Pastagens

Pastagens irrigadas - parte I

Objetivos da irrigação de pastagens


Publicado em: 12/11/2019 às 00:00hs

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Nos últimos 119 anos os objetivos da irrigação da pastagem têm sido solucionar o problema da estacionalidade de produção de forragem; reduzir custos de produção e tempo de trabalho para alimentar o rebanho; obter maior retorno líquido na produção animal quando comparado aos sistemas que precisam usar forragens conservadas (silagens, pré-secados, fenos) e grãos; usar menor área para a produção animal (intensificação do uso da terra; usar águas residuárias e dejetos líquidos de animais.

As bases técnicas e econômicas para a produção animal em pastagem irrigada serão aqui descritas adotando a metodologia de perguntas e respostas baseadas nas principais dúvidas que têm sido manifestadas nos últimos 23 anos por aqueles que têm interesse nesta tecnologia.

Como decidir por irrigar ou não irrigar a pastagem?

A primeira e a mais importante medida que deve ser tomada por parte do pecuarista é a contratação de uma consultoria especializada em pastagens irrigadas. Esta consultoria deverá: conhecer as coordenadas geográficas da propriedade (latitude e longitude) e a altitude; estudar as condições climáticas da região onde a propriedade se localiza (índice pluviométrico, evapotranspiração real e potencial, balanço hídrico, temperaturas média, máxima e mínima, incidência de geadas etc.).

O técnico tem como fonte de informação sobre o clima a publicação do Departamento Nacional de Meteorologia (DNMET) que apresenta valores das normais climatológicas referentes ao período de 1961 a 1990 de 209 estações meteorológicas (atualmente são 394 estações) com médias históricas para nove parâmetros (atualmente são 29 parâmetros).

Saber sobre o solo

Deverá estudar os solos da região onde a propriedade se localiza (a classe dos solos, seu relevo, sua profundidade e drenagem, sua fertilidade, capacidade de retenção de água etc.) O técnico tem como fonte de informação o mapa de solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) que traz 42 classes de solos e suas associações. Identificada a classe de solo que predomina na região onde se encontra a propriedade basta ao técnico recorrer aos livros de solos e estudar as características daquela classe em questão. Para uma classificação criteriosa das classes de solos deverá abrir uma trincheira e ainda verificar se não há impedimentos para o crescimento do sistema radicular da planta forrageira. Depois deverá amostrar o solo na área em questão para a análise laboratorial.

Saber sobre os cursos de água

Deverá medir as vazões dos cursos de água da propriedade (córregos, rios, lagos, represas, etc.) no final da seca; ver nos órgãos estaduais ou federais de gestão de recursos hídricos se há outorga para uso da água naqueles cursos de água existentes na propriedade; saber se a energia é monofásica ou se é trifásica e os programas de tarifa verde; definir o sistema de irrigação; conhecer o mercado regional (preços de terras, alternativas de uso da terra, preços de venda dos produtos produzidos pelo pecuarista, linhas de financiamento com período de carência e prazo para pagamento, taxas de juros, etc.); conhecer o perfil da equipe da propriedade (o produtor e seus colaboradores).

Diagnóstico e projeto

Enfim, com todas estas informações e estes dados, a consultoria irá elaborar um diagnóstico e um projeto com viabilidades técnica e econômica da irrigação de pastagens naquela propriedade, para apresentar para o pecuarista.

Importância do planejamento

Pode parecer complexo, e é mesmo, entretanto, quanto mais tempo for dedicado à fase do planejamento, mais eficaz será a execução do projeto e a probabilidade de cometer erros e de perder dinheiro será significativamente minimizada.

Após o registro de todas as informações e dados do projeto, e a apresentação de um diagnóstico e um projeto com viabilidades técnica e econômica da irrigação, passa-se para a etapa de execução.

Sistemas de irrigação

Existem vários sistemas de irrigação, tais como os pivôs central e linear, a aspersão convencional com tubos superficiais, a aspersão em malha, o canhão auto propelido, a irrigação por inundação etc., mas os sistemas mais adotados com sucesso em pastagens no Brasil têm sido o pivô central (geralmente para áreas acima de 50 ha) e a aspersão em malha (geralmente para áreas menores que 50 hectares).

O valor do investimento também varia com uma série de fatores, tais como: o sistema de irrigação em si, o ponto de captação de água, a distância para levar a água até o ponto onde a irrigação será feita, se vai precisar instalar um sistema de energia trifásica ou não etc..

Amortização

Se todos os fatores aqui discutidos forem favoráveis e o programa for bem executado, em sistemas de produção de carne é possível o produtor já ter amortizado o investimento a partir do quarto ao sétimo ano após o início do funcionamento do sistema de irrigação.

Escolha da forrageira

É de extrema importância o esclarecimento a produtores e técnicos dos critérios para a escolha de uma espécie forrageira, critérios estes baseados cientificamente e validados tecnicamente em campo:

a) exigências climáticas;
b) exigências em solo;
c) comportamento frente a insetos pragas e a doenças;
d) aceitabilidade pelos animais;
e) distúrbios metabólicos causados aos animais;
f) formas de plantio;
g) formas de uso;
h) potencial de produção;
i) e qualidade de forragem.

Mas de fato as espécies forrageiras que mais têm sido cultivadas em pastagens irrigadas no Brasil são as dos gêneros Brachiaria sp: B. brizantha cultivares Marandu (capim-braquiarão) e Xaraés (ou MG5), B. decumbens e B. hibrida cultivar Convert HD364; Cynodon sp: coastcross (no início da década de noventa), tiftons 68 e 85, capim-vaquero; Panicum maximum cultivares Mombaça e Tanzânia e Pennisetum purpureum – capim-elefante (na década de noventa).

Quando a propriedade se localiza em regiões de baixas, latitude e altitude as diferenças de estacionalidade de produção de forragem entre as espécies forrageiras são mínimas, por outro lado em condições opostas o capim-tifton 85 tem apresentado a melhor distribuição da produção de forragem ao longo das estações do ano, comportamento fundamental em sistemas de pastagens irrigadas.

Estabelecimento da pastagem

Existe alguma diferença no estabelecimento de uma pastagem irrigada? Não, a não ser a possibilidade de se estabelecer a pastagem em qualquer estação do ano em função da irrigação do solo. Um programa de estabelecimento de uma pastagem deve ser dividido em etapas. Cada etapa tem uma época mais adequada para ser executada em uma dada região. Além disso, cada etapa deve ser seguida com procedimentos padrões para serem executados, de forma a garantir o sucesso da execução ao executor do programa, independentemente se a pastagem será ou não irrigada. As etapas básicas para o estabelecimento da pastagem:

a) escolha da área;
b) medida e mapeamento da área;
c) amostragem de solo para análise;
d) estudo das condições ambientais da região - clima, solos, insetos pragas e doenças;
e) escolha das espécies forrageiras;
f) planejamento do programa de estabelecimento da pastagem;
g) execução do programa: limpeza do terreno; correção e preparo do solo; aquisição de sementes e de mudas; métodos de semeadura ou de plantio por mudas; época de plantio e condições climáticas para o plantio; cobertura de sementes e de mudas; adubação de plantio;

Adilson de Paula Almeida Aguiar - Zootecnista, professor de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia e de Forragicultura e de Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.

Fonte: Scot Consultoria

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