Publicado em: 06/10/2025 às 08:30hs
O mundo perde a oportunidade de aproveitar uma das soluções mais eficazes para a crise hídrica. Segundo o relatório Scaling Water Reuse: A Tipping Point for Municipal and Industrial Use, do Banco Mundial, apenas 3% da água consumida por cidades e indústrias é proveniente de reuso potável ou industrial. Isso significa que 97% da água que poderia ser reaproveitada é descartada, enquanto bilhões de pessoas enfrentam crescente risco de desabastecimento.
Cidades e indústrias geram quase 1 bilhão de metros cúbicos de água usada diariamente, grande parte despejada sem tratamento em rios, lagos e aquíferos. Essa prática contribui para a poluição, compromete ecossistemas e intensifica a escassez hídrica em um contexto de mudanças climáticas e urbanização acelerada. Atualmente, mais de 2 bilhões de pessoas vivem em áreas urbanas com risco hídrico, e até 2050, 70% da população mundial estará concentrada em cidades, aumentando a pressão sobre o recurso.
O Banco Mundial aponta que investimentos entre US$ 170 bilhões e US$ 340 bilhões nos próximos 15 anos poderiam multiplicar por oito a capacidade instalada de tratamento, elevando o reuso de 3% para 25% do abastecimento municipal até 2040. Essa expansão seria mais econômica que a dessalinização e funcionaria como um “seguro” contra os impactos da crise climática.
Cada metro cúbico de água reaproveitada oferece três vantagens: recuperação de água limpa, aproveitamento de energia e nutrientes e redução da pressão sobre mananciais e poluição ambiental. Segundo o relatório, manter o modelo atual de descarte é insustentável; acelerar o reuso é essencial para garantir resiliência hídrica.
O estudo destaca experiências de sucesso em países como Cingapura, Estados Unidos e África do Sul, onde o reuso já é seguro e viável em grande escala. No Brasil, a iniciativa da Aquapolo Ambiental, fornecendo água de reuso para o Polo Petroquímico do ABC (SP), é citada como o maior projeto industrial do Hemisfério Sul. Márcio José, CEO da Aquapolo, ressalta:
“Não estamos falando de uma escolha para o futuro, mas de uma necessidade imediata. O Brasil já provou que o reuso industrial em larga escala é viável. Agora, é preciso replicar o modelo rapidamente, sob pena de comprometer a segurança hídrica da população.”
O Banco Mundial conclui que o mundo está diante de um ponto de virada. O reuso de água não pode mais ser tratado como medida complementar; precisa integrar políticas públicas, investimentos privados e estratégias de adaptação climática. Implementado com urgência, pode transformar água descartada em ativo estratégico, garantindo desenvolvimento econômico, proteção à vida e sustentabilidade hídrica para bilhões de pessoas.
Fonte: Portal do Agronegócio
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