Setor Sucroalcooleiro

StoneX projeta superávit global e estoques recordes de açúcar em 2025/26

Excedente mundial pode alcançar 3,7 milhões de toneladas, reforçando tendência de queda nos preços


Publicado em: 26/11/2025 às 19:20hs

StoneX projeta superávit global e estoques recordes de açúcar em 2025/26

A consultoria internacional StoneX divulgou sua terceira revisão do balanço global de açúcar para a safra 2025/26 (outubro a setembro), com destaque para a projeção de um superávit de 3,7 milhões de toneladas, o maior desde o ciclo 2017/18. Segundo o levantamento, os estoques mundiais devem crescer 5%, atingindo 77,3 milhões de toneladas, o que eleva a relação estoque/uso para 39,9%, patamar próximo à média histórica das últimas duas décadas.

Esse aumento na disponibilidade global reforça o cenário de pressão baixista sobre os preços internacionais. Entre setembro e outubro, os contratos futuros do açúcar em Nova York ficaram abaixo de US¢ 16/lb, caindo ainda mais para a faixa dos US¢ 15/lb em novembro.

Consumo desacelera e reduz ritmo das importações

De acordo com o analista de Inteligência de Mercado da StoneX, Marcelo Di Bonifácio, o recuo nas cotações está diretamente ligado ao ritmo mais lento das importações globais.

“Mesmo com déficit em 2024/25, muitos países reduziram as compras externas e passaram a consumir estoques internos, o que vem sustentando a trajetória de queda dos preços”, destacou o especialista.

Além disso, a demanda global por açúcar está abaixo das expectativas iniciais. A consultoria ajustou a previsão de consumo para 193,8 milhões de toneladas em 2025/26, crescimento anual de apenas 0,5%. Os cortes foram influenciados, principalmente, pela China e pela Índia, que reduziram suas estimativas de consumo interno.

Índia inicia safra com moagem acelerada e amplia produção

Na Índia, a safra 2025/26 teve início em novembro com ritmo mais intenso. Até o momento, 325 usinas já iniciaram a colheita — mais que o dobro do número registrado no mesmo período do ano anterior. Foram processadas 12,8 milhões de toneladas de cana, gerando 1,05 milhão de toneladas de açúcar, um avanço de 47% em relação ao ciclo anterior.

A ISMA (Associação Indiana das Usinas de Açúcar e Bioenergia) projeta produção de 34,9 milhões de toneladas antes do desvio para etanol, que deve alcançar 3,4 milhões de toneladas. Já a StoneX revisou a estimativa total para 35,8 milhões de toneladas, com 32,3 milhões de toneladas destinadas à produção de açúcar branco — um crescimento de 24% sobre o ciclo anterior.

“A entrada desse açúcar no mercado global adiciona uma oferta relevante em um momento de consumo mais fraco, reforçando o cenário de pressão sobre os preços”, explica Di Bonifácio.

Tailândia e Ásia impulsionam oferta global

A Tailândia deve iniciar sua safra entre 1º e 11 de dezembro, após um período de chuvas 7% acima da média histórica nas principais regiões produtoras. No total, a produção asiática deve ultrapassar 80 milhões de toneladas em 2025/26, ficando próxima do recorde de 81 milhões de toneladas registrado em 2021/22.

Europa enfrenta redução na área plantada e queda na produção

Apesar da melhora na produtividade agrícola, a produção de açúcar na Europa deve recuar nesta safra. A principal razão é a redução da área cultivada, resultado das dificuldades econômicas do setor diante da baixa remuneração no mercado interno.

Além disso, o aumento das importações — impulsionado por acordos comerciais, como o firmado com a Ucrânia — tem pressionado os preços domésticos. O possível avanço do acordo entre União Europeia e Mercosul também gera apreensão entre os produtores europeus, que temem novos impactos sobre a rentabilidade no médio e longo prazos.

América mantém equilíbrio, com ajustes no Brasil, México e EUA

Para o Centro-Sul do Brasil, a StoneX revisou a projeção da safra 2026/27 (abril a março), ajustando o mix açucareiro de 51,3% para 50,6%. A mudança reflete expectativas mais modestas para a oferta de etanol de milho e a recente queda nos preços do açúcar, o que pode favorecer o biocombustível.

No México, a CONADESUCA estima produção de 5,3 milhões de toneladas em 2025/26, alinhada à recuperação esperada após o desempenho mais fraco de 2024/25. A StoneX, no entanto, mantém projeção ligeiramente menor, em 5,1 milhões de toneladas.

Nos Estados Unidos, a produção deve se manter próxima de 8,5 milhões de toneladas, mas o consumo segue em declínio, influenciado pela mudança nos hábitos alimentares e pelo avanço de medicamentos como o Ozempic, que reduzem o apetite por alimentos açucarados.

Trade flow global e perspectivas para 2026

A revisão da StoneX também alterou as projeções para o trade flow global de açúcar. Grandes importadores, como Indonésia e China, devem reduzir compras no início de 2026, diminuindo o risco de déficit no período.

No Brasil, o impacto dessas revisões deve ser limitado no curto prazo, afetando o fluxo comercial apenas no terceiro trimestre de 2026, em volumes pequenos diante do superávit projetado de mais de 1,3 milhão de toneladas.

Mercado entra em 2026 com estoques elevados e menor liquidez

O cenário global indica um período de maior oferta e menor demanda, o que tende a manter os preços internacionais em patamares mais baixos. Para o analista da StoneX, a evolução das safras no Hemisfério Norte e as condições climáticas no Centro-Sul brasileiro até março serão fatores decisivos para o equilíbrio do mercado.

“O volume de chuvas na entressafra do Brasil e o desempenho das lavouras na Índia e Tailândia definirão o comportamento dos preços e o ritmo de exportações nos próximos meses”, conclui Di Bonifácio.

Fonte: Portal do Agronegócio

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