Meio Ambiente

Brasil tem potencial para liderar agropecuária sustentável, diz fundador da Clim-Eat

Dhanush Dinesh destaca escalabilidade e pesquisa como forças do país ante distanciamento dos EUA no clima


Publicado em: 06/11/2025 às 21:10hs

...

Dhanush Dinesh: Fundador e chief climate catalyst da Clim-Eat
Por: Diego Zerbato

O Brasil tem o potencial de liderar uma agropecuária mais sustentável no momento em que as mudanças climáticas ficam em segundo plano nos EUA e o apoio internacional diminui, afirma Dhanush Dinesh, fundador e chief climate catalyst da Clim-Eat, organização de defesa de uma agricultura climaticamente inteligente.

Para Dinesh, o país possui capacidade comprovada de desenvolvimento de pesquisas e de escalar mudanças rapidamente. Ele é um dos anfitriões da Global CSA Conference, evento preparatório para a COP30 organizado pela Clim-Eat, em colaboração com os ministérios da Agricultura do Brasil e dos Países Baixos e a UnB (Universidade de Brasília).

Veterano de nove COPs, Dinesh afirma que a conferência, que termina nesta sexta-feira, é o espaço para reunir as tecnologias e pesquisas desenvolvidas para mitigar os efeitos da agropecuária nas mudanças climáticas. Assim, será possível enviar soluções práticas para as discussões em Belém. “Queremos entrar nos detalhes”, disse. 

Que resultado podemos esperar deste evento? Qual é o resultado ideal que você gostaria de ver após esses 3 dias?

O principal resultado é levar algo específico para a COP30. Queríamos trazer pessoas para Brasília e tornar a COP mais acessível. É uma conferência científica, então é especialmente focada em pesquisa científica, mas também conectando com formuladores de políticas públicas e investidores. E juntos podemos alcançar o que chamamos de acordos. E essas são coisas concretas, para que possamos ir a Belém e dizer: "Ok, nos reunimos aqui em Brasília, podemos oferecer essas coisas".

Que mensagem você gostaria de levar para a COP30 em termos de Agricultura Climaticamente Inteligente? Existem expectativas de um resultado positivo?

Para mim, o termo Agricultura Climaticamente Inteligente não é importante. O que eu quero mostrar na COP30 é que temos soluções. Temos esses três temas, por exemplo, saúde do solo e nutrição de plantas. Sabemos que os fertilizantes representam 2% das emissões globais. Mas também temos muitas novas tecnologias e inovações para produzir fertilizantes de maneiras diferentes. Da mesma forma, olhamos para a próxima geração de culturas, que são mais resilientes, então quando a temperatura sobe, elas ainda podem ser manejadas. Mas também existem culturas, por exemplo, que podem colocar mais carbono no solo. E também há inovações científicas na pecuária. Existem aditivos que você pode dar para as vacas, e elas emitem menos.

Essas inovações são principalmente científicas. Mas na COP30, eles vão negociar sobre palavras e coisas assim. Então o que queremos fazer é dizer: aqui estão as soluções, muito concretamente. Essas são algumas opções. Aqui estão as pessoas trabalhando nisso. Aqui estão as pessoas dispostas a ajudá-lo a desenvolvê-las ainda mais. Então, aqui está a solução que você pode adotar.

Qual é o principal desafio que você vê para a Agricultura Climaticamente Inteligente ter um impacto real? Existem exemplos de possíveis soluções neste evento?

Trabalho no setor há mais de 10 anos e descobri que o sistema funciona para algumas pessoas. Todos temos comida, felizmente, a maioria de nós. E o sistema alimentar está funcionando. Mas funciona melhor para algumas pessoas do que para outras. O poder está concentrado em algum lugar, e os incentivos estão com algumas pessoas. Então, de alguma forma, precisamos mudar onde está o poder, onde estão os incentivos e onde está o dinheiro. E então as soluções vão escalar. É um pouco como a indústria de combustíveis fósseis. Eles ainda estão lá, o negócio deles é vender petróleo ou derivados, e eles vão continuar fazendo isso. E eles não têm incentivo para se afastar disso. Então, é o mesmo com a alimentação. Portanto, a única maneira de lidarmos com isso é desenvolver novos sistemas que cresçam o suficiente e competam com o antigo sistema.

No seu discurso de abertura, você mencionou os desafios do cenário geopolítico atual. Você vê o Brasil liderando o caminho em algumas dessas discussões?

O que tenho visto é que desde que o presidente Trump foi eleito, o cenário geopolítico mudou. As pessoas que tentam agir estão sendo penalizadas. Ninguém quer ir contra o presidente e prejudicar sua reputação. Então, vemos menos liderança desde que isso aconteceu. E também há menos dinheiro no sistema. O Reino Unido, a Alemanha, todas as grandes organizações de ajuda cortaram orçamentos também. Muitas ONGs dependiam desse dinheiro. É realmente desafiador fazer algo nesse espaço.

Acho que há muitas oportunidades para o Brasil mostrar liderança. É por isso que houve tanto interesse em Belém, porque a liderança não vai vir dos EUA ou de alguns dos grandes players tradicionais. Então, tem que haver uma nova liderança. Pode vir do Brasil, pode vir do grupo BRICS. Mas o Brasil também tem que mostrar essa liderança. Vimos muitos sinais, mas só depois da COP saberemos se o Brasil vai ter sucesso.

Quando você olha para países que fizeram isso bem, a Costa Rica é geralmente o melhor exemplo. Porque eles têm uma política de descarbonização, fizeram muito internamente. E mesmo sendo pequenos, são muito bons em defesa e na ONU, são muito influentes. Então, acho que diplomaticamente e domesticamente, eles são os líderes, eu diria. Na América Latina, talvez no mundo. Mas em escala, eles são tão pequenos. Então a questão é: você pode trazer esse tipo de pensamento da Costa Rica para uma escala maior, como Brasil, Índia ou China? Isso não aconteceu até agora. E se o Brasil fizesse isso, seria brilhante.

O Brasil é uma potência global na agricultura e nos negócios relacionados a ela. O que o Brasil tem a oferecer para a discussão global sobre Agricultura Climaticamente Inteligente?

O Brasil tem muito a oferecer. O Brasil tem o tipo de arquitetura que, se você quer fazer algo, pode fazer rapidamente e em grande escala. E há a expertise.

O Brasil tem capacidade de pesquisa interna; ele tem os mercados e sistemas para escalar rapidamente. Então, pode ser feita [mudança real, impacto]. Hoje, na conferência, eles mencionaram o ABC+. O Brasil está mostrando liderança, e acho que pode fazer ainda mais.

Fonte: Sherlock Communication

◄ Leia outras entrevistas