Publicado em: 25/03/2014 às 14:10hs
Mato Grosso do Sul está entre os cinco maiores estados em moagem de cana e ocupa 3ª posição em produção de etanol hidratado e 4ª em etanol total. “Apesar dos bons números, o setor perde diante da ausência de políticas públicas que definam o papel do etanol na matriz de combustíveis líquidos e o da biomassa na matriz de energia elétrica”, destacou o diretor de agronegócios do Itaú BBA, Alexandre Figliolino, durante o 2º Canacentro, realizado em Campo Grande (MS).
Figliolino afirma que, em 2012, o prejuízo resultante da não paridade com os preços internacionais, causado pela importação da gasolina, foi da ordem de R$ 1,6 bilhão. Em 2013, esse prejuízo foi de R$ 1,24 bilhão. Para 2014, a perda estimada é de R$ 2,9 bilhões. Apesar desse quadro, a oferta de bioeletricidade de bagaço de cana tem crescido ao longo dos últimos anos, porém muito abaixo do potencial, reflexo dos leilões mais antigos. O preço médio da venda de energia elétrica para biomassa tem caído ao longo do tempo, apesar de leve recuperação nos últimos leilões.
O cenário apresentado desencadeia no setor perdas de investimentos e instalação de novas empresas. “A conta de combustíveis líquidos e energia uma hora vai chegar ao consumidor, e a falta de investimentos na produção de energia limpa pode gerar efeitos muitos danosos no futuro”, comenta o diretor, ressaltando que se o governo investisse na produção de energia de biomassa, haveria maior competitividade para o segmento.
Outro entrave para o setor, principalmente em Mato Grosso do Sul, é o logístico. O Estado fica distante dos principais portos. De acordo com levantamento da Bloomberg, o custo do transporte de açúcar até o porto de Santos pode chegar a R$ 143,00 por tonelada em MS, tendo como ponto de partida o município de Naviraí. Em Ribeirão Preto (SP) o esse valor fica R$ 59,00 mais barato, chegando a R$ 84,00, devido a sua localização geográfica.
Apesar dos entraves, MS apresenta fatores que contribuem positivamente para o setor, como áreas de tamanhos bons; custo de arrendamento mais baixo, havendo forte ocupação dos campos de pastagem (apesar da competição com grãos ser forte em algumas áreas); bons ambientes de produção, com boa produtividade agrícola; unidades modernas, com boa recuperação industrial e cogeração de energia de biomassa. Outro fator positivo são os preços valorizados do açúcar no mercado internacional, com taxa de câmbio positiva para negociações.
O professor da Universidade de São Paulo (USP) e engenheiro agrônomo, Marcos Fava Neves, também ministrou palestra no 2º Canacentro e falou sobre as ações necessárias para a competitividade da produção e industrialização da cana-de-açúcar. Segundo o especialista, mesmo com todos os entraves, as energias renováveis devem continuar ganhando espaço. Apesar disso, o controle de preço dos combustíveis é o principal gargalo que o Governo Federal impõe, brecando a concorrência com o etanol.
Fava Neves destaca que a diversificação deve ser melhorada no Brasil, citando a produção de cana como alternativa. “O melhor para uma região é ter uma diversificação saudável”, enfatiza, afirmando que é possível produzir determinadas atividades sem diminuir outras, como a produção de grãos, fazendo com que haja um crescimento sustentável do setor.
Debate
Com o objetivo de atingir 50% do consumo da frota flex com etanol em 2020, 60% de participação do mercado mundial de açúcar e gerar 15% da eletricidade consumida no Brasil dentro de 6 anos, foi realizado um debate para a elaboração de uma carta, com considerações do evento.
Coordenado por Fava Neves, o debate contou com a participação de Roberto Hollanda Filho, presidente da Biosul; Luis Alberto Moraes Novaes, presidente da Fundação MS eda comissão de agroenergia da Famasul - Federação de Agricultura e Pecuária de MS; Paulo Junqueira Filho, presidente da Sulcanas; André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético; Enio Jaime Junior, presidente da Comissão Nacional de cana-de-açúcar da CNA; Ismael Pereira Junior, da ORPLANA e Jorge dos Santos, Diretor executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso.
O principal assunto discutido foi a intensificação das agendas dos setores público e privado. Entre as propostas voltadas para o setor público estão o incentivo de novas usinas em regiões sensíveis do Brasil para o desenvolvimento econômico, fortalecimento de linhas de crédito para áreas agrícolas de cana e irrigação, programa de recuperação financeira para usinas, melhorias logísticas, entre outras. Já para o setor privado, foram destacados: o trabalho conjunto para se atingir escala nos novos módulos para mecanização, investimentos industriais para mais flexibilidade, melhorias nas estratégias de comercialização de etanol, fortalecimento de cooperativas, entre outros. A apresentação da carta finalizada deve ser feita nesta sexta-feira, último dia do evento.
Fonte: Rural Centro
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