Nutrição Animal

Aditivos fitogênicos e a inibição do Quorum Sensing: Uma ferramenta inovadora para compor programas de uso racional de antimicrobianos na suinocultura

A resistência aos antimicrobianos e a disseminação de microrganismos super-resistentes é uma das maiores ameaças para a saúde pública global


Publicado em: 13/09/2021 às 08:20hs

...

Atualmente, o intenso uso de diferentes moléculas para combater infecções pela medicina humana e na prática veterinária, favoreceu o desenvolvimento de microrganismos multirresistentes, criando uma preocupação sem precedentes em termos de saúde pública. Por esta razão, esse fato é uma das prioridades na agenda da Organização Mundial de Saúde (OMS), a qual vem alertando sobre a necessidade de controle da disseminação de bactérias resistentes, assim como, vem encorajando a busca por tratamentos alternativos.

Quando o tema é suinocultura, sabe-se que a produção bem-sucedida desses animais e a redução racional do uso de antimicrobianos requer práticas avançadas de manejo e biossegurança, gerenciamento preciso da propriedade, além de uma abordagem holística sobre a saúde do rebanho. Para tanto, um dos grupos de substâncias que vem se demonstrado bastante promissor em estudos científicos e na realidade de campo são os aditivos fitogênicos.

Fitogênicos, fitoquímicos ou fitobióticos são aqueles aditivos para ração compostos por uma mistura padronizada de extratos naturais provenientes de plantas. Estas preparações possuem propriedades e efeitos biológicos diversos, tais como: ações antiinflamatórias, antifúngicas, antivirais e antioxidantes. Normalmente, são classificados em sete grandes grupos, de acordo com a origem botânica dos princípios bioativos: óleos essenciais, flavonóides, taninos, substâncias pungentes, mucilagens e substâncias amargas. 

Estes aditivos já eram comumente utilizados na nutrição de suínos, dado ao seu potencial de incrementar o consumo de alimento, melhorar a digestibilidade dos nutrientes, ter um reconhecido efeito antioxidante e anti-inflamatório, além de melhorar a saúde intestinal dos animais. Paralelamente, novas pesquisas demonstraram que os aditivos fitogênicos podem ser poderosos aliados também na composição de programas para a redução do uso de antimicrobianos, pois apresentam comprovada eficácia quanto ao controle de microrganismos patogênicos a partir da inibição do Quorum Sensing. 

Quorum Sensing (QS) é um mecanismo de comunicação entre bactérias por meio da secreção extracelular e identificação de sinalizadores químicos, a qual é dependente da densidade de microrganismos no ambiente. Este mecanismo é frequentemente descrito como a linguagem das bactérias, sendo uma ferramenta utilizada para que “conversem” entre membros da mesma espécie, outras espécies e até mesmo com seus hospedeiros. Esse sistema de comunicação coordena o comportamento dos microrganismos e regula a expressão de genes de diferentes tipos de fatores de virulência, tais como: fatores de fixação, fímbrias, produção de toxinas, etc. 

Com o avanço da biologia molecular, tornou-se possível pesquisar e entender a dinâmica das comunidades bacterianas e suas estratégias de defesa. A maioria dos microrganismos vivem em uma estrutura complexa chamada de biofilme. A competição por nutrientes e outros fatores de crescimento é um componente relevante para o desenvolvimento dessa estrutura. Após se estabelecerem no hospedeiro, as bactérias patogênicas iniciam seu processo de multiplicação e comunicação pela excreção de sinalizadores. À medida em que as populações bacterianas atingem um determinado número de indivíduos (ou quorum em latim) de mesma espécie neste ambiente, a concentração de sinalizadores secretados neste ambiente também aumentará, proporcionalmente. A partir de uma determinada concentração destes, receptores específicos presentes na membrana celular das bactérias desencadeiam um estímulo intracelular para iniciar a expressão de genes associados a fatores de virulência, como por exemplo, invadir as células da mucosa intestinal do hospedeiro.

Os aditivos fitogênicos têm apresentado resultados científicos consistentes como agentes inibidores desse mecanismo de patogenicidade. Recentes estudos demonstram que estes compostos atuam atenuando o sistema de comunicação do QS por diferentes vias: 

  • Inibição da expressão e/ou síntese de moléculas que sinalizam o QS;
  • Pela degradação dos sinais indutores extracelulares no ambiente; 
  • Interrupção ou tamponamento dos receptores proteicos de QS na membrana das bactérias. 

Um detalhe importante a ressaltar é que a inibição do QS não provoca a morte das bactérias, mas bloqueia a expressão de genes, tornando estes patógenos menos nocivos, ou mesmo, mais susceptíveis às respostas imunes do hospedeiro. Uma das principais vantagens é que essa abordagem causa mínimos impactos no perfil populacional da microbiota autóctone do animal, de maneira a reduzir os riscos de diarreias provocadas pelo desequilíbrio desta microbiota (as chamadas “disbioses”), bem como, prevenindo o desenvolvimento de resistência bacteriana aos próprios compostos fitogênicos. 

Mediante ao exposto, conclui-se que os aditivos fitogênicos proferem vastas propriedades benéficas aos animais, entre elas a inibição do mecanismo de QS, permitindo sua utilização de maneira estratégica em programas de redução do uso de antibióticos promotores de crescimento, preventivos e/ou terapêuticos na suinocultura. Dessa forma, os aditivos fitogênicos devem ser considerados pelos produtores como sendo importante ferramenta para corroborar com os esforços de mitigar o desenvolvimento de bactérias resistentes.

Mauro Augusto dos Santos - Médico Veterinário e Consultor - Técnico América Latina na Cargill

Fonte: Cargill

◄ Leia outros artigos