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Mudança da Coca-Cola para açúcar de cana nos EUA seria cara e prejudicial para agricultores locais

Especialistas apontam dificuldades e impactos econômicos da substituição do xarope de milho pelo açúcar de cana na indústria de bebidas


Publicado em: 18/07/2025 às 11:45hs

Mudança da Coca-Cola para açúcar de cana nos EUA seria cara e prejudicial para agricultores locais
Foto: Istockphoto
Proposta de adoçante em bebidas dos EUA reacende debate

Uma possível iniciativa da Coca-Cola e de outras empresas de alimentos e bebidas para substituir o xarope de milho por açúcar de cana como adoçante nos Estados Unidos enfrenta desafios significativos. Além dos custos elevados, a mudança pode prejudicar os agricultores norte-americanos.

O presidente Donald Trump anunciou que a Coca-Cola teria concordado em usar açúcar de cana em suas bebidas nos EUA, após conversas com a empresa. O movimento conta com o apoio da campanha social Make America Healthy Again (MAHA) e do Secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., que defendem adoçantes mais naturais.

Situação atual do mercado e oferta da Coca-Cola

Atualmente, a Coca-Cola já comercializa sua bebida adoçada com açúcar de cana em mercados como o México, e algumas versões “mexicanas” são vendidas nos EUA em garrafas de vidro.

Em resposta ao anúncio, a Coca-Cola afirmou que “mais detalhes sobre novas ofertas inovadoras serão divulgados em breve”. A PepsiCo também indicou que consideraria usar açúcar em suas bebidas, caso haja demanda dos consumidores.

Desafios na mudança do adoçante e impacto nos custos

Especialistas alertam que substituir o xarope de milho por açúcar de cana envolveria ajustes profundos nas cadeias de suprimentos das empresas, já que esses adoçantes vêm de fontes distintas, implicando mudanças na rotulagem e aumento nos custos.

Ron Sterk, editor da SOSland Publishing, explica que o xarope de milho é mais barato e amplamente usado na indústria devido a seu custo-benefício, destacando diferenças técnicas na formulação para bebidas e produtos de panificação.

Consequências econômicas para agricultores e indústrias

A Corn Refiners Association (CRA) alerta que eliminar completamente o uso do xarope de milho reduziria o preço do milho em até 34 centavos de dólar por bushel, causando uma perda de US$ 5,1 bilhões em receitas agrícolas.

Essa queda impactaria empregos rurais e geraria consequências econômicas graves para comunidades agrícolas dos EUA.

Produção e mercado dos adoçantes nos EUA

Empresas como Archer-Daniels-Midland (ADM) e Ingredion são grandes produtoras de xarope de milho com alto teor de frutose (HFCS), usando milho do cinturão agrícola do Meio-Oeste para fabricar adoçantes e etanol.

A analista Heather Jones destaca que, se a Coca-Cola migrar totalmente para o açúcar de cana, os custos adicionais podem ultrapassar US$ 1 bilhão, dada a diferença de preço e a provável alta no valor do açúcar.

Impacto na demanda por milho e no comércio de açúcar

Para cada libra de HFCS produzida, são usadas cerca de 2,5 libras de milho, de modo que a redução do uso do xarope afetaria negativamente os agricultores de milho, ao mesmo tempo em que aumentaria a demanda por açúcar de cana.

Como a produção interna de açúcar nos EUA é insuficiente para atender à demanda, as importações, principalmente do Brasil — o maior produtor mundial —, seriam necessárias.

Déficit de açúcar e barreiras comerciais

Os EUA produzem cerca de 3,6 milhões de toneladas de açúcar de cana anualmente, metade na Flórida, estado natal de Trump, enquanto a produção de xarope de milho é quase o dobro.

Porém, as tarifas comerciais impostas pelo governo Trump ao Brasil, como a recente tarifa de 50% sobre importações, dificultam o aumento das importações brasileiras de açúcar para suprir esse déficit, complicando ainda mais o cenário.

Fonte: Portal do Agronegócio

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