanchar no segundo semestre, depois de exportada a soja", comenta Galvão. Para Meneghin, as vendas brasileiras de milho ao exterior devem subir de 18,036 milhões de toneladas na safra 2013/14 para 27,920 milhões de toneladas no ciclo 2014/15, num salto de quase 55%.