Orgânico

Com fertilizantes orgânicos, País não precisa usar terras indígenas

“Em meio à polêmica relativa à utilização de terras indígenas para extração de potássio destinado à produção de fertilizantes minerais, é pertinente transformar um passivo ambiental -- o lodo produzido pelas estações de tratamento de efluentes -- em ativo estratégico para o agronegócio: os fertilizantes orgânicos compostos”. Ponderação é do engenheiro agrônomo Fernando Carvalho Oliveira, responsável técnico da Tera Ambiental.


Publicado em: 14/03/2022 às 13:00hs

Com fertilizantes orgânicos, País não precisa usar terras indígenas

O tema ganha relevância neste momento em que as sanções econômicas à Bielorrússia e à Rússia comprometem o fornecimento ao Brasil de potássio e fertilizantes minerais por parte dos dois países, grandes produtores mundiais. Segundo Oliveira, ainda é difícil quantificar de maneira precisa o volume da produção de fertilizantes orgânicos compostos, pois é uma atividade descentralizada. Significativa parcela é oriunda do tratamento de resíduos orgânicos ou subprodutos das atividades agrícolas, pecuárias, agroindustriais, industriais e do saneamento básico.

Considerando o imenso volume de resíduos dessas distintas fontes, é expressivo o potencial de crescimento da produção nacional de fertilizantes orgânicos, principalmente a partir do aproveitamento da grande quantidade gerada no meio urbano, principalmente a partir da rede de tratamento de esgotos. Isso, além de ampliar o abastecimento do mercado, contribuirá muito para reduzir o volume de lixo despejado diariamente nos aterros sanitários. Segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020, a geração aumentou de 66,7 milhões de toneladas, em 2010, para 79,1 milhões, em 2019, com uma diferença de 12,4 milhões de toneladas. Cada brasileiro produz, em média, 379,2 quilos de lixo por ano, mais de um quilo diário. 

“A tecnologia mais utilizada para a produção de fertilizantes orgânicos é a compostagem termofílica, mas não podemos quantificar a produção, visto que grandes quantidades de resíduos orgânicos de atividades agropecuárias ainda são utilizadas na agricultura sem nenhum tipo de tratamento ou processamento industrial”, explica o agrônomo, acrescentando: “Porém, pesquisa de mercado realizada pela ABISOLO (Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal) aponta que o setor faturou R$ 334 milhões em 2020, cerca de 44,5% de crescimento em relação aos R$ 231 milhões registrados em 2019. Com base nesse resultado, é possível estimar que a produção brasileira de fertilizantes orgânicos compostos sólidos, para aplicação via solo, seja de aproximadamente 1,5 milhão de toneladas anuais”.

A Tera Ambiental, fabricante dos fertilizantes orgânicos Tera Nutrição Vegetal, por meio da compostagem de resíduos em escala industrial, identifica em seu próprio desempenho essas tendências conjunturais. Nos últimos quatro anos, produziu e comercializou a totalidade de sua produção, ou seja, 196 mil toneladas.

A produção de fertilizantes orgânicos compostos, que é um exemplo perfeito de economia circular e sustentabilidade ambiental, vem numa crescente no Brasil nos últimos cinco anos, sobretudo pela satisfatória evolução do marco regulatório, que envolve e orienta o segmento produtivo. É possível afirmar que as unidades fabris atualmente instaladas estão buscando aumentar sua produção ao nível máximo, que, ainda assim, deve ficar aquém da demanda. Esse é um segmento com vasto potencial de crescimento, mas novas unidades de produção não têm meios para se instalar rapidamente, devido à complexidade dos procedimentos legais e licenciamento.

Mais produtividade e menos uso do fertilizante mineral

O agrônomo explica que os fertilizantes orgânicos não substituem os minerais, mas contribuem para o seu melhor aproveitamento e, com isso, reduzem suas taxas de aplicação, com ganhos de produtividade. Além de fornecer macro e micronutrientes às plantas, propiciam melhorias físicas, químicas e biológicas no sistema solo-planta, reduzindo perdas e aumentando o aproveitamento dos nutrientes fornecidos pelos fertilizantes minerais.

Os percentuais de redução do uso do fertilizante mineral dependem da qualidade do fertilizante orgânico, assim como de suas taxas e frequências de aplicação num determinado cultivo. Quando consorciado com o fertilizante orgânico composto, é possível afirmar que a economia nas taxas aplicadas de fertilizantes minerais varia entre 30% e 50%. “Tal redução na demanda, num momento complicado como o dos fornecedores do Leste da Europa, é significativa”, frisa Oliveira. 

A relação de valores por hectare da aplicação de fertilizantes orgânicos é muito variável. O impacto do frete é significativo. Portanto, quanto mais próximo a área agrícola da unidade de produção, melhor será a relação de custo-benefício. Os preços dos fertilizantes orgânicos variam entre R$ 200,00 e 450,00 a tonelada FOB. Produtos mais caros normalmente são mais ricos em NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), seja pela natureza das matérias-primas ou pela padronização com insumo diversos. Dentro do cenário de preços elevados e redução de oferta de fertilizantes minerais no mercado o uso dos orgânicos passa a ser viável também em distâncias maiores entre o fornecedor e as propriedades rurais destinatárias.

Em que pese a importância dos fertilizantes minerais, considerando a ampla maioria dos solos brasileiros altamente intemperizados, lixiviados, quimicamente pobres e carentes em matéria orgânica, o uso contínuo dos fertilizantes orgânicos compostos é um importante investimento na melhoria e manutenção da qualidade da terra, inclusive para o melhor aproveitamento dos fertilizantes minerais. “É fundamental que o produtor agrícola brasileiro passe a valorar a matéria orgânica e seus benefícios ao solo como um investimento de longo prazo, com efeito permanente, inclusive para ganhos de produtividade e redução de custos com insumos diversos”, ressalta o agrônomo da Tera. 

Oliveira explica que os fertilizantes Tera Nutrição Vegetal utilizam matérias-primas de resíduos orgânicos urbanos, compostos por lodos de tratamento biológico de efluentes, restos de alimentos pré e pós-consumo e outros de origem industrial e agroindustrial. “Trata-se de um notório exemplo de economia circular, promovendo o tratamento de resíduos orgânicos diversos e reciclando nutrientes de planta e matéria orgânica, além de gerar empregos e impostos e evitar o aterramento de materiais com potencial de reaproveitamento na agricultura”, conclui.

Fonte: Oficina de Comunicação

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