Publicado em: 05/08/2014 às 15:20hs
Nos últimos cinco anos, as agroindústrias somam investimentos de mais de R$ 10 bilhões em um leque diversificado de projetos, direta ou indiretamente ligados ao campo. A maior parte das indústrias em implantação no estado está sendo enquadrada no programa Paraná Competitivo, que concede benefícios fiscais no pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Cerca de um terço dos protocolos para adesão ao programa tem relação com a cadeia agropecuária, apontam dados da Secretaria da Indústria, do Comércio e de Assuntos do Mercosul (Seim). Considerando apenas municípios que estão recebendo investimentos acima de R$ 50 milhões, há cerca de 30 projetos ligados ao campo.
Novos investimentos - A onda de novos investimentos foi beneficiada pela maior disponibilidade de crédito, mas também é uma estratégia para ampliar a renda, explica o coordenador técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra. “Há uma demanda crescente por alimentos processados em todo o mundo, fato que, aliado à abertura de novos mercados, viabiliza as indústrias”, diz.
Interior - Para o diretor de pesquisas do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Júlio Suzuki, os municípios do interior tendem a ser beneficiados nessa nova leva de investimentos. “Os espaços em grandes centros como Curitiba estão se esgotando, gerando um interesse maior por outras áreas”, pontua.
Protagonistas - Regiões como os Campos Gerais são protagonistas nessa nova onda de expansão. Em Ponta Grossa e Castro, os investimentos somam R$ 3 bilhões. Também está na região o maior projeto industrial em construção do estado, com custo estimado em R$ 6,8 bilhões: a nova fábrica da Klabin, do ramo de papel e celulose. A unidade está sendo instalada em Ortigueira e deverá ser concluída em 2016, criando mais de 1,4 mil empregos. Outro investimento de peso está sendo feito pela Ambev, numa fábrica de bebidas de R$ 580 milhões que promete elevar a demanda por cevada e trigo.
Em operação - Parte das indústrias já está em operação, como é o caso da biorrefinaria para processamento de milho da norte-americana Cargill. A estrutura foi inaugurada em fevereiro, em Castro, ao custo de R$ 500 milhões, e deve atrair outras quatro empresas para a região, demandando entre 400 mil e 500 mil toneladas do milho por ano.
Moinho de trigo - Outra unidade recém-inaugurada é fruto da parceria das cooperativas Capal, Batavo e Castrolanda. Ao custo de R$ 60 milhões, o trio construiu um moinho de trigo às margens da BR-376, em Ponta Grossa. A operação foi iniciada no começo de junho e a capacidade inicial de processamento é de 120 mil toneladas de trigo por ano. A meta, contudo, é dobrar esse volume, com um investimento complementar de R$ 25 milhões. O mesmo grupo também articula a construção de um frigorífico de suínos, com capacidade para abater 2,3 mil animais por dia, ao custo de R$ 100 milhões.
Usina de leite - Isso poucos anos depois da inauguração das usinas de beneficiamento de leite da Castrolanda (R$ 95 milhões, 2008) e da Batavo (R$ 60 milhões, 2013), que elevaram o faturamento individual das cooperativas para além de R$ 1 bilhão. A Castrolanda investiu ainda R$ 15 milhões em uma planta de beneficiamento de feijão (2013).
Terceira onda - Turra, da Ocepar, lembra que essa é a terceira onda de investimentos em agroindustrialização no Paraná. A primeira ocorreu nos anos 1970, quando o foco era apenas o esmagamento de grãos. Na segunda leva, nas décadas de 1980 e 1990, o foco era agregar valor à produção de regiões mais afastadas do Porto de Paranaguá. “Nessa época começou a indústria do frango, principalmente no Oeste do Paraná”, pontua. O terceiro ciclo começou ainda nos anos 1990, quando praticamente todas as áreas agrícolas do estado foram ocupadas, e ocorre até hoje, complementa.
Demanda reprimida - Na avaliação dos especialistas, contudo, ainda há espaço para o Paraná crescer mais. “Tem muita matéria-prima de qualidade que ainda acaba sendo direcionada para outros polos industriais, como São Paulo, que também estão investindo”, aponta Suzuki, do Ipardes.
Investimentos - Para o secretário estadual da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul, Horácio Monteschio, isso exige investimentos também dos municípios que almejam receber novas indústrias. “Há um descompasso entre o que é feito e o que pode ser melhorado. É preciso investir em infraestrutura e qualificação de mão de obra, além de ter disponibilidade de áreas que possam ser cedidas às novas indústrias”, afirma.
Projetos geram salto nos empregos - A implantação de novas indústrias promete fartura de empregos nos Campos Gerais do Paraná. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) indicam que, entre janeiro de 2012 e maio de 2014, a indústria de transformação ampliou em 6,25% o número de vagas, registrando desempenho superior à média estadual (5,93%). Atualmente são cerca de 40 mil postos de trabalho. Essa expansão está diretamente atrelada à construção de novas fábricas na região, sinaliza o economista da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Roberto Zurcher.
Frutos - No passado a região já colheu os frutos da expansão industrial. Dados relativos à região Centro-Oriental do Paraná – que abrange os Campos Gerais – mostram que entre 2001 e 2011 a contribuição da indústria ao Produto Interno Bruto (PIB) do bloco cresceu 140%, para R$ 3,6 bilhões. Em paralelo, a receita gerada pela atividade agropecuária saltou 239%, para R$ 1,9 bilhão, conforme a estatística mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Crescimento - “A agroindústria foi importantíssima para o crescimento da região. E a expansão não deve parar por aí, já que os municípios estão se qualificando para receber novos investidores”, pontua o prefeito de Carambeí e presidente da Associação de Municípios dos Campos Gerais (AMCG), Osmar Blum.
Logística privilegiada impulsiona região - Uma das regiões que mais sentem a terceira onda de agroindustrialização, os Campos Gerais têm a logística como principal aliada. Além de contarem com ferrovia e rodovias duplicadas, possuem a vantagem de estarem a 200 quilômetros do Porto de Paranaguá. Os próprios investimentos industriais inspiram um salto em infraestrutura, com benefício reverso para o agronegócio, avalia o setor.
Agronegócio - Concessionária responsável pelas principais rodovias da região (BR-376 e PR-151) a CCR Rodonorte calcula que 70% do tráfego comercial nas duas estradas está relacionado ao agronegócio. A soja detém a participação mais expressiva no total de cargas que circulam na região, com 18% do volume movimentado. O escoamento pelas duas vias começa a receber novo impulso já neste ano, com o início das obras de duplicação de aproximadamente 280 quilômetros nos trechos de Ponta Grossa a Apucarana e de Jaguariaíva a Piraí do Sul.
Novo panorama - As obras seguem até 2018, mas o setor já assimila um novo panorama. A PR-151 vem sendo chamada de Rodovia do Leite, como ocorreu com a BR-376, conhecida como Rodovia do Café desde meados do século passado.
Fonte: Gazeta do Povo
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