Publicado em: 07/02/2022 às 19:20hs
No entanto, essa condição não tem sido suficiente para que as usinas sucroalcooleiras do Brasil avancem de forma significativa na fixação dos valores de exportação do produto que começarão a produzir e exportar na safra que começa daqui dois meses (2022/23).
Em seu levantamento mais recente, a Archer Consulting estimou que, até o fim de dezembro passado, 52,5% do açúcar a ser exportado na próxima temporada estava com preços travados, com valor médio de R$ 2.143 a tonelada - a projeção parte do princípio de que serão embarcadas 25 milhões de toneladas. Esse nível de fixação já era menor que o registrado em dezembro de 2020, quando 69% do açúcar a ser exportado na safra seguinte (2021/22) estava com preços contratados - e por um valor médio inferior, de R$ 1.589 a tonelada.
As justificativas para a aparente cautela passam por um otimismo com o ciclo das commodities em geral e do açúcar em particular, pelas incertezas sobre a próxima safra brasileira e até pelo "trauma" causado pela recente elevação dos custos, que mordeu a margem de quem havia se antecipado no hedge da safra passada.
No mês passado, o ritmo de fixações de preço avançou pouco. Arnaldo Corrêa, sócio da Archer, estima que cerca de 60% das exportações da próxima temporada estejam com preços travados, parcela ainda bem inferior à registrada há mais de um ano. A trading Czarnikow, que também estima o nível de fixações com base em seu grupo de clientes, afirma que pouco mais de 60% do açúcar está hedgeado, um avanço de 3 pontos percentuais em um mês. Mais de um ano atrás, a fatia era de mais de 75%.
O leve recuo dos preços internacionais do açúcar em janeiro e a valorização do real ajudaram a frear o apetite pelo hedge no último mês, segundo Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, diretor comercial da Usina Alta Mogiana. "As usinas costumam vender quando a trajetória do preço está subindo e são mais reticentes num movimento de baixa", diz.
Apesar da recente desvalorização do açúcar, poucas vezes na última década seus preços estiveram tão altos: em apenas 1% das vezes o valor do açúcar em reais esteve mais elevado do que agora, de acordo com cálculos da consultoria FG/A, que desconta tendências e ganhos produtivos da série histórica. Para Juliano Merlotto, sócio da consultoria, não faz sentido as usinas não estarem avançando no hedge. "Se as usinas avançaram lá atrás, por que não o fazem agora?", questiona.
Algumas usinas acreditam que o início da moagem de cana vai atrasar na próxima safra, o que, se caso se confirme, provocará um aperto imediato na oferta e sustentará os preços, acredita Gustavo Segantini, diretor comercial da francesa Tereos. "Se chover, atrapalha o início da moagem, e se não chover, as usinas podem decidir esperar para o canavial desenvolver mais", diz. A expectativa no mercado é que as atividades começarão com mais força entre a segunda metade de abril e o início de maio, um mês depois do habitual.
Ainda que as chuvas surpreendam e turbinem a produtividade, há receio com a área a ser colhida. "O que aconteceu em 2021, com seca, geadas e queimadas, danificou o solo. Esperamos que precise aumentar [o plantio para] renovação", afirma Lívea Coda, analista da consultoria hEDGEpoint. Figueiredo, da Alta Mogiana, lembra ainda que a cana continua perdendo área para a soja.
Outro motivo para a cautela é a perspectiva para o petróleo. Em meio a projeções de que o fóssil passe de US$ 100 o barril, as usinas podem estar querendo deixar uma parcela maior de sua cana descomprometida para migrar para o etanol caso ele recupere sua competitividade no Brasil, avalia Catarina Junqueira, analista da Czarnikow.
O câmbio é outro bode na sala, e as apostas para o rumo do dólar são tão variadas quanto a exposição que as usinas têm de sua dívida à moeda americana. Um usineiro do Sudeste, que preferiu não ser identificado, acredita que o dólar ainda pode cair a R$ 5. Na Tereos, o cenário atual é de que o câmbio oscilará entre R$ 5,20 e R$ 5,70.
Fonte: AGÊNCIA UDOP
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