Nutrição

Nutrição do cavalo atleta

Os equinos há muito tempo atrás, foram empregados em diversos trabalhos, nas mais diversas condições e muitas vezes em condições extremamente árduas


Publicado em: 03/01/2014 às 01:00hs

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É fundamental respeitar os limites do cavalo e conhecer suas origens para evitar erros de manejo, treinamento e nutrição. Existe uma variedade de raças que estão envolvidas com diferentes modalidades esportivas, como o Quarto de Milha, Puro Sangue Inglês (PSI), Árabe, em várias modalidades como Corridas, Enduro, Salto, Concurso Completo de Equitação, Adestramento, Tambor, Baliza, Polo entre outras.

Quando se institui um programa de nutrição deve-se buscar o equilíbrio entre o requerimento nutricional, que varia de acordo com o peso, idade, tipo e intensidade do esforço físico realizado e a disponibilidade de nutrientes presentes nos alimentos concentrados, volumoso e suplementos.

As exigências nutricionais dos equinos são compostas por dois fatores: as exigências de mantença mais àquelas para as atividades físicas. Essas exigências são aditivas e ambas devem ser preenchidas com o objetivo do animal manter o peso, condição corporal e boa saúde, assim como em animais de produção, o desbalanço entre nutrientes pode levar a um baixo desempenho.

Em seu ambiente natural os cavalos se movimentam e passam de 70% do tempo pastando de maneira que consomem porções reduzidas de alimentos várias vezes ao dia, já que o estômago é proporcionalmente pequeno em relação ao seu tamanho, tendo um abito de pastejo de 12 a 14 horas por dia o que se difere dos animais mantidos em baias, que tem um abito alimentar de 2 a 4 horas por dia. Os cavalos em seus antepassados podiam selecionar a alimentação que melhor respondia as suas necessidades, porem hoje com os animais estabulados à alimentação é totalmente imposta. Por isso é importante que seja alimentado em pequenas frações dividas no período do dia em no mínimo dois ou três vezes ao dia.

Com nutrição adequada o cavalo provou ter melhora ao trabalho e em seu desempenho atlético. O cavalo de esporte hoje proporciona resultados impressionantes e cada vez mais melhora o seu desempenho recebendo alimentação, métodos de treinamento e suplementação adequados em cada modalidade ou fase da jornada atlética. Para todas as intensidades de esforços, velocidades e duração dos exercícios os cavalos, cavaleiros e veterinários por eles responsáveis devem aplicar técnicas de fisiologia dos exercícios, para isso, é importante que a fisiologia muscular esta intrínseca a raça e ao tipo de esporte escolhido para o cavalo.

Com isso a base de treinamento está relacionada à prova em que o cavalo está apto a realizar. Seja ela uma prova de “explosão”, onde há registros de animais que atingiram velocidades superiores a 90 km/h em corridas de 400 metros ou até mesmo provas de resistência como enduro onde, por exemplo, percorrem cerca de 120 quilômetros e podem ser completados em menos de 10 horas, com recordes de velocidade superiores a 22 km/h.

A base fisiológica ou via metabólica para cada tipo de exercício é diferente, tendo assim a necessidade de um acompanhamento nutricional e de treinamento específico para cada modalidade. Uma suplementação nutricional balanceada é, portanto, altamente recomendada para cavalos atletas, contribuindo com cerca de 50% das necessidades nutricionais diárias de cada elemento.

É importantíssimo que inicialmente seja suprida as mínimas necessidades para as exigências de manutenção do cavalo, onde  nos cavalos atletas devemos oferecer-lhe como forma de complementos de uma alimentação adequada ao seu tipo de exercício, para que possamos atingir os níveis energéticos, proteicos e minerais suficientes para suprir as suas exigências atléticas. As necessidades energéticas são as mais importantes, pois é a base fundamental para um bom desempenho esportivo. O fornecimento adequado de energia é importantíssimo onde às fontes facilmente assimiláveis pelo cavalo são melhores, ou seja, as que não gastam muita energia para serem aproveitadas. A quantidade de energia a ser fornecida é variável, dependendo principalmente da quantidade e tipo de esforço a que o cavalo é submetido. Em animais de esforço intenso, as neces­sidades energéticas podem dobrar em relação à manutenção.

A tradicional substituição de forra­gens por concentrados aumenta o risco de certas doenças e distúrbios digestivos nos equinos. Estes riscos podem ser reduzidos com o uso de óleos (extrato etéreo) substituindo em parte carboi­dratos de rápida fermentação (exemplo: milho). Caso a quantidade de concen­trado não seja suficiente para o cavalo desempenhar a função desejada, deve-se utilizar uma ração mais energética, mas jamais o concentrado deverá ultrapassar os 50% da dieta, estando sob risco de cólica.

Rações com alta energia têm a grande vantagem de serem oferecidas em menor quantidade, assim favorecendo o fornecimento de volumoso de alta qualidade, o que evita uma sobrecarga gástrica e intestinal. Além de aumentar o desempenho atlé­tico, diminui a produção de ácido lático e com isso a incidência de problemas musculares.  A utilização de uma dieta muito rica em energia aumenta também as necessidades vitamínicas do cavalo que já estão elevadas pelo exercício físico exigido. O excesso de energia na dieta impede por exemplo a absorção de Magnésio, responsável pelo relaxamento da musculatura podendo assim o cavalo pode sofre problema muscular como a rabdomiolise.

As proteínas têm várias funções impor­tantes, mas quando em excesso prejudi­cam a desempenho atlético. É importante demonstrar que as necessidades proteicas dos cavalos atletas são menores quando comparadas ás necessidades de cavalos em fase cresci­mento, reprodução e lactação. E que só utilizam a proteína como fonte energética, quando passam por processo de privação alimentar, onde se faz uso da vai de neoglicogénese muscular, para a obtenção mínima de energia para a manutenção fisiológica.

Naturalmente um cavalo adulto precisa de uma dieta que contenha de 8 a 12% de proteína, o que é facilmente obtido pelos hábitos variados de pastejo, porém algumas gramíneas podem não atingir este índice, necessitando assim da adição de leguminosas, como a alfafa, por exemplo, que pode conter de 13 a 23% de proteína. As necessidades proteicas são importantes no que tange o desenvolvimento e a conformação do animal, porém perdem sua importância com a chegada do animal a idade adulta. A alimentação do cavalo atleta é baseada no fornecimento de energia e não de proteína. O teor proteico jamais deve ultrapassar 14% na dieta. A utilização de fenos de gramíneas, com teores de proteína de cerca de 9 a 11%, além de mais barata, é mais saudável para o animal. A utilização de proteína na dieta deve ser composta por duas fontes sendo elas volumoso a sua principal fonte e concentrado como uma fonte segundaria na complementação da dieta.

Porem os cavalos destinados as provas de “explosão” necessitam de fontes proteicas de alto valor biológico, assim como os aminoácidos de cadeira ramificada, que compõem cerca de 35% da constituição de aminoácidos nos músculos. Em prática de exercícios intensos, o organismo entra em um estado altamente catabólico (quando há queima de proteínas dos músculos para suprir a necessidade energética). Dentro do grupo dos aminoácidos componentes das proteínas, existem a Lisina e Metionina que também são considerados essenciais ao cavalo, à razão por eles serem considerados essenciais é porque o corpo não é capaz de sintetizá-los e são necessários para o funcionamento normal do organismo. Igualmente ocorre dentro do grupo dos ácidos graxos que compõem a gordura, com os ômegas 3 e 6  que não são sintetizados pelo organismo, mas são essenciais para o seu funciona­mento.

A creatina é uma substância ergogênica fisiológica que também pode ser utilizada para aumenta a disponibilidade de energia no organismo. Como principais benefícios, podemos citar a melhora no desempenho em cavalos de esporte, aumento de massa muscular, neutralização de ácidos prejudiciais produzidos pelo organismo, dentre outros. O aumento no desempenho dos equinos ocorre porque a creatina pode fornecer energia rapidamente e como consequência retardando o acúmulo de ácido lático e íons de H+. Isto faz com que o animal obtenha recuperação muscular antecipada após a realização de esforço físico. Este mecanismo é também pode ser observado a administração diária do mineral cromo, na suplementação mineral do animal.

A suplementação de minerais deve ser fornecida à vontade em cocho saleiro, pois a exigência mineral pode variar de forma individual e deve ser reposta assim que o cavalo tiver necessidade. Para cavalos atletas o importante é suplementar os eletrólitos perdidos no suor (cloro, sódio, potássio, cálcio e magnésio). O sal mineral complementa a deficiência da pastagem, que se difere nas deficiências de acordo com a região do Brasil e suas diferentes pastagens impostas. É de suma importância a suplementação dos animais em treinamentos e provas. Os minerais são importantes para a eficiência metabólica, assim como, para o aproveitamento energético e do alimento, para saúde dos tendões, cascos, articulações, musculatura, circulação e respiração.

Um ponto muito importante e que parece simples é o fornecimento da água, mas a sua deficiência, ou baixa ingestão é prejudicial ao desempenho e saúde do cavalo que pode perder toda a sua gordura corporal e metade de sua proteína ainda se mantendo vivo, porém se perder 15% de sua reserva hídrica pode ser fatal.

A melhor maneira de evitar problemas e melhorar o potencial do seu cavalo e instituir um programa nutricional conforme a necessidades específicas tais como: raça, idade, modalidade esportiva. Assim maximizando os seus resultados.

Enfim, devemos considerar que um cavalo atleta é um animal frágil, cujo desempenho e bem-estar são dependentes das habilidades de seu treinador, mas também do aconselhamento do veterinário e da apropriada nutrição e suplementação.

Thiago Centini é graduado em Medicina Veterinária pela Universidade de Franca (UNIFRAN); Mestre em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo (USP) com tese em efeito da suplementação dietética com ácidos graxos ômegas 3 e 6 sobre a composição do colostro e leite de éguas e transferência imunitária para os potros e Coordenador de Equinos da Premix. Além disso, possui diversas publicações em anais de eventos, capítulo de livro, artigo em periódico e participação de bancas de comissões julgadoras do Centro Universitário de Rio Preto.

Fonte: Mapa Comunicação

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