Publicado em: 28/04/2011 às 15:53hs
Portanto, é um fator externo decisivo para a competitividade. Aliás, é baseado em políticas de câmbio desvalorizado, impulsionando a competitividade da indústria, que países asiáticos têm alavancado seu crescimento. Foi assim no Japão do pós guerra, nos tigres asiáticos na década passada e agora na China. Ou seja, mantém-se a moeda desvalorizada e constrói-se um modelo de crescimento baseado na exportação.
O câmbio real mede o valor de uma moeda em relação àquele de seus principais parceiros comerciais, descontando as variações de inflação registradas pelos mesmos. No caso do Brasil, o valor do real em relação às moedas de seus principais pares comerciais já está hoje mais valorizado que a média registrada em 1998, último ano de existência do câmbio fixo quando a evidente apreciação excessiva culminou na maxidesvalorização de janeiro de 1999. A apreciação do real é demonstrada na tendência decrescente da curva.
O comportamento do câmbio brasileiro aponta para sobrevalorização crescente do real e, consequentemente, perda de competitividade doméstica. Desde dezembro de 2003, época em que boa parte do efeito da forte depreciação ocorrida em meio à eleição de Lula em 2002 já havia passado e que a volatilidade das moedas de países em desenvolvimento estava bem acomodada, o real se apreciou de forma contínua. A principal causa da apreciação do câmbio real brasileiro é a robusta demanda pelas commodities produzidas pelo país. Isso tem feito com que os preços dos bens exportados pelo Brasil estejam em patamar bem mais elevado que o dos produtos importados. Mas a causa da apreciação não pára aí. As boas perspectivas de crescimento da economia doméstica e os juros elevados praticados no Brasil ajudam a atrair capital de fora.
Ainda que parte da atual sobrevalorização do real reflita causas positivas, seu efeito negativo sobre a competitividade da indústria brasileira provoca preocupação. É fácil observar como houve perda de competitividade no tempo, sendo que o Brasil possuía ampla vantagem até 2006 e foi paulatinamente perdendo essa competitividade. Uma forma de atenuar este efeito perverso do câmbio é a obtenção de ganhos de produtividade na cadeia produtiva, mas é algo que se concretiza de uma forma mais lenta no tempo e não na mesma velocidade da valorização da moeda brasileira. Enquanto isso, o setor lácteo e boa parte da indústria brasileira estão perdendo sua capacidade competitiva. O Brasil está se transformando em um país caro para se produzir.
Glauco Carvalho - economista e pesquisador da Embrapa Gado de Leite
Fonte: Embrapa Gado de Leite
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