Meio Ambiente

AGRO ainda patina em Políticas ‘Verdes’

Dados revelam baixa transparência de grandes empresas do setor sobre resultados de suas ações


Publicado em: 17/09/2021 às 18:20hs

AGRO ainda patina em Políticas ‘Verdes’

A maior parte dos principais produtores e tradings do mundo de commodities agrícolas consideradas “críticas” para o desmatamento já tem alguma meta para acabar com o problema em suas cadeias, mas, até o fim do ano passado, muitas ainda estavam distantes de parâmetros internacionais, e a maioria ainda pecava pela falta de transparência sobre o cumprimento dos objetivos. 

É o que revelam os dados da organização Global Canopy compilados anualmente no projeto Forest 500. De acordo com comparativo, no fim de 2020, apenas 13% das 76 empresas que lideram a produção ou comércio de carne bovina, palma e soja no mundo divulgavam a implementação de ações que representam ao menos metade das medidas estabelecidas por parâmetros internacionais. Além disso, 34% das companhias sequer possuíam compromissos ligados ao combate ao desmatamento. 

A Forest 500 também analisa empresas das cadeias de papel, couro e madeira, mas a reportagem selecionou as das cadeias de carne, palma e soja porque essas foram as três maiores responsáveis pelo desmatamento global entre 2001 e 2015, segundo o World Resources Institute (WRI). 

A análise feita a partir do Forest 500 considera as empresas que representam a maior parte do comércio de commodities agrícolas e se baseia em parâmetros internacionais como o Accountability Framework, um “guia” para a adoção de compromisso ambientais corporativos, que existe há dois anos. As companhias recebem notas conforme seus compromissos, o grau de divulgação e implementação de medidas e aspectos sociais. 

Na avaliação sobre a força dos compromissos ambientais, 27 das 76 empresas dessas cadeias ficaram com pontuação acima de 50% e 23 apareceram abaixo desse patamar. Outras 26 companhias não pontuaram, o que significa que elas não tinham meta alguma para acabar com o desmate em suas cadeias.

Transparência

No quesito transparência, 29 empresas não pontuaram, 37 tiveram pontuação abaixo de 50% e apenas dez delas (ou 13% do total) ficaram acima de 50%. Das que tiveram melhor desempenho, nove são dão cadeia de óleo de palma e respondem por cerca de 10% da produção global do óleo. A outra integrante do grupo é a brasileira Amaggi, que produz e vende em torno de 10 milhões de toneladas de soja ao ano. A empresa teve nota 67%, a maior entre as 76 analisadas. 

Por serem de 2020, os dados ainda não refletem metas anunciadas neste ano, como as de empresas de carne bovina. “Há tendência de melhora, mas o avanço não está ocorrendo rápido o suficiente”, afirma Sarah Rogerson, porta-voz da área de

desempenho corporativo da Global Canopy. Mesmo entre as empresas que têm metas e divulgam informações, ela avalia que ainda existem lacunas. “Geralmente há relatório, mas não quantificável. Falta transparência, com dados e volumes”. 

Em sua avaliação, outro problema é o direcionamento das ações a alguns biomas, e não a todos os ecossistemas impactados. “A implementação das medidas e as datas de corte [aceitáveis para a ocorrência de desmatamento] podem depender do bioma, mas é preciso haver compromisso em todo o fornecimento”, defende. 

A definição de uma data de corte até a qual o desmatamento legal é “aceitável” na cadeia é uma das principais polêmicas nas discussões com as empresas, diz Isabel Garcia, gerente do Imaflora, que ajuda o setor privado a implementar o Accountability Framework no Brasil. O guia recomenda que as empresas adotem uma data de corte equivalente ao ano de elaboração da política. Porém, as empresas vêm estabelecendo datas futuras. “Elas ainda estão calculando quantas sacas terão para a próxima safra”, afirma. 

Outro ponto crítico nas políticas corporativas são os compromissos com recuperação ambiental. “A indústria argumenta que não foi a culpada [pelo desmatamento]. Mas, se o setor privado não investir na recuperação, não se resolve o problema”, sustenta a gerente do Imaflora. Para ela, os anúncios de investimentos em regeneração feitos até agora ainda são “pequenos para o tamanho do problema” e precisam ganhar escala. 

Para Daniela Teston, da organização WWF-Brasil, as empresas já passaram por uma primeira fase, a de assumir compromissos globais, e estão atravessando uma segunda, de determinar e trabalhar para que as metas sejam implementadas. “Não tem mais desculpa para dizerem que não dá para fazer. Há desafios, mas existe uma curva de aprendizagem que já foi superada”. 

Ela acredita que as companhias precisam entrar agora em um terceiro momento, de “entregar produtos sem desmatamento no mercado”. Para isso, ela vê necessidade de “acordos verdes” com as empresas do varejo e garantias de compras sustentáveis. “Isso pode já existir, mas não temos isso documentado e quantificado”, explica.

Fonte: Grupo Idea

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